A melhor definição sobre o Cancer Center de Guarapuava é construção coletiva. O complexo especializado em oncologia reúne um Hospital do Câncer, a Radioterapia, a Quimioterapia e o Instituto para a Pesquisa do Câncer (IPEC), e é fruto do empenho de autoridades de todos os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), das três esferas da administração pública (federal, estadual e municipal) e do engajamento da academia e de setores da sociedade civil organizada.
O Cancer Center será administrado pelo Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, de Guarapuava, e pelo Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, referência nacional para o tratamento dessa doença.
O prédio que reúne os laboratórios de pesquisa genética e as cabines para a quimioterapia foi inaugurado nesta semana. A ala de atendimento ocupa o térreo do edifício. Foram entregues seis leitos de observação, sala de emergência e cinco consultórios. No primeiro andar ficam as instalações do IPEC, cuja missão é desenvolver pesquisa genômica e oferecer formação em medicina de precisão.
O hospital e a radioterapia estão em construção. O primeiro será destinado ao atendimento de pacientes moderados e graves e terá 100 leitos, sendo 20 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além de um centro cirúrgico. A radioterapia é inédita em Guarapuava e responde uma demanda antiga da população.
“O Cancer Center será referência imediata para vinte municípios da região central do Estado, que somam população de mais de 500 mil pessoas. Mas, além disso, essa estrutura servirá como exemplo em pesquisa para todo o País”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “Guarapuava criou um centro de excelência médica para ajudar a sociedade a combater e estudar essa doença”.
O Governo do Estado já investiu cerca de R$ 20 milhões nesse complexo por meio da Secretaria de Estado da Saúde. Há, ainda, um aporte de R$ 11,5 milhões sendo negociado para tomografia. Os recursos aplicados desde 2018 se somam a investimentos do governo federal, de emendas parlamentares (Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa), da prefeitura de Guarapuava, da Câmara Municipal e do setor privado.
“O Paraná é referência nacional no tratamento de câncer e esse investimento ajuda a ampliar a oferta especializada perto da casa das pessoas, ainda mais diante de uma luta tão pesada como essa”, acrescenta o secretário estadual de Saúde, Beto Preto. “A previsão é ter tudo em funcionamento a partir do ano que vem. É um dos projetos mais ambiciosos da saúde pública do Estado”.
O complexo responde a uma necessidade de primeira ordem da região Central do Estado, que é a ausência de uma estrutura robusta contra o câncer. “A ideia é preencher um vazio de atendimento na região. Aqueles pacientes que dependem de radioterapia têm que se deslocar até Curitiba ou Cascavel, uma viagem de seis horas entre ida e volta”, explica o prefeito César Silvestri Filho. “É uma doença muito indesejada, de tratamento difícil, precisávamos mudar essa realidade”.
O PROJETO – O Cancer Center foi concebido aos poucos. A ideia original previa ampliação do atendimento de quimioterapia do Hospital São Vicente de Paulo – instituição de grande porte que atende cerca de dez mil pacientes por mês em todas as especialidades e 1,2 mil pacientes com câncer –, e a construção de uma nova ala para radioterapia depois da conquista de equipamentos com o governo federal. Mas o que nasceu no Centro como rascunho de modernização logo migrou para a Cidade dos Lagos a fim de ocupar mais espaço.
Em 2008 o ex-deputado federal Cezar Silvestri conseguiu R$ 12 milhões do Ministério da Saúde para iniciar a construção desse centro de radioterapia. Nessa mesma época o município foi contemplado com um acelerador linear dentro de um programa federal de expansão da oferta de equipamentos para tratamento contra o câncer. O prédio original do Vicente de Paulo é de 1913 e já não havia como contemplar tamanha ousadia.
O final da década passada e o começo desta também marcam a entrada do empresário Odacir Antonelli em cena. Ele é o presidente do Conselho Gestor do Cancer Center, grupo encarregado de colocar de pé as obras, e foi o responsável pela doação do terreno no megabairro que reúne o Hospital Regional de Guarapuava, recém-inaugurado, um shopping, um campus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e, futuramente, prédios executivos e outras clínicas médicas particulares.
Nesse ínterim, médicos do Vicente de Paulo, liderados pelo cirurgião e professor David Livingston, se articularam com os provedores da unidade, autoridades, setor privado, a Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava (ACIG) e a Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) para a criação de um instituto de pesquisa sobre o câncer. A ideia é de 2012, mas ele foi oficializado apenas em 2019.
E o que era uma ampliação mais tímida, ainda que extremamente fundamental, virou um grande complexo com quatro especialidades conectadas em dois prédios. Isso porque além da radioterapia, da ampliação da quimioterapia e do IPEC, os provedores do Hospital São Vicente de Paulo resolveram investir em um novo Hospital do Câncer.
Para Huberto José Limberger, provedor do São Vicente de Paulo, “meio sonho” já foi realizado. “Ainda precisamos de uns R$ 90 milhões para terminar todo o projeto do Cancer Center, com equipamentos e toda a estrutura necessária para atendimento aos nossos cidadãos. Mas esse é um projeto grandioso e que ficará como legado para a saúde pública do Paraná”, afirma. “Inauguramos uma parte nesta semana e estamos investindo em bom ritmo na nova etapa”.
HOSPITAL DO CÂNCER/RADIOTERAPIA – As obras no prédio do Hospital do Câncer atingiram 60% mais ou menos no mesmo instante em que o Hospital Regional de Guarapuava, a apenas um quilômetro de distância, era inaugurado para atendimento emergencial contra a Covid-19, no começo de julho. A empresa que venceu a licitação é a mesma que construiu o Hospital do Rocio, de Campo Largo.
O prédio fica exatamente ao lado do Instituto para a Pesquisa do Câncer e é um retângulo de desenho irregular com um jardim interno e seis pavimentos. Os dois maiores lados dessa estrutura reúnem 100 leitos, sendo 20 para diagnósticos mais severos (UTI), além do centro cirúrgico com seis salas aparelhadas. Ele fica localizado em uma área de 17 mil metros quadrados que conta, ainda, com estacionamento amplo.
Nesse espaço também ocorrem as obras da implantação da radioterapia, que vai ocupar uma área de 776 metros quadrados, com capacidade para atender 70 pessoas por dia.
QUIMIOTERAPIA – O ambulatório de quimioterapia já foi liberado. Ele conta com vinte poltronas em cabines individualizadas com televisores, seis leitos de observação, sala de emergência, cinco consultórios, cabine de biossegurança para manipulação de quimioterápicos, entre outros equipamentos.
INSTITUTO – O Instituto para a Pesquisa do Câncer é uma iniciativa inédita no Paraná e já começou a reunir profissionais. Ele conta com um sequenciador que custou R$ 7 milhões, um dos melhores aparelhos à disposição de cientistas no Brasil. O IPEC tem como missão desenvolver pesquisa básica e aplicada voltada ao diagnóstico, prognóstico e tratamento do câncer e doenças de base genética, além de promover a formação especializado em medicina de precisão.
O instituto foi criado para ser uma plataforma de pesquisa genômica com corpo técnico e clínico especializado, capaz de trabalhar com amplo portfólio de testes genéticos, com equipamentos e metodologias de última geração. Ele atuará em diferentes áreas, como oncogenética, neurogenética, cardiogenética e doenças raras.
Ele mal nasceu formalmente, mas já estabeleceu parcerias nacionais e internacionais para o desenvolvimento de pesquisas, que incluem a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP/USP), Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Universidade de Illinois (UIC – USA) e Universidade de Calgary (Canadá).
“O instituto de pesquisa é tão grande que demoraremos a dimensionar o seu tamanho. Ele vai transformar a vida das pessoas. Os médicos e cientistas uniram num mesmo complexo formação e ciência aplicada”, afirma o secretário Beto Preto.
Enquanto ainda se estruturava completamente, o instituto foi peça fundamental na criação da Rede Genômica que envolve cerca de 100 pesquisadores de diferentes instituições para estudar a Covid-19. São doze instituições do Estado participantes, incluindo todas universidades estaduais.
Os cientistas estão desenvolvendo um estudo pioneiro no Brasil e na América Latina sobre as manifestações clínicas da doença em diferentes tipos de pacientes. Serão analisados o comportamento da Covid-19 em infectados com quadro clínico grave e mantidos na UTI com ventilação pulmonar; pacientes com quadro clínico moderado, internados na enfermaria; aqueles que se recuperaram sem a necessidade de transferência para a UTI; além de cidadãos com quadro clínico leve ou assintomáticos.
Segundo o prefeito de Guarapuava, o investimento em pesquisa tornará o Cancer Center referência nacional no assunto. “Guarapuava tem o mais moderno centro de pesquisa do Interior do Brasil. O município será um polo de saúde e tecnologia com dois hospitais (Regional e do Câncer), o instituto de pesquisa, a radioterapia e todo um arcabouço acadêmico conectato”, diz César Silvestri Filho. “Estamos colocando de pé um grande centro de prestação de serviço e inovação”.
“O Instituto é uma iniciativa pioneira da fusão de entidades da própria comunidade, visando construir algo em prol de pesquisa e do ensino de qualidade. Está conectado a um Hospital do Câncer, mas não vai estudar apenas o câncer. Ele ajudará a fortalecer, por exemplo, o setor agropecuário com metodologias genômicas para pesquisas e aplicações diversas”, arremata o médico e coordenador do Departamento de Medicina da Unicentro, David Livingstone. “O objetivo é apoiar a sociedade”.
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Hospital Regional de Guarapuava foi inaugurado neste mês
Foi inaugurado no começo do mês o Hospital Regional de Guarapuava, um dos três que tiveram as obras antecipadas pelo Governo do Estado, também em parceria com o Erasto Gaertner. Foram colocadas à disposição da população 20 UTIs e 60 leitos de enfermaria para atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS) exclusivos para pacientes de Covid-19. Mas após a pandemia provocada pelo novo coronavírus a estrutura atuará como referência para Urgência e Emergência, com perfil direcionado à ortopedia e trauma, cirurgia geral e clínica médica.
A área de atendimento foi isolada para que as obras de implantação da segunda fase do Hospital Regional não sejam interrompidas. Quando concluídas, a capacidade total do centro médico será de 30 leitos de UTI adulto e 80 leitos de enfermaria clínica. Ou seja, em um raio de um quilômetro a população da região central terá acesso, se necessário, a 200 leitos no Regional e na unidade especializada em câncer.
O investimento total por parte do Governo do Estado foi de R$ 115,4 milhões. O projeto começou a sair do papel em 2015, mas foi retomado apenas no primeiro semestre de 2019. Foram investidos R$ 61,7 milhões na construção da edificação, com recursos do Fundo Estadual da Saúde. Outros R$ 30,4 milhões foram usados na compra de equipamentos.
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