O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) está integrado à campanha de prevenção e combate a incêndios florestais lançada em maio pelo Governo do Estado por meio do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná) e Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE). Desenvolvida pelo Simepar com softwares livres, o VFogo é uma plataforma de vigilância de incêndios e focos de calor, situados no tempo (horário) e no espaço, combinando dados estáticos e dinâmicos provenientes de tecnologias geográficas e de sensoriamento remoto.
O VFogo reúne três tecnologias convergentes de uso crescente nas ciências ambientais: sensoriamento remoto por satélites de alta resolução temporal e espacial, ambiente de processamento de alto volume de dados geoespaciais em diferentes formatos (Big Data) e modelos matemáticos de análise e aprendizagem construídos a partir de técnicas de inteligência artificial.
Ele combina diversas camadas de informações em interface webgeo com suas funcionalidades: escala, zoom e pan, entre outras. No subsistema de focos de calor, a relação de ocorrências fica disponível por alguns dias, indicando a fonte, data, hora, latitude e longitude. O subsistema de análise estatística apresenta gráficos do monitoramento diário.
Os dados são captados das imagens dos satélites Terra, Aqua, Goes 16, NPP e NOAA-20. As diferentes resoluções espaciais e temporais possibilitam monitorar tanto grandes extensões territoriais quanto áreas específicas. São acompanhadas as mudanças no uso e na cobertura do solo, as faixas de servidão, relevo e vegetação do entorno. Além dos mapas, o sistema conta com bancos de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O VFogo exibe as imagens de uma mesma área sob a perspectiva de diferentes composições. A composição “visível” ou “true color” permite a identificação de fumaça. A composição “infravermelho” destaca os incêndios. A composição “fusion” é uma combinação de ambas. Uma máscara de luminosidade aplicada às imagens noturnas evidencia os possíveis incêndios.
O sistema indica ainda o tipo de vegetação que está queimando: florestas, arbustos, pastagens e agricultura, por exemplo. Os dados dinâmicos são atualizados por rotinas automatizadas a cada cinco minutos, realçando as áreas em que as temperaturas estão altas. Essas informações ajudam a alimentar o Corpo de Bombeiros, que consegue atuar de maneira mais célere diante de incêndios florestais, dentro do escopo da operação Quati João.
Segundo o coordenador de Inovação do Simepar, Flávio Deppe, essa ferramenta identifica um incêndio praticamente em tempo real. “Do início ao fim, é possível acompanhar a direção, o sentido e a intensidade da ocorrência, com precisão sobre quando e onde começou, sua evolução, propagação e extinção. O sistema auxilia processos de tomada de decisão para a gestão em ambientes naturais, estruturas de transmissão de energia, empreendimentos de reflorestamento, áreas urbanas e entornos”, explica.
“Historicamente, a época mais propícia a eventos dessa natureza é o inverno, devido à baixa umidade característica da estação, mas muitos casos são registrados em outubro e novembro”, afirma o coordenador de Operação do Simepar, Marco Jusevicius. Segundo ele, a falta de chuva pode ou não estar associada à alta temperatura: “Com ignição, mesmo no frio, o incêndio se propaga, sendo também influencia do pela intensidade do vento”, explica.
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ÍNDICES – O sistema avalia os riscos dos incêndios florestais aos ambientes naturais e às estruturas do sistema elétrico, gerando índices de intensidade de calor. Diariamente o Simepar processa o índice FMA (Fórmula Monte Alegre), que adota uma escala de cinco classes de riscos: nulo, baixo, médio, alto e muito alto. Para tanto, são consideradas as seguintes variáveis: umidade do ar, temperatura, velocidade do vento e quantidade de dias sem chuva em todo o Estado do Paraná.
O Índice de Propagação de Incêndios (IPI) calcula a probabilidade de ocorrência de incêndios sob linhas de transmissão. Ele é gerado a partir de dados de temperatura, umidade do ar e chuva coletados por estações meteorológicas, FMA, vegetação, declividade do terreno, altimetria, orientação das encostas, densidade demográfica, sistema viário, hidrografia, material combustível e seu grau de umidade.
“O Simepar reúne competências no campo das ciências atmosféricas e ambientais, da computação científica e matemática aplicada, empregando intensivamente as novas tecnologias em prol da gestão ambiental”, destaca o diretor da instituição, Eduardo Alvim Leite.
O monitoramento é ininterrupto. No âmbito do Estado do Paraná, são monitorados mais de duzentos mananciais e oito linhas de transmissão de energia elétrica. Além disso, estão incluídas as Reservas Particulares de Patrimônio Natural definidas pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), como o Parque Nacional da Ilha Grande, em Guaíra. Em âmbito nacional, são monitoradas várias linhas de transmissão, entre as quais Tucuruí (Pará), Sobradinho (Bahia), Xingu-Terminal Rio e Xingu Estreito (Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais).
As informações geradas pela plataforma VFogo são analisadas pelos meteorologistas do Simepar, que produzem avisos e alertas operacionais também à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com essas informações, os gestores podem adotar medidas para controlar o fogo, evitar ou reduzir os seus efeitos. Os riscos também são comentados na página do Simepar na seção “Palavra do Meteorologista”.
No setor elétrico, as informações são utilizadas para gerenciar as perturbações nas linhas de transmissão e possíveis interrupções no fornecimento. Entre as providências estão desvios de carga, despacho de energia elétrica e combate físico ao incêndio por meio das equipes de campo.
INVERNO – De acordo com o Corpo de Bombeiros, uma média de 7 mil casos de incêndios florestais são atendidos por ano no Paraná. Junho, julho, agosto e setembro são os meses com mais ocorrências devido à vegetação mais seca, baixa umidade do ar e estiagem. São fatores que facilitam a propagação das chamas, principalmente nos dias após a ocorrência de geada.