Projetos desenvolvidos pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) vêm fortalecendo a atividade produtiva da apicultura, a partir da capacitação técnica de produtores rurais. Com foco em boas práticas apícolas, as iniciativas contemplam a produção e o beneficiamento de mel e derivados, em conformidade com os padrões sanitários.
Lançado há dez anos pela Unicentro, o Projeto Imbituvão contribui para o fomento da produção de mel no munícipio de Fernandes Pinheiro, no Centro-Sul paranaense. Desde o início, a ação soma recursos financeiros da ordem de R$ 3,5 milhões, viabilizados pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por meio do Fundo Paraná. Desse montante, R$ 1 milhão foi direcionado para custeio de 53 bolsas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado.
Segundo o coordenador da ação, professor Afonso Figueiredo Filho, do Departamento de Engenharia Florestal do campus da Unicentro em Irati, o projeto consiste em desenvolver estratégias para o manejo florestal sustentável em pequenas propriedades rurais.
“O objetivo é propor alternativas de recuperação e enriquecimento de reserva legal com produtos madeireiros e não madeireiros, buscando sustentabilidade em sistema de cooperativismo”, explica.
Os pesquisadores desenvolvem estudos em vários segmentos produtivos, sendo a apicultura uma das atividades abrangidas. Especificamente nessa área, o projeto resultou na organização e no fortalecimento da Associação de Apicultores e Meliponicultores de Fernandes Pinheiro (Amfepi).
“Auxiliamos na captação de recursos para a construçãode uma unidade de beneficiamento de mel e aquisição de equipamentos apícolas necessários para a atividade”, destaca o professor.
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A unidade de beneficiamento de mel foi projetada conforme os padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para obtenção do Selo de Inspeção Federal (SIF).
No ano passado, a Amfepi foi credenciada no Programa Compra Direta Paraná, da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, que destina produtos da agricultura familiar para restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos e hospitais filantrópicos.
“Esse credenciamento possibilitou a comercialização de 210 quilos de mel produzidos pelos apicultores assistidos pelo projeto, confirmando a contribuição dessa atividade produtiva para a geração de trabalho e renda e permanência do homem no campo”, salienta o professor Afonso.
Na próxima etapa, além de capacitação sobre a instalação e o manejo de colmeias, também serão distribuídos (em comodato) mais melgueiras (caixas de abelhas) e conjuntos de vestimenta (macacão, luva e fumigador) para os produtores rurais.
Vinculado ao Laboratório de Manejo Florestal da Unicentro, o Projeto Imbituvão reúne engenheiros florestais, biólogos e geógrafos, na modalidade de bolsistas recém-formados, além de estudantes da graduação e da pós-graduação, com bolsas de apoio técnico, ligadas ao manejo das pequenas propriedades rurais.
DESENVOLVIMENTO – A região Centro-Sul do Paraná se caracteriza por um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que justifica a inserção de projetos das universidades estaduais para fomentar as potencialidades e contribuir com o processo de desenvolvimento sustentável local ou regional. A ideia é promover capacitação técnica para transformar as condições atuais, objetivando melhores IDHs e competitividade econômica.
No município de Fernandes Pinheiro, por exemplo, o IDH-M é de 0,645, classificado na posição 363, entre os 399 municípios paranaenses, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Esse IDH é inferior aos do Paraná e do Brasil, que são de 0,749 e 0,765, respectivamente, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
MELIPONICULTURA – Entre os segmentos beneficiados pelas iniciativas das universidades estaduais, a meliponicultura corresponde à criação de abelhas sem ferrão, também chamadas de meliponíneos. Nessa modalidade (quando criadas em cativeiro), as colmeias são organizadas em caixas pequenas, demandando menos espaço e esforço físico.
Apesar de registrar produtividade mais baixa, em comparação a outras colônias de abelhas, o mel produzido por essa espécie contém 10% menos açúcar.
O mel da abelha sem ferrão também apresenta características distintas: alguns são mais viscosos e doces, enquanto outros são mais líquidos e azedos. Essa variedade agrega valor ao alimento, cujos preços, no varejo, podem oscilar entre R$ 30 e R$ 100 por litro. Essa espécie não oferece risco às pessoas e pode ser manejada em áreas urbanas.
SAÚDE – Na região Norte do Paraná, o Centro de Ciências Agrárias da UEL desenvolve dois projetos de pesquisa com foco na inovação e no desenvolvimento tecnológico de produtos apícolas. As ações abrangem a proteção e preservação ambiental, o aproveitamento da biodiversidade e o melhoramento da agricultura, assim como a qualificação técnica de produtores.
A coordenadora das iniciativas científicas, professora Wilma Aparecida Spinosa, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UEL, aponta características medicinais e sensoriais do mel de abelha sem ferrão, o que tem ampliado o interesse pela meliponicultura em comunidades rurais e no próprio mercado de alimentos. O produto já é procurado por consumidores, principalmente pelos efeitos terapêuticos.
“Considerado um ingrediente brasileiro, esse mel é conhecido por proporcionar benefícios à saúde humana, atribuídos a propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes. Por isso, diversos estudos investigam a composição nutricional e físico-química do mel de abelha sem ferrão, identificando compostos terapeuticamente ativos e demonstrando os benefícios para a saúde, a partir do consumo regular do produto”, pontua a pesquisadora.
Ela também destaca a importância do levantamento de dados relativos ao mel produzido por meliponíneos para aprimorar a cadeia produtiva e favorecer o desenvolvimento de novos produtos a partir do mel de abelha sem ferrão.
“A alta gastronomia valoriza muito sabores regionais, exóticos e produtos inovadores, o que demonstra um potencial de consumo desse mel de abelha sem ferrão”, afirma, destacando que o Brasil dispõe de grande diversidade desse tipo de abelha, com mais de 200 espécies distribuídas em todo o território.
Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os projetos envolvem 19 pesquisadores – são 10 de graduação e nove de pós-graduação (cinco de mestrado e quatro de doutorado).
LIDERANÇA – Em 2015, o Paraná assumiu a primeira posição na produção nacional de mel, com aproximadamente 6,29 mil toneladas produzidas, conforme dados do IBGE. O Estado possui em torno de 15% da produção de todo o Brasil, com mais de 20 mil colmeias cadastradas em cerca de 2 mil meliponários (conjunto de colmeias).
A estimativa é que a produção do mel de abelha sem ferrão, em todo o País, ainda seja dez vezes menor que a produção do mel de abelha da espécie Apismelífera, evidenciando o potencial dessa atividade produtiva.