A falta de testes para diagnóstico do novo coronavírus marcou o início da pandemia no Brasil, em março de 2020. Nesta data, a startup curitibana Hilab já estava nas fases finais de aprovação de seu novo produto: um teste rápido para detectar a Covid-19 que pode ser realizado em qualquer farmácia equipada pelo laboratório portátil fabricado pela empresa. O teste rapidamente se popularizou e, hoje, o equipamento permite dois diferentes tipos de teste para identificar o coronavírus, além de outros 31 exames com resultados em até 30 minutos.
A história da Hilab começou há mais de uma década, em 2004, dentro do Intec, a Incubadora Tecnológica do Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), desenvolvendo oxímetros de pulso. Mesmo assim, foi o contexto de pandemia que criou um ambiente propício para que ela concretizasse sua principal missão: democratizar a saúde.
Isso se deu através de diversas parcerias que a empresa firmou para levar os testes cada vez mais longe, facilitando o acesso à testagem até nos lugares mais distantes ou isolados.
Atualmente, mais de mil cidades em todos os Estados contam com o equipamento – o que faz com que 50% da população brasileira viva a menos de seis quilômetros de um Hilab. Foram mais de 2,5 milhões de testes feitos em 2020, número que a empresa almeja triplicar em 2021. Para isso, passou de 100 para 343 colaboradores em pouco mais de um ano.
“Testamos indígenas, policiais, pessoas privadas de liberdade, CEOs e investidores de startups, moradores de comunidades humildes, idosos, crianças. A ideia de usar a mesma tecnologia para todas as pessoas, da mesma maneira, concretiza nossa utopia de saúde igual para todos”, conta Marcus Figueredo, CEO da Hilab.
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A Hilab é uma das startups paranaenses que ganharam projeção nacional durante a pandemia. Segundo o último mapeamento do Sebrae/PR, publicado em fevereiro de 2021, o Estado concentra 1.434 startups em 87 cidades – duas delas, Ebanx e MadeiraMadeira, já atingiram o status de unicórnios (empresas cujo valor de mercado já ultrapassa US$ 1 bilhão).
Os setores com maior presença são agricultura e saúde. No entanto, também ganharam bastante projeção durante a pandemia as startups que fornecem tecnologias para a digitalização de empresas, processo que se provou essencial para o período de isolamento social.
As empresas são apenas a ponta do iceberg do ecossistema paranaense de inovação, formado pela chamada tríplice hélice: iniciativa privada, universidades e poder público. Mesmo com os reflexos da pandemia no mercado de trabalho e na arrecadação estadual, o Governo do Paraná segue incentivando o desenvolvimento de novas conexões entre mentes inovadoras e a economia formal.
As principais iniciativas passam por editais lançados por meio da Fundação Araucária, com apoio das Superintendências de Inovação e Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e têm o objetivo de apoiar os pequenos empreendedores em projetos que incorporem novas tecnologias.
O investimento mais recente envolve R$ 2,5 milhões em recursos estaduais e federais em programas como o Sinapse da Inovação, Startup Match, Centelha e a chamada referente ao Sistema de Inovação do Sudoeste.
MENTALIDADE INOVADORA – Parte da iniciativa também passa pela internalização da inovação e o incentivo à mentalidade inovadora dos paranaenses. Além de todas as atualizações em gestão pública, com estímulo à desburocratização, protocolos virtuais e acesso a serviços básicos na palma da mão, cerca de 65 mil alunos da rede estadual terão aulas de programação neste ano. Os cursos gratuitos do EduTech passam por games, ciência de dados, programação front-end, desenvolvimento mobile e programação em JavaScript.
Henrique Domakoski, superintendente de Inovação do Estado, indica que os impactos econômicos e sociais de um ecossistema de inovação cada vez mais consolidado são imensuráveis. “Estamos falando de empregos qualificados, capacidade de reinventar o mercado de trabalho, integração entre universidades públicas e privadas, revolução tecnológica no campo. O Governo do Paraná soube identificar esses potenciais e está trabalhando há quase dois anos e meio para estimular novos negócios”, afirma.
Segundo o diretor da Agência de Inovação Tecnológica (Aintec) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Edson Miura, o Estado e algumas administrações municipais proporcionam acesso a recursos financeiros e acompanham de perto o desenvolvimento das organizações. “Há concorrência, contrapartidas, etapas, parcerias. É um fator preponderante para o crescimento de qualidade de vida dos municípios, aumento de empregabilidade, soluções tecnológicas e novas pesquisas”, acrescenta.
A ideia dessas políticas públicas horizontais e com teias em todas as secretarias é apoiar um mercado em franca expansão. O mapeamento de startups do Sebrae/PR mostra que entre 2019 e 2020 mais de 400 startups foram criadas no Estado, 39% a mais em relação ao estudo realizado antes da pandemia. O levantamento mostra que 20,8% recebem recursos de investidores externos, mais de 50% estão em estágio de validação, e um quinto têm mulheres como fundadoras.
Por mais que a região de Curitiba assegure o primeiro lugar no topo em número de startups mapeadas, com 444, mais de dois terços das empresas não estão na Capital. As dez cidades com cenário mais dinâmico são Curitiba (422), Londrina (180), Pato Branco (126), Maringá (105), Cascavel (89), Ponta Grossa (76), Foz do Iguaçu (42), Dois Vizinhos (37), Francisco Beltrão (37) e Campo Mourão (35).
Márcia Beatriz Cavalcante, líder de Inovação Aberta da Celepar, afirma que os polos regionais diversificados são preponderantes para um Paraná cada vez mais competitivo e inovador. Com sete grandes universidades estaduais e forte integração entre campo e cidade, ela aponta que o Estado soube achar o tom no apoio às startups. “O Governo e a sociedade estão buscando tecnologia. Essa percepção é muito clara para o mercado”, afirma.
DIGITALIZAÇÃO – Os setores mais promissores em quantidade de iniciativas são agricultura e saúde e bem-estar, com mais de 260 startups nessas categorias. Ganharam bastante projeção durante a pandemia as startups que fornecem tecnologias para a digitalização de empresas, processo que se provou essencial para o período de isolamento social.
Uma delas é a Pipefy, cotada para se tornar um novo unicórnio paranaense em breve – que quase dobrou seu faturamento no segundo semestre de 2020. A startup curitibana desenvolveu uma plataforma online de gerenciamento de fluxos de trabalho, tornando-os mais eficientes.
Na prática, ela auxilia na transformação digital das empresas, proporcionando agilidade e velocidade na rotina de trabalho de empresas. Isso acontece através de uma automação de processos em áreas como finanças, compras, marketing e recursos humanos. Segundo a startup, as empresas que aderem à plataforma aumentam sua produtividade em 35%.
Desde que foi fundada em 2015, a Pipefy já captou mais de US$ 60 milhões em investimentos. Atualmente, sua carteira de clientes integra mais de 15 mil empresas, divididos em 150 países.
O fundador e CEO da startup, Alessio Alionço, afirma que o crescimento de três dígitos obtido em 2020 prova que as empresas estavam em busca de uma solução concreta para acelerar os esforços de transformação digital como resultado da pandemia.
“Como a maioria das empresas fez a transição para um modelo de trabalho remoto, uma ferramenta de automação de fluxo de trabalho eficiente e robusta é essencial. Nossa plataforma capacitou os profissionais do conhecimento a projetar e implantar ferramentas automatizadas sem desenvolvimento de TI. Isso foi fundamental porque a maioria das equipes de TI estava lutando com suas próprias demandas de transformação digital”, explica o CEO.
“Até o final do primeiro semestre de 2021, a Pipefy planeja ter mais de 150 novos funcionários. Para 2021, cerca de 65% dos nossos investimentos estão voltados para os Estados Unidos, fortalecendo ainda mais nossa estratégia global”, completa.
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PÓS-VENDA – Outro exemplo de empresa que cresceu no boom de digitalização de processos é a Aftersale, criada para automatizar o atendimento pós-vendas no comércio virtual como trocas, devoluções e rastreio de pedidos feitos por e-commerce, retendo e fidelizando clientes.
“Conquistar um novo cliente custa sete vezes mais do que um cliente fidelizado. Aumentando apenas 5% a retenção de sua base de compradores, uma loja consegue crescer em 25% sua margem de lucro”, explica o CEO, Leo Frade. A empresa, fundada em 2016, foi adquirida em 2020 pelo grupo T.Group, e atualmente conta com 65 colaboradores.
Antes da pandemia, a empresa tinha administrado vendas para 250 mil consumidores através de sua plataforma. Em dezembro de 2020, esse número chegou a 1 milhão. Seu faturamento, que era de R$ 1,5 milhão no pré-pandemia, alcançou R$ 4,2 milhões em abril de 2021. “Sabemos que milhões de brasileiros aderiram ao varejo virtual no último ano e queremos que esse mercado tenha ainda mais estrutura e força para crescer”, reforça Frade.
Ramiro Wahrhaftig, presidente da Fundação Araucária, aponta que os resultados colhidos pelas empresas nos últimos anos apontam que a integração entre os atores que compõem a tríplice está no caminho certo. “O Paraná tem uma economia muito forte e capacidade de se reinventar. Há uma sintonia muito grande entre aquilo que o setor produtivo e o setor público pensam para o futuro do Estado. É possível constatar que as políticas públicas e de apoio estão chegando em quem realmente têm perfil empreendedor”, afirma.