A transformação do aeroporto municipal de Umuarama em um espaço de voos comerciais é uma salada de letras: Sescinc, RESA, SSUM e EMS-A. As siglas compõem parte do que há de mais moderno e necessário na aviação civil e dizem respeito a novas estruturas e equipamentos que vão ajudar o Orlando de Carvalho a alcançar, finalmente, um lugar no mapa regular do transporte aéreo brasileiro.
Após cerca de dois anos em obras e R$ 18 milhões aportados em alvenaria e equipamentos, as obras no aeroporto municipal estão prestes a acabar. A revitalização do espaço vai permitir pousos e decolagens das aeronaves da Azul Linhas Aéreas e facilitar o contato dos moradores do município, distante 555 quilômetros de Curitiba e 520 quilômetros de Campo Grande (MS), a capital mais próxima, com qualquer lugar do mundo em poucas horas.
Essa conquista é fruto de um convênio firmado entre a prefeitura, o Governo do Estado e o governo federal. As primeiras mudanças foram na regularização da pista de pouso e decolagem e com o tempo foram adquiridos novos equipamentos para controle de condições de voo e ampliado o terminal de passageiros.
“A presença do aeroporto de Umuarama no mapa da aviação nacional é estratégica para o Paraná. A cidade é um polo estudantil e industrial fundamental para o Estado e essa nova conexão vai ampliar as possibilidades de comércio e investimento para toda a região Noroeste”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “Além disso, esse aeroporto vai potencializar a malha aérea do Paraná, que hoje é robusta, conectada, moderna e vetor de geração de empregos”.
De acordo com a Prefeitura, as obras no Aeroporto Municipal Orlando de Carvalho devem ser entregues em setembro, restando apenas a instalação das sinalizações internas e de alguns móveis e itens acessórios como lixeiras, wi-fi e insulfim. Antes da reforma esse aeroporto era acanhado, voltado para a aviação particular, e, com as mudanças, ganha corpo para ser regional. Atualmente ele é usado regularmente por 25 aeronaves pequenas que ocupam os 13 hangares do local.
“Entramos na reta final da revitalização. A obra está quase pronta e agora falta acertar detalhes do Plano de Voo, que ainda tem alguns obstáculos para que as empresas possam operar na cidade”, destaca André Coladine, diretor aeroportuário de Umuarama e um dos responsáveis pelo projeto. “Umuarama é um dos municípios mais distantes da Capital e essa nova estrutura vai atender toda a região, além do fluxo do Mato Grosso do Sul e do Paraguai. Aeroporto significa integração, desenvolvimento e inúmeras possibilidades para diversificar a economia”.
As obras englobaram a revitalização e ampliação do terminal de passageiros; recapeamento e deslocamento da pista para atender as exigências da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac); modernização do pátio de manobras das aeronaves; novos equipamentos, como raio-x, esteira para bagagens, circuito de câmeras e uma estação meteorológica; e a construção de uma unidade para atendimento emergencial de bombeiros aos passageiros, exigência do Ministério de Infraestrutura e da Aeronáutica.
“É um aeroporto completamente novo em cima de uma estrutura velha e que tem capacidade para operar voos comerciais em qualquer horário do dia”, completa Coladine. “Conheço esse aeroporto desde criança e é uma conquista imensurável para a cidade. Ganhamos em termos de estrutura, segurança e conforto para os passageiros”.
NOVO TERMINAL – O novo terminal de passageiros conta com cafeteria, uma sala reservada para reuniões, uma nova área com check-in e despacho de bagagens. Ele era 2,5 metros menor em largura e foi ampliado nas duas pontas para separar com segurança e comodidade o embarque do desembarque. Também foram implementadas novas orientações visuais e um sistema de CFTV para segurança dos usuários.
Foi criada uma sala de espera para acomodar 70 passageiros em longarinas (tradicionais cadeiras dos aeroportos) financiadas pelo Estado com climatização e wi-fi. A SAC também doou um sistema de raio-x para as bagagens e as pessoas. Já a sala de desembarque conta com uma esteira elétrica e espaço mais amplo para circulação com as malas.
Na parte externa, voltada para a pista, foi instalado um letreiro de comunicação visual com o nome e o sobrenome do aeroporto. É onde começa a tomar forma a sopa de letrinhas. Umuarama será identificada na aviação comercial pela sigla SSUM, correspondente ao que CWB significa para quem utiliza o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Para completar esse espaço a prefeitura adquiriu novos transformadores e geradores de energia, além de uma caixa d’água de 20 mil litros.
SESCINC – O prédio do Serviço de Prevenção, Salvamento e Combate a Incêndio em Aeródromos Civis (Sescinc), que não existia, conta com uma garagem para um caminhão-pipa, dormitório, banheiro, sala de treinamento e setor administrativo. A estrutura é uma exigência da legislação que regulamenta a aviação brasileira e ajuda a dar mais segurança para os usuários.
Quem vai operar o Sescinc é um corpo de guardas municipais capacitados para atendimentos emergenciais e combate a incêndios. São os mesmos que vão trabalhar no raio-x. Eles foram treinados e receberam certificados válidos até julho de 2021.
Esse espaço está recheado de equipamentos de primeira linha. O destaque visual é para o caminhão-pipa recebido de um convênio com o governo federal, além dos trajes especiais dos bombeiros, que variam de R$ 2 mil a R$ 5 mil, e o kit com cilindro e máscara que custa cerca de R$ 10 mil.
PISTA – Já as intervenções na pista envolveram recape, ampliação e deslocamento de lugar. Ela tem 1.430 metros de comprimento (houve aumento de 30 metros) por 30 metros de largura e foi reposicionada de maneira a deixar as faixas laterais com 75 metros de cada lado, norma fundamental para a transformação em estrutura para aviação comercial.
Também foi implementada uma RESA (área de segurança de fim de pista) na cabeceira de 90 metros de comprimento por 60 metros de largura. O solo é de terra. Essa é uma medida e segurança para os pilotos e pode ajudar a evitar acidentes. O recape foi feito com uma camada de seis centímetros de asfalto em cima da camada existente.
A pista também foi pintada e recebeu balizamento, novas canoplas e soquetes para as luminárias, além de um sistema de drenagem para escoamento das águas das chuvas. O próximo passo é um PAPI (Precision Approach Path Indicator), jogo de lâmpadas que será instalado na cabeceira da pista para pouso de precisão, que tem custo de cerca de R$ 800 mil.
O pátio de manobras foi ampliado em, pelo menos, um quarto e o piso recebeu uma camada de 12 centímetros de concreto e orientação visual (marcações de posicionamento de aeronaves). A área externa também ganhou uma speed dome (câmera de alta resolução) e um novo sistema de iluminação que “transforma a noite em dia” para eventuais voos noturnos.
A última sigla da renovação da área também foi um presente tecnológico para o aeroporto. A Estação Meteorológica de Superfície Automática (EMS-A) está instalada ao lado da pista e gera informações automáticas diretamente para os pilotos, o que garante economia para a administração do aeroporto, que não precisa dispor de um operador de pista. Ela conta com placas solares, cerca e um sistema de alarme.
Essa estação meteorológica veio de um lote de doações do governo federal. O custo unitário é de cerca de 550 mil euros e a fabricação é finlandesa. O aparelho transmite informações como pressão atmosférica, direção e intensidade do vento, umidade, visibilidade, teto e tipo de nuvem que cobre a pista. O piloto recebe o relatório via rádio frequência em português e inglês.
Com a aprovação do Plano de Zoneamento, último passo antes da liberação, a administração municipal vai solicitar um estudo da carta de aproximação por instrumento para ter um Rnav na pista para operar por instrumento. O aparelho permite a uma aeronave percorrer uma trajetória específica entre dois pontos definidos tridimensionalmente no espaço.
“Falta muito pouco para todas as liberações. O aeroporto municipal ganhou robustez para disputar voos comerciais com outras cidades do Interior do Paraná. As obras levaram em consideração todos os detalhes necessários para garantir segurança, conforto e condições logísticas de tráfego”, destaca o engenheiro civil André Luiz Biancardine de França, fiscal da obra.
ACESSO – Se ainda existe um senão é o acesso ao aeroporto, que é feito por uma via vicinal na PR-323, próximo ao Trevo do Gauchão. O objetivo do Governo do Estado nos próximos meses é incluir um caminho direto da rotatória até o estacionamento do Orlando de Carvalho, permitindo acesso seguro dos veículos.
A modernização deve acontecer concomitantemente com as obras de duplicação da rodovia estadual entre Maringá e Umuarama, que deve ser incluída no Novo Anel de Integração, a ser licitado já no próximo ano. A PR-323 é uma das principais ligações da região com Maringá e Londrina e a revitalização da via permitirá mais segurança a moradores e ao setor comercial.
“Umuarama é uma cidade muito importante para os nossos planos regionais e precisa dessa conexão aérea, até pela distância de outros centros. É um município que será impactado diretamente pelo novo Anel de Integração, o que significa transformação dupla, nos modais aéreo e rodoviário”, arremata o secretário de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex. “As perspectivas são muito boas para os próximos anos”.
Box
Malha aérea do Paraná recebe investimentos e amplia capacidade
Os aeroportos paranaenses estão se transformando em ritmo muito acelerado com o apoio do Governo do Estado e do governo federal. Há obras em Umuarama, Maringá, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa, além da aguardada retomada dos voos do programa Voe Paraná, que conecta cidades médias do Interior com a Capital. Para 2021 também há expectativa da concessão de quatro aeroportos para a iniciativa privada.
O ano de 2019 foi especial para a aviação regional no Estado com o início do maior programa de conexão do Paraná (Voe Paraná) e a inauguração de novos aeroportos. Foram estabelecidas dez novas conexões (Guaíra, Telêmaco Borba, Cianorte, Cornélio Procópio, União da Vitória, Paranaguá, Francisco Beltrão, Arapongas, Paranavaí e Campo Mourão) entre Curitiba e o Interior e iniciados voos comerciais em Toledo, Guarapuava e Pato Branco. O Estado saltou de 6 aeroportos com voos regulares em 2018 para 19, crescimento de 216%.
Ao mesmo tempo foram aceleradas obras importantes. O Aeroporto de Cascavel está pronto, restando apenas algumas documentações. A obra envolveu mais de dez contratos e cerca de R$ 38 milhões. O Governo do Estado participou disponibilizando recursos do Sistema de Financiamento aos Municípios (SFM), administrado pelo Paranacidade e pela Fomento Paraná. Há, ainda, recursos federais a fundo perdido (R$ 2,3 milhões), da Itaipu Binacional e verba municipal. Cerca de 80 funcionários foram empregados diretamente ao longo do último ano.
A intervenção completa engloba a revitalização e duplicação de 2,2 quilômetros da Avenida Itelo Webber com novo sistema de iluminação; seis quilômetros de cerca; estacionamento para 398 automóveis; sistema de drenagem da água da chuva do sítio aeroportuário; novo pátio de estacionamento das aeronaves com piso de concreto; iluminação em LED; um novo terminal de passageiros com cinco portões e dois pavimentos; dois fingers; mobiliário aeroportuário, equipamentos de informática e novas esteiras; deslocamento dos nove hangares particulares para uma nova área dentro da faixa de segurança; e demolição da estrutura atual, construída nos anos 70.
O Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu/Cataratas está com obras a pleno vapor na ampliação da pista para 2,8 mil metros, 605 metros a mais que a atual. Foram destinados R$ 53,9 milhões para o projeto, que permitirá que o terminal receba voos de maior porte, reforçando a vocação turística do município. Cerca de 80% do investimento é da Itaipu Binacional.
Em Maringá os investimentos do governo federal englobam reforma no terminal, ampliação e recuperação das taxiways, ampliação e reconstrução de pátio de aeronaves e reforma e ampliação da seção contra incêndio. Estão sendo aplicados recursos da ordem de R$ 88 milhões, dos quais R$ 82,7 milhões são oriundos do Fundo Nacional de Aviação Civil.
Em Ponta Grossa serão investidos R$ 35 milhões para a construção de um novo terminal de passageiros próximo ao atual (que deverá ficar apenas para voos executivos), a construção de uma nova taxiway (que liga a pista até o terminal de passageiros), e a ampliação do pátio de manobra para as aeronaves, a qual poderá receber, futuramente, aviões a jato.
E no ano que vem ainda serão repassados para a iniciativa privada, em um dos lotes da concessão do governo federal, quatro terminais: São José dos Pinhais, Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçu. O valor de outorga do Bloco Sul será de R$ 133,4 milhões e já há um compromisso para a construção da terceira pista no Aeroporto Afonso Pena, possibilitando pousos e decolagens de aviões maiores, atendendo demanda histórica do setor empresarial paranaense.