A Universidade Estadual de Londrina (UEL) teve dois projetos propostos pelo Centro de Educação Física e Esporte (CEFE) selecionados na chamada pública 11/2020 do Programa de Pesquisa para o SUS Gestão Compartilhada em Saúde, da Fundação Araucária. Os projetos Tratamento de Pessoas com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), do professor Matias Roberto Loch, e Prótese Mamária em Mulheres Mastectomizadas, do professor Felipe Arruda Moura, começarão em fase de implantação nos próximos meses. Ao todo, cinco projetos aprovados estão na UEL.
O edital da Fundação Araucária representa investimento total de R$ 5 milhões, financiando 40 projetos científicos nas Instituições de Ensino Superior paranaenses. O programa é uma parceria do Ministério da Saúde com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria da Saúde do Paraná.
O intuito da chamada foi contemplar novas linhas de pesquisas dentro dos eixos temáticos, seguindo orientação do Governo do Estado. O foco é na promoção de ações no enfrentamento da pandemia do coronavírus.
DCNT – De acordo com o professor Matias Roberto Loch, coordenador-geral da pesquisa e professor na Pós-Graduação em Saúde Coletiva, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), o projeto Tratamento de Pessoas com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) vai verificar o acesso ao atendimento e a adesão aos tratamentos a essas doenças em 32 municípios paranaenses de até 20 mil habitantes. Segundo o pesquisador, muitas comuns aos brasileiros. “Hipertensão, diabetes e, em alguns casos, osteoporose estão entre essas doenças”, explica.
Na primeira etapa, o projeto fará um censo com os profissionais de saúde dessas cidades. Na segunda, atuará com os profissionais de saúde das 2ª (Curitiba), 4ª (Irati) e 17ª (Londrina) Regionais de Saúde. Ao todo, são 1.300 profissionais. A terceira e última etapa trata da entrevista com usuários do sistema de saúde. “Queremos saber se eles têm acesso a equipe multiprofissional, com nutricionista, psicólogo, além do histórico de saúde deles”, completa.
A existência de uma infraestrutura pública e acessível para o tratamento também é um dos pontos. Hipertensos, por exemplo, precisam se exercitar com frequência para manter a doença sob controle. “Há evidências de que pessoas que têm esses equipamentos públicos à disposição, como praças ou academias ao ar livre, cuidam melhor da saúde”, afirma o professor.
O projeto multicêntrico captou R$ 172 mil e é realizado em parceria com a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Campus Irati, e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
Além de Loch, a equipe conta com a professora Lucélia Borges, da UFPR, e Silvano Coutinho, da Unicentro. Há 20 envolvidos no total, entre estudantes de graduação, mestrado e doutorado. Cinco bolsas foram captadas e serão divididas entre os programas.
- Parceria entre Unioeste e Biocamp viabiliza controle do percevejo-da-soja
- Estudantes de todo o Brasil podem acessar mais de mil aulas de cursinho
- Pesquisadores debatem os impactos da pandemia no ensino superior
PRÓTESE MAMÁRIA – O projeto Prótese Mamária em Mulheres Mastectomizadas, coordenado pelo professor Felipe Arruda Moura, reúne pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Serviço de Prótese Facial Reconstrutiva do Hospital de Reabilitação do Complexo Hospitalar Trabalhador de Curitiba. Também compõe a equipe um professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Segundo Felipe Moura, do Departamento de Ciência do Esporte, o vínculo com o SUS no projeto se deu pelo trabalho da professora Roberta Zanicotti, que atua no Hospital do Trabalhador. “Ela desenvolve um grande trabalho de próteses de nariz e orelhas para acidentados”, conta.
O projeto foi criado a partir da pesquisa de doutorado em Educação Física, pela UEL, da estudante Juliane Cristina Leme. Ela, que recebe bolsa da Fundação Araucária para o projeto, já havia estudado próteses mamárias para corredoras em sua dissertação de mestrado. “O objetivo é desenvolver uma prótese em silicone, totalmente personalizada, para mulheres que queiram acessar o SUS e conseguir uma prótese de baixo custo”, afirma.
A produção será feita com o uso de uma impressora 3D. O escaneamento do corpo das mulheres oferece as medidas exatas para que a nova prótese se assemelhe à mama. As próteses são feitas com moldes de TLA ou ABS. Em seguida, são pintadas com corantes para que se ajustem à cor da pele. Por fim, são acrescidas de filamentos para preenchimento.
“A maioria das próteses não é muito bem aceita, as mulheres dizem que não encaixam bem. Em muitos casos, essas mulheres mais carentes acabam nem buscando a substituição. Elas enrolam bolas de meia ou outros objetos e colocam no bojo do sutiã”, comenta a pesquisadora.
Além de avaliar a postura das usuárias (a ausência de mama pode trazer dores nos ombros e costas), a intenção é aumentar a autoestima dessas mulheres, que passaram pelo trauma da perda da mama. “É um processo doloroso, que traz perdas sociais, familiares. Há muitos casos de divórcio em casamento com mulheres mastectomizadas, assim como índices de depressão significativos”, explica.
A equipe planeja levar a nível nacional a discussão sobre próteses baratas e personalizáveis. Com isso, deseja implantar, ao menos nos hospitais de referência, uma sala para procedimentos com essas próteses. “Hoje, é possível construir uma prótese dessas, que estamos estudando, por cerca de R$ 30,00”, ressalta. Os modelos similares, no Brasil, chegam a custar R$ 185,00. Próteses importadas podem passar dos R$ 400,00.
O projeto captou R$ 97 mil da Fundação Araucária e conta com sete membros. Entre eles, a doutoranda Juliane e dois estudantes de Iniciação Científica (IC) pela UEL.
Confira a lista completa com os projetos selecionados pelo edital.