Pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) analisa indicadores e aspectos epidemiológicos da saúde de mulheres paranaenses, a partir de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). O objetivo é contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida das mulheres e ações de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças. Os dados são coletados desde 2008.
O estudo traça um panorama dos 399 municípios do Paraná, aglomerados por macrorregião, combinando diferentes informações, como idade, cor, escolaridade, situação conjugal, renda e local de residência dessa parcela da população. Os indicadores apontam bons resultados em relação ao restante do Brasil e sinaliza pontos de melhoria para manter as condições favoráveis para o bem-estar físico, mental e emocional das paranaenses.
O levantamento de dados também inclui referências sobre as linhas de cuidado das mulheres no período de gestação, parto e puerpério (pós-parto), inclusive a saúde dos recém-nascidos. São observados aspectos importantes, como assistência médica durante a gravidez e o parto; tuberculose na gestação; mortalidade por câncer de colo do útero e câncer de mama; nascimentos prematuros e mortalidade infantil decorrente de doenças genéticas ou anomalias congênitas.
Esta matéria faz parte de uma série de reportagens voltadas para a divulgação científica e que tem como objetivo promover os resultados de estudos acadêmicos desenvolvidos por pesquisadores, professores e estudantes das sete universidades estaduais do Paraná.
Os textos são publicados semanalmente com o selo Paraná Mais Ciência, um programa estratégico do governo, previsto no Plano Plurianual do Estado (PPA), que viabiliza os recursos financeiros do Fundo Paraná de fomento científico e tecnológico, administrado pela Secretaria da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (Seti). A primeira reportagem foi sobre pesquisas que avaliam as mudanças climáticas no Paraná.
A coordenadora do estudo, professora Emiliana Cristina Melo, do curso de Enfermagem da UENP, no câmpus Luiz Meneghel, em Bandeirantes, destaca resultados que caracterizam a situação das mulheres do Paraná. “Os resultados indicam melhoria nas características socioeconômicas das mães paranaenses, com a diminuição na proporção de mães adolescentes, com baixa escolaridade e com três ou mais filhos”, afirma. “O aumento de mães que se declaram pretas e pardas pode estar associado a mudanças culturais da população”.
Doutora em Enfermagem, a coordenadora enfatiza a importância da pesquisa científica para os avanços na saúde da mulher. “O objetivo é identificar os desafios mais emergentes detectados e, então, sugerir melhorias para atender e captar as mulheres para as ações preventivas e de diagnóstico rápido”, explica a professora Emiliana.
Ao longo de 16 anos do projeto, que começou durante a pesquisa de mestrado da professora Emiliana Melo, outros docentes ingressaram no estudo. É o caso das professoras Maria José Quina Galdino e Maynara Fernanda Carvalho Barreto e do professor Alessandro Rolin Scholze, da UENP; e da professora Rosana Rosseto de Oliveira, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Os quatro são doutores em Enfermagem e especialistas em diferentes áreas da saúde e juntos, atuam no Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Saúde e Trabalho (Gesat) da UENP.
As análises epidemiológicas desse estudo científico levantaram quatro pontos principais de atenção. Primeiro, a necessidade de investir na qualidade do exame pré-natal realizado pelas gestantes, com a finalidade de atrair mais mulheres para a rede de atenção primária à saúde. É preciso fazer uma busca ativa, facilitar as consultas, os exames e o acesso aos resultados, para que as mulheres não desistam do acompanhamento. O pré-natal é ferramenta importante na prevenção e detecção precoce de patologias tanto da mãe quanto do feto.
O segundo ponto de atenção está relacionado à necessidade de intensificar a prevenção de doenças, principalmente o câncer de colo de útero e o câncer de mama. Nesse contexto, a pesquisa aponta a importância das Unidades Básicas de Saúde em oferecer mais flexibilidade para o agendamento de consultas médicas e exames laboratoriais, com aumento de opções de datas e horários, a fim de favorecer as mulheres que trabalham ou que têm rotina com os filhos.
O terceiro ponto está relacionado ao investimento em capacitação continuada para os profissionais da saúde, pois é preciso saber acolher e atender as necessidades de saúde das mulheres e alimentar de forma correta os bancos de dados dos sistemas de informação. Por último, é importante investir em educação para conscientizar meninas e mulheres sobre temas como planejamento familiar, prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e combate a abusos e violências.
EXTENSÃO – Para além do projeto de pesquisa, a professora Emiliana Melo lidera uma ação de extensão universitária relacionada à saúde das mulheres. A iniciativa consiste na oferta de atendimento semanal na Clínica de Enfermagem da UENP, em Bandeirantes, com horário estendido até às 22 horas, por livre demanda e agendamento prévio. Em média são quatro atendimentos por semana, o que corresponde a 208 consultas por ano.
O projeto expandiu as atividades para desenvolver ações também de combate à violência contra as mulheres a partir de uma parceria com o Ministério Público.
PESQUISA NACIONAL – Os pesquisadores Emiliana Melo e Alessandro Scholze participam de um estudo nacional sobre violência vivenciada por mulheres com deficiências no contexto rural. O projeto foi aprovado em janeiro deste ano em uma chamada pública para estudos transdisciplinares em saúde coletiva. A iniciativa é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e do Ministério da Saúde.
A UENP é responsável pela análise de dados na produção de mapas da violência e vulnerabilidade de mulheres com deficiências, que revelam a localização e as características das regiões estudadas. Com financiamento de aproximadamente R$ 360 mil, o objetivo é promover o aperfeiçoamento do sistema de saúde brasileiro, o planejamento de políticas públicas voltadas para o combate às diversas formas de violência vivenciadas pelas mulheres com deficiência e que vivem nos rincões das cinco regiões do território brasileiro e em Portugal.
Outras instituições de ensino superior participam do projeto, como a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS); a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); a Universidade Federal de Sergipe (UFS); a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA); a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e a Universidade Nova de Lisboa (UNL), em Portugal.