A Universidade Estadual de Londrina (UEL) iniciou o projeto de pesquisa “Coleta, Identificação, Cultivo e Propagação de Espécies Ornamentais da Flora Brasileira”, do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Plantas ornamentais são aquelas cultivadas pela beleza estética.
O coordenador do projeto, professor Cristiano Medri, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV), explica que existem metodologias objetivas para definir se uma planta é ornamental ou não, de modo que algumas espécies se destacam em relação a outras, seja por suas flores, folhagens ou formatos.
Para encontrar essas espécies com potencial ornamental, o projeto selecionou alguns pontos de busca e coleta no Paraná e em outros lugares do Brasil. No momento, os principais locais de trabalho são o topo do Morro da Pedra Branca, na Serra do Cadeado, no Norte do Paraná, e o Distrito de Lerroville. Também já foram feitas coletas em Guaraqueçaba, Pontal do Paraná, Ilha do Mel, no Litoral, Paraty (RJ) e no Parque Nacional de Itatiaia (RJ).
Após o descobrimento e seleção dessas espécies, é iniciada a etapa de experimentos de domesticação, visando encontrar meios de cultivar, multiplicar e fazer que sobrevivam fora do habitat.
“Tiramos essas espécies da natureza com autorização dos órgãos ambientais, em uma quantidade pequena, para fazer esses experimentos. Mas como fonte para o comércio, o habitat não pode ser explorado, porque isso se caracterizaria em uma extração predatória. Se a gente ficar tirando do habitat, em 10 anos acaba tudo que tem lá, por isso precisamos aprender a multiplicar essas plantas, produzir essas mudas em viveiro para não precisar retirá-las da natureza”, explica Medri.
Em parceria com o professor Ricardo Faria, do Orquidário da UEL, são desenvolvidos diversos experimentos em estufas e laboratórios com essas plantas, como a germinação de sementes, propagação através de estacas e diferentes formas de cultivo. O projeto conta, ainda, com um telhado verde, onde também são feitos testes com as espécies descobertas.
Considerado megadiverso, o Brasil é o País que detém a maior biodiversidade do mundo. Pesquisas apontam que existem aproximadamente 390 mil espécies de plantas no planeta, sendo mais de 46 mil encontradas em solo brasileiro. Apesar de toda essa variedade, o mercado de plantas ornamentais nacional ainda é voltado para o Exterior.
TELHADO VERDE – Desenvolvido há quatro anos na casa de Medri, o telhado verde é um experimento que visa a criação de um método de construção com baixo custo financeiro, sem muita tecnologia e que possa ser aplicado em estruturas de telhados que não foram construídos com esse objetivo. Nele, foi utilizado um substrato (base de sustentação para o crescimento da planta) de apenas cinco centímetros, de modo que o telhado não ficasse sobrecarregado e corresse risco de desabamento.
“Para o cultivo, selecionamos espécies que crescem em cima de pedras, rochas e árvores. Fomos buscar na natureza ambientes semelhantes ao do telhado: muito sol, alta temperatura e pouco substrato. Assim, selecionamos plantas como bromélias, orquídeas e outras espécies para serem cultivadas aqui”, diz Medri.
As plantas cultivadas no telhado também são analisadas a partir de outros aspectos de domesticação e, de modo geral, vêm apresentando bons resultados. “A gente acompanhou o desenvolvimento das 55 espécies nativas em cultivo que temos aqui, verificando crescimento, sobrevivência, mortalidade, floração, produção de fruto, resistência à seca, entre outros. A maior parte das espécies que testamos, aproximadamente 50, desenvolveu-se muito bem. São plantas que são uma opção para a utilização em telhados verdes”, completa.
O professor explica que os telhados verdes são uma boa alternativa para as cidades, que cada vez mais carecem de áreas para o estabelecimento de jardins. Desse modo, em um ambiente cercado por telhados, lajes e terraços, é possível aproveitar esse espaço para o cultivo de plantas.
IMPORTÂNCIA AMBIENTAL – A partir dos resultados obtidos nesta fase, o projeto pretende, em uma segunda etapa, introduzir as espécies descobertas no mercado ornamental. Para que isso seja possível, os conhecimentos adquiridos serão repassados para produtores, floristas e paisagistas, permitindo que mais pessoas compreendam o potencial das plantas nativas do Brasil.
Além da valorização da biodiversidade brasileira, Medri destaca a relevância ambiental do cultivo dessas plantas. “A importância de utilizarmos plantas nativas no paisagismo não é apenas a questão de aproveitar o potencial ornamental das espécies que estão aí. Utilizar plantas nativas no jardim também é ecologicamente importante, porque elas estão envolvidas em relações ecológicas, permitindo que espécies de animais nativos se relacionem com elas”, pondera.
Essa interação entre os animais e as plantas nativas brasileiras está sendo investigada em outro estudo da UEL. Junto com um orientando, o professor Luiz dos Anjos, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal, está fazendo um levantamento da interação das aves com o telhado verde e o jardim da casa de Medri.