A Universidade Estadual de Londrina (UEL) desenvolve um projeto que avalia a produção de redes de cuidado pelos Centros Especializados em Reabilitação (CER), que são responsáveis por integrar as diversas especialidades em Saúde para pessoas com deficiência. Trata-se de “Análise de implantação da Rede de Cuidados à Saúde das Pessoas com Deficiência: os usuários, trabalhadores e gestores como guia”.
Em Londrina, o projeto é coordenado pela professora Regina Melchior, do Departamento de Saúde Coletiva – Centro de Ciências da Saúde (CCS). Em nível nacional, é articulado à Rede de Observatórios Microvetoriais de Políticas Públicas e Educação em Saúde, com sede na cidade de Macaé (RJ).
Os membros locais do projeto ocupam-se em avaliar uma unidade do CER na Região Sul do Brasil (por razões de sigilo, não é permitido divulgar o nome das cidades avaliadas). Foram analisados os serviços de saúde em duas cidades, uma que tem o serviço e outra que não dispõe de um CER.
Segundo Regina, uma das principais funções do CER é servir como intermédio entre as diversas especialidades, para que o usuário possa receber o melhor atendimento com celeridade. “No município que não dispõe do serviço, observamos que a rede fica isolada. O usuário sai de uma consulta com um fonoaudiólogo, por exemplo, e muitas vezes não é encaminhado corretamente para outro serviço com rapidez”, explicou. Já no município que tem o serviço, o encaminhamento é mais ágil.
Mesmo com a institucionalização do atendimento específico às pessoas com deficiência – uma das conquistas do processo de reabertura democrática no Brasil, assim como da Reforma Sanitária, nos anos 1970 e 1980 –, muitas vezes essa integração entre as atividades não ocorre. “O que vimos no CER, mesmo com a implantação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (em 2012) ser recente no Brasil, é uma participação bem importante, militante, dos profissionais pela causa”, observou Regina.
AVALIAÇÃ – Para avaliar os CERs, os envolvidos no projeto optaram pela metodologia cartográfica. Os usuários do serviço, seus familiares e profissionais são ouvidos e “acompanhados” pelos pesquisadores, que “mapeiam”, como o próprio nome da metodologia indica, os serviços de saúde e sua utilização.
“Partimos do usuário, ou usuário-guia, como chamamos, e seguimos o fio para compreender como ele usa aquele sistema e se compreende nele”, explicou a coordenadora. A participação dos usuários ocorre mediante avaliação do Comitê de Ética da Universidade.
ACOMPANHAMENTO – Integrante do projeto de pesquisa e professora do Departamento de Saúde Coletiva, Thatila da Rocha Marandola acompanhou uma usuária-guia surda durante o processo. Para se ter uma ideia do emprego da metodologia e de como ela funciona, Thalita explicou que teve de ouvir 55 pessoas que, de algum modo, cruzaram o caminho da usuária. “São outros pacientes, familiares, médicos, enfermeiros, gestores do serviço. Após conversar com ela, fui procurando outras pessoas”, disse a professora.
A principal barreira levantada pela usuária acompanhada durante o processo de atendimento foi a da comunicação. “Muitas vezes, por conta do uso de máscaras na pandemia, a comunicação com os surdos fica prejudicada, pois eles necessitam de leitura labial”, comentou. Thalita é doutoranda no Programa de pós-Graduação em Saúde Coletiva e deve finalizar sua tese, um estudo da produção do cuidado para a pessoa com surdez que faz uso da língua de sinais brasileira, em 2022.