A rotina de trabalho começa às seis da manhã para o casal Paulo César e Liziane Vedor, em Cerro Azul, no Vale do Ribeira. Eles integram a equipe responsável pela distribuição de leite enriquecido com vitaminas para os beneficiários do Leite das Crianças, programa da Secretaria do Estado da Agricultura e do Abastecimento. Nessa região, formada por municípios com IDH abaixo da média estadual, essa ajuda faz toda a diferença, especialmente durante a pandemia, quando muitas famílias enfrentam dificuldades financeiras.
Na kombi que leva os pacotes de um litro em caixas térmicas, os funcionários conhecem bem as estradas rurais e áreas afastadas do centro da cidade em que as crianças aguardam o alimento.
“Dá para ver que realmente necessitam”, diz o motorista. Cerro Azul tem uma população estimada em 17,8 mil habitantes, sendo que aproximadamente 12 mil vivem na área rural. No Paraná, o Vale do Ribeira engloba também municípios como Doutor Ulysses, Rio Branco do Sul, Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Itaperuçu e Tunas do Paraná. Apenas nessas localidades, são mais de 3 mil crianças inscritas.
Nos 399 municípios paranaenses, o Leite das Crianças atende aproximadamente 100,9 mil crianças em situação de vulnerabilidade social, segundo o Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional (Desan) da Seab. A assistente social do Desan, Daniele Hofstatter, explica que, para manter o benefício, as famílias precisam comparecer com frequência aos pontos de distribuição, que geralmente são escolas.
Mas em locais de difícil acesso, como é o caso de algumas moradias em Cerro Azul, é comum que se crie uma rede de colaboração com outros órgãos públicos, comércio local ou parentes e vizinhos que também são beneficiários e vivem mais próximos das estradas. Tudo para facilitar a entrega a quem necessita.
De acordo com a chefe do Desan, Márcia Stolarski, a distribuição gratuita e diária de um litro de leite a crianças de seis meses a três anos de idade é um grande auxiliar no combate à desnutrição infantil. Assim, o programa tornou-se uma política preventiva.
“Isso gera economia para o Estado, já que os custos do Leite das Crianças são inferiores aos gastos que seriam destinados ao tratamento para uma criança com desnutrição, por exemplo”, diz.
Para o prefeito de Cerro Azul, Patrik Magari, os benefícios são visíveis em diferentes aspectos. No lado social, pela melhoria das condições de alimentação das crianças. No quesito econômico, por movimentar a cadeia do leite, beneficiando produtores que fornecem o alimento ao governo estadual e têm, dessa forma, sua comercialização garantida.
“É um programa de grande impacto, que pela sua própria história já demonstra como é importante e que, com certeza, melhora a vida das famílias”, diz.
AUXÍLIO – Para a dona de casa Denise de Souza da Silva, beneficiária desde 2020, o programa é fundamental para a filha de dois anos. “Nos tempos que a gente está vivendo, o dinheiro está curto, é uma ajuda e tanto. É um leite muito bom e minha filha adora”, diz.
A agricultora Regimara Agner, cuja filha de três anos também é beneficiária, diz que o alimento colabora para a saúde e regulação do peso da criança. “Ajuda nas despesas e é um leite muito bom, com vitaminas”, afirma.
O operador de caixa Fabiano dos Santos conta que a família recebe o benefício há cerca de um ano e, sem ele, não teria condições de garantir o alimento diariamente ao filho. “Se fosse para comprar, seria caro. Meu filho está se desenvolvendo bem e aceitou bem o leite”, diz.
A agricultora Lorineia Assunção conta que conheceu o programa por meio dos vizinhos. “Eu soube que tinha o direito a partir dos seis meses de idade. Fui no Cras, fiz a ficha, levei os documentos dela. Foi muito bom para ela, dei o leite, ela se adaptou, gostou. Está sendo uma bênção”, completa.
Em Rio Branco do Sul, uma das crianças atendidas é a filha de um ano de Jéssica da Silva. Desempregada, a beneficiária diz que o alimento é fundamental. “O leite é bom e tem ajudado bastante, pois ela não mamava”, afirma.
NUTRIÇÃO – Em Itaperuçu, cidade que concentra o maior número de atendidos na região – cerca de mil crianças –, as famílias destacam a melhora na saúde dos pequenos. Lívia, filha de Patrícia, recebe o leite desde os seis meses, e hoje tem dois anos. “Eu acho que o leite tem tudo que ela precisa, ele é mais completo. Minha filha não toma leite de caixinha, mas gosta bastante desse. Tem crianças aqui em Itaperuçu que têm muita necessidade. Quando não tinha o programa, acredito que a taxa de desnutrição era maior”, conta.
A percepção da beneficiária se comprova nos números estaduais. A Secretaria de Estado da Saúde realiza monitoramento trimestral das condições nutricionais das crianças atendidas pelo programa e registradas pelos municípios no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). No período de abril a junho de 2021, em que foram avaliadas cerca de 8 mil atendidas, o relatório mostrou que o peso para idade foi adequado em 87,64%; elevado em 10,35%; baixo em 1,42% e muito baixo em 0,59%.
Moradora do mesmo município, Rosemari Paske pega o alimento para a neta de um ano e meio, beneficiária desde os seis meses de idade. “Tem gente que não teria como comprar. Minha neta gosta desse leite e se acostumou bem”, afirma.
PROGRAMA – O Leite das Crianças foi criado com objetivo de auxiliar na redução da deficiência nutricional infantil, com a distribuição de leite pasteurizado enriquecido com vitaminas A e D, zinco e ferro. São beneficiárias as famílias com renda per capita de até meio salário mínimo regional, com limite de dois litros de leite por dia por família, de acordo com a lei estadual nº 16.475/2010. Além da Seab, participam as Secretarias de Estado da Educação e do Esporte, da Saúde e da Justiça, Família e Trabalho.