No Paraná desde janeiro de 2023, Katherina Hodick leva um pedaço da Ucrânia por onde vai. Atualmente isso acontece na Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde trabalha na Pós-Graduação em Letras. Ela é parte do Programa de Acolhida a Cientistas Ucranianos, da Agência Araucária, que concede bolsas de estudo a cientistas e suas famílias, numa oportunidade de recomeço longe da guerra.
A sua pesquisa na UEL acontece na área de Teoria Literária, buscando uma aproximação cultural entre escritores ucranianos e brasileiros. Num primeiro momento, ela prepara uma antologia de poetas ucranianos contemporâneos para serem traduzidos para o português. Depois, a pesquisadora fará uma seleção de brasileiros que podem ser traduzidos para o ucraniano. Na Ucrânia, ela era professora da Academia Júnior de Ciências, onde atuava no desenvolvimento de materiais pedagógicos para crianças que participam de competições intelectuais.
Neste semestre, Katherina também pretende iniciar um curso de literatura ucraniana na UEL. O nome será "Retratos da Resistência, uma breve história da literatura ucraniana”.
Com nove meses de Brasil, ela encara esse período como um renascimento, mesmo solitária. O marido não foi autorizado a deixar a Ucrânia porque pode ingressar no exército como reservista a qualquer momento. “Eu desejo que os brasileiros nunca saibam o quão difícil é uma guerra. Meu maior desejo é que ela acabe. Desde que cheguei em Londrina, penso na guerra todos os dias. Uma pessoa me perguntou por que deveríamos falar sobre a guerra. Minha resposta é que uma guerra pode acontecer em qualquer país, por isso devemos evitá-la”, diz.
“Só agora consigo dormir bem. Por causa dos problemas na Ucrânia, parei de dormir a noite toda. É um trauma, um problema de todas as mulheres e homens ucranianos. Quando se acorda ouvindo uma explosão, é difícil adormecer mais uma vez. No seu cérebro você entende que está longe de casa, está seguro, está tudo bem, mas para o seu corpo são os sons altos”, descreve.
Quando chegou em Londrina, ela ainda não falava português, apesar de ter conversado com o seu orientador quando ainda estava na Ucrânia. Em nove meses, a pesquisadora já conversa e compreende bem a língua portuguesa. “Sou filóloga [pesquisadora de linguagem] e para os filólogos não é muito difícil aprender a língua”, afirma.
O professor do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da UEL, Frederico Garcia Fernandes, seu orientador, se transformou em um grande amigo. Quando Katherina precisou alugar uma moradia, o professor cedeu um apartamento que pertence à sua sogra.
"Katherina é uma jovem pesquisadora muito amigável e extremamente interessada na cultura brasileira. Assim que chegou no país, nós a acolhemos em nossa casa, que foi sua primeira moradia", conta. "Katia, como a chamamos, é hoje em dia parte de nossa família. Sua afinidade com minha esposa foi tão grande, que ela chegou a afirmar que só entendia português quando falava com ela. Acredito que no futuro será uma grande referência sobre cultura brasileira na Ucrânia".
PESQUISADORES – O Programa de Acolhida aos Cientistas Ucranianos já recebeu 19 pesquisadores. Os cientistas estão distribuídos na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Universidade Estadual de Londrina (UEL), PUC, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Estadual do Oeste (Unioeste), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Instituto Federal do Paraná (IFPR) e Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Este edital é de fluxo contínuo e possui 50 bolsas disponíveis. Ele tem como prioridade apoiar financeiramente as Instituições Científicas e Tecnológicas e de Inovação (ICTs) paranaenses na acolhida de pesquisadores ucranianos para atuar na pós-graduação stricto sensu. A Agência Araucária disponibilizou valor de R$ 18 milhões para a sua execução.