Fátima Roder é daquelas moradoras do Oeste do Paraná que adora uma boa prosa. Basta encostar no portão da propriedade para ela contar as novidades da produção de peixe (tilápia), milho e soja. A conversa rende porque ela anda feliz da vida nos últimos tempos. É que, depois de muito esperar, a estrada rural que passa em frente à sua casa está sendo pavimentada com pedras irregulares.
Obra que faz a dona Fátima respirar aliviada. Literalmente. Ela diz que já perdeu a conta do dinheiro que gastou com médico e remédio para tratar do combo respiratório bronquite, rinite e alergia. Doenças e sintomas que ficavam mais aflorados nos períodos sem chuva, culpa da poeira que teimava em subir justamente por causa da falta de pavimentação.
“Era um poeirão terrível. Moro há 40 anos aqui e há 40 anos sofro com a poeira. Não dá para deixar a porta de casa aberta. Agora, mesmo antes de terminar a obra, já está muito bom. Respiro melhor e durmo melhor”, diz, escancarando um largo sorriso.
A ação do Governo do Estado contempla 11.400 metros quadrados de readequação viária, nas linhas Bem Ti Vi e Alto Aurora, no interior de Maripá. O investimento por parte do Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento é de R$ 500 mil, com contrapartida municipal de R$ 33.301,80. A previsão é que sejam concluídas ainda neste ano.
“São intervenções com foco na melhoria da qualidade de vida de quem mora no interior das cidades, aquelas pessoas responsáveis por boa parte da produção agrícola do Paraná. Essas estruturas com pedras poliédricas melhoram o escoamento da safra, da produção, têm reflexo no transporte escolar e também na saúde das pessoas”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior.
PRODUÇÃO – O impacto do investimento vai mudar a logística de trabalho da piscicultora e comerciante Eldina Gabert Zoz. Há 24 anos na região, ela diz que a nova estrada resultará em uma ligação mais estruturada para Palotina e Assis Chateaubriand, cidades maiores vizinhas a Maripá.
Com isso, afirma, os peixes podem ser transportados sem atrasos e imprevistos, acabando com os riscos de os caminhões encalharem em dias de chuva. E, de quebra, os interessados terão mais facilidade para chegar à propriedade e adquirir uma muda de rosas do deserto.
Em nome da diversificação, Eldina começou a produzir e revender a espécie, com preços partindo de R$ 35. O enxerto, mais procurado, sai por R$ 55. “Essa estrada viabiliza tudo. Espero muito que o movimento aumente, será bom para todos aqui”, destaca. “Os caminhões pesados, carregando não sei quantas toneladas de peixe, não vão mais ficar encalhados”, acrescenta Fátima.
De acordo com o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2019, Maripá é o quinto maior produtor de tilápias do Paraná. Mais de 8 milhões de quilos de tilápia saíram da cidade de 5.582 habitantes, segundo o IBGE, no ano passado. Os dados são do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
“Maripá é um município essencialmente agrícola, com 360 quilômetros de estradas rurais, e praticamente 80% da arrecadação vem do agronegócio. Por isso a parceria com o Governo do Estado é tão importante, por levar infraestrutura a essas áreas”, ressalta o prefeito Anderson Bento Maria.
MANUTENÇÃO – O pedreiro, mestre de obras, pintor e algo mais que o contratante precisar ganha a vida arrumando propriedades na região. Concerta de coisas pequenas a grandes obras, conforme a necessidade. Trafega pela via ao menos três vezes na semana. A obra, diz ele, vai significar um alívio para o carro. Menos manutenção e mais dinheiro no bolso. “Esse era um pedido da comunidade bastante aguardado. Demorou, mas saiu”, afirma, enquanto finaliza os últimos ajustes de uma cerca que está erguendo.
Para o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, a iniciativa ajuda a preservar os recursos naturais e aumentar a competitividade da agroindústria paranaense. “Isso reduz o custo de manutenção das estradas rurais e garante melhores condições técnicas e logísticas para a produção agrícola”, explica.
CONVÊNIOS – Segundo ele, são atualmente 59 convênios para pavimentação ou readequação dessas vias em todas as regiões do Estado. Já foram contemplados 48 municípios dentro dessa estratégia de melhorar o escoamento da produção rural e o cotidiano das famílias que vivem no campo, totalizando cerca de 185 quilômetros.
As iniciativas fazem parte do Programa Estradas Rurais Integradas aos Princípios e Sistemas Conservacionistas – Estradas da Integração, gerenciado pelo Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável (Deagro).
O programa será ampliado com o financiamento de R$ 1,6 bilhão que o Governo do Estado captou junto ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Do montante, cerca de R$ 126 milhões serão destinados a obras de reestruturação nas vias do campo.