Um combustível mais limpo que proporciona consumo e desempenho de motor similar ao do diesel. Assim é o gás natural, cujo abastecimento voltado a veículos pesados a Companhia Paranaense de Gás (Compagas) busca fomentar por meio do projeto Corredor Azul, que tem como objetivo implementar rotas estratégicas e infraestrutura de abastecimento concentrado no transporte de cargas.
Por meio da iniciativa, a Companhia quer ampliar o número de postos no Estado que ofertam essa modalidade de combustível para caminhões, bem como o número de veículos pesados que utilizam o gás e ainda contribuir para a redução de emissões de poluentes.
“Entendemos que há uma janela de oportunidade para ampliar a participação do gás natural na matriz de transportes no País e destacá-lo como essencial para a transição energética dentro do contexto de mudanças climáticas”, diz Rafael Lamastra Junior, diretor-presidente da Compagas e presidente do Conselho de Administração da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado).
“Na medida que é um insumo menos poluente que outros de origem fóssil e está presente em nosso dia a dia como uma fonte viável para todos os segmentos de mercado, ainda contribui para o desenvolvimento de novas tecnologias e a aplicação do combustível em maior escala”, acrescenta.
O nome Corredor Azul surgiu de um projeto desenvolvido na Europa que estruturou rotas e infraestrutura de abastecimento de gás natural focado no transporte de cargas e permitiu a cobertura das principais rotas de escoamento de cargas dos países que integram o continente, bem como a diversificação energética nesse segmento.
No Brasil, o projeto nasceu no Paraná, por iniciativa da Compagas, e hoje é uma realidade em diversos estados. O objetivo comum é o de interligar rotas de transporte para que os caminhões possam rodar pelas principais rodovias do país utilizando o gás natural e o biometano (combustível comparável em condições técnicas ao gás natural, já que após o refino atinge alta concentração de metano em sua composição).
Em Curitiba, um posto localizado na Cidade Industrial já abastece diariamente caminhões movidos 100% a gás natural que percorrem a rota São Paulo – Curitiba para o transporte de mercadorias ligadas ao e-commerce. Cada caminhão tem a capacidade de abastecimento de 230 m³ de gás natural e este volume garante uma autonomia de mais de 400 quilômetros para o veículo - ou seja, ele consegue rodar da capital paranaense até o retorno à cidade paulista com o volume abastecido.
ALTERNATIVA – Consultor da iniciativa privada especializado em gás natural, Ricardo Vallejo diz que que o segmento de transporte é o maior consumidor de energia do País [cerca de 33%], e como o Brasil não é autossuficiente, especialmente no que diz respeito ao diesel, uma parcela significativa (23%) do que é consumido precisa ser importada. Nesse cenário, encontrar alternativas é mais do que necessário, especialmente em razão do impacto da importação na economia.
“O Brasil precisa, como agenda, encontrar um meio para fazer essa transição energética do diesel, que atinge a balança comercial do país”, alerta Vallejo. “Em 2019, de acordo com a ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], foram gastos US$ 6,6 bilhões em importação de diesel. Trazendo para o contexto atual, recentemente o valor do barril bateu US$ 83. Além disso, o real está muito desvalorizado. Se mantivermos essa tendência de 23% ou mais de importação por ano, com certeza teremos perdas [econômicas]”.
Vallejo lembra ainda que veículos leves têm o etanol como opção de renovável, mas para os pesados ainda há poucas tecnologias para substituir o diesel, já que a eletrificação de caminhões e ônibus ainda é uma realidade muito distante, tanto pela autonomia quanto pela potência - assim o gás natural e o biometano são combustíveis mais limpos que se mostram favoráveis e presentes no cenário atual.
Segundo Luciano Cherobim, assessor de Novos Negócios da Compagas, no que se refere ao mercado de gás, o indicativo é de crescimento na oferta interna do combustível. “As projeções de aumento nas ofertas de gás natural e biometano no Brasil demonstram um mercado potencial para inclusão destes combustíveis em substituição ao diesel, promovendo o aproveitamento da riqueza interna, menor dependência do diesel importado e principalmente suas inserções na transição energética para um mercado mais sustentável”, afirma.
CORREDOR AZUL – Com o Corredor Azul, a Compagas visa atrair e incentivar a utilização de veículos movidos 100% a gás. Para tanto, o projeto foi dividido em três fases – ou “ondas”. A primeira é a que está em desenvolvimento e visa aproveitar a base existente de postos que comercializam ou que possam comercializar o gás e que estão localizados em rodovias onde a Compagas já possui infraestrutura. Ela passa por Curitiba e Região Metropolitana, e cidades como Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e Paranaguá, no Litoral, além de rotas para os estados de São Paulo e Santa Catarina.
A onda seguinte foca nas regiões que ainda não possuem a infraestrutura da rede de distribuição de gás, com a identificação, em estudo, de cidades no Interior do Paraná, considerando o fluxo de veículos pesados das rodovias, a autonomia dos veículos e a quilometragem percorrida pelo caminhoneiro até a parada para descanso e/ou abastecimento e também o potencial de produção de biometano presente nas regiões. Por fim, a terceira onda prevê que as principais rodovias e rotas do Estado estejam 100% atendidas em gás natural para veículos pesados.
Marcelo Mendonça, diretor da Abegás, afirma que a pauta também está no governo federal, que tem intensificado a discussão para a ampliação do gás natural em transporte de cargas e no transporte público. Segundo ele, desde 2019, ações vêm sendo realizadas com a intenção de contribuir para o desenvolvimento desse mercado, incluindo a concessão de linhas de financiamento de baixo carbono.
“Há ainda o fato de que Brasil reinjeta 60 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural e que metade desse total seria suficiente para abastecer grande parte da frota de veículos pesados e substituir a parcela importada do diesel. Ou seja, podemos reduzir impactos econômicos, ambientais e trazer ainda mais desenvolvimento ao mercado de gás”, destaca.
Para Valter Alexandre Lopes de Lima, assessor da Compagas, a base de postos existentes é o ponto de partida para agilizar a transformação do segmento. O papel das distribuidoras é fomentar de forma estratégica esse mercado oferecendo uma alternativa mais econômica, inovadora e ambientalmente correta.
“O Paraná tem rotas importantes. Disponibilizar infraestrutura de abastecimento adequada para veículos pesados - com gás natural ou biometano - nas principais rodovias que escoam a produção e em pontos de maior movimentação beneficiam a economia e o desenvolvimento do estado, sem falar na contribuição aos profissionais do setor”, diz.
CAMINHÕES – Veículos pesados movidos a gás natural já são uma realidade no Brasil. Diretor da Scania, Paulo Genezini conta que a marca, embasada pelos pilares da eficiência energética, transporte inteligente e seguro e uso de combustíveis alternativos, está comercializando caminhões com motores a gás, ou seja, que já foram produzidos dessa forma – e não adaptados.
“Como a eletrificação total vai demorar para chegar aos transportes pesados, dos pontos de vista econômico e ambiental a solução a gás é a principal hoje, pois consegue o mesmo desempenho de um motor a diesel em termos de torque, e ainda contribui para a redução de poluentes na natureza”, afirma Genezini.
Um dos principais limitadores para o avanço da solução, na opinião do diretor da Scania, é a infraestrutura. Nos grandes centros, ele considera o abastecimento razoável, mas diz que no interior a escassez ainda é grande. Daí a importância de iniciativas como o Corredor Azul.
Para os proprietários de veículos pesados que desejam aproveitar os motores a diesel, também existem sistemas de conversão disponíveis que usam a tecnologia diesel-gás, permitindo a queima de uma mistura dos dois combustíveis – neste formato não é possível rodar somente com gás. As empresas convertedoras garantem a mesma potência e a menor emissão de poluentes em comparação ao motor original, o que reduz as despesas de consumo e operação do veículo e, ao mesmo tempo, mantém a vida útil e a performance do motor original.
SUSTENTABILIDADE – O uso do gás natural e do biometano em veículos pesados contribui significativamente para a redução de emissão de carbono. Em relação ao diesel, estima-se que o gás natural reduza a emissão de CO2 em 23%, enquanto o biometano alcança uma redução próxima a 85%%.
O abastecimento com gás natural ou biometano também é vantajoso para a saúde pública, pois são combustíveis que atuam para a diminuição da poluição local – quando comparada ao diesel, a redução de NOx (oxidação) é de 90% e de material particulados chega a 85%. Os efeitos são de curto prazo, com a colaboração para a redução de doenças cardiovasculares e para a perda de produtividade causada por esses poluentes.
Nesse sentido, para as empresas que possuem metas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), substituir as frotas de caminhões movidos a diesel para veículos abastecidos com gás natural pode ser um grande aliado para cumprir com os planos de sustentabilidade traçados, indo ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e também com as metas definidas pelos países na última COP26.
COMPAGAS – Empresa de economia mista, tem como acionista majoritária a Companhia Paranaense de Energia (Copel), com 51% das ações, a Gaspetro, com 24,5% e a Mitsui Gás e Energia do Brasil, com 24,5%. Em março de 2000, a empresa passou a ser a primeira distribuidora do Sul do país a fornecer o gás natural canalizado aos seus clientes, com a inauguração do ramal sul do gasoduto Bolívia – Brasil (Gasbol). Atualmente, a Compagas conta com quase 51 mil clientes dos segmentos residencial, comercial, industrial, veicular e geração de energia elétrica e está presente em 16 municípios: Araucária, Curitiba, Campo Largo, Balsa Nova, Palmeira, Ponta Grossa, São José dos Pinhais, Colombo, Quatro Barras, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Campina Grande do Sul, Paranaguá, Carambeí, Castro e Arapoti.