A rotina é recorrente na vida do major Daniel Lorenzetto, chefe da Divisão de Gestão de Desastres da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil do Paraná. Ao primeiro sinal do surgimento de um fenômeno natural no Estado ou no País, o telefone do militar toca fervorosamente. É o chamado para reunir as coisas e organizar a missão de ajudar quem mais precisa. Foi assim em 2009, com o rompimento da barragem de Algodões, no Norte do Piauí. E dez anos depois, em 2019, com outro rompimento de barragem, desta vez em Brumadinho, Minas Gerais.
Agora, quando o aparelho celular piscou, a solicitação era para partir rumo a Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Ajudar a minimizar o sofrimento causado pelas fortes chuvas de verão, a maior tragédia da história da cidade, com mais de 232 mortos e outros tantos desaparecidos, era a missão da vez.
O major ficou uma semana em Petrópolis, de 19 a 26 de fevereiro. Coordenou, ajudou, conversou e serviu de psicólogo até que se colocasse a cidade de novo nos prumos, se é que isso é possível. A missão foi determinada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior.
No total, duas equipes especializadas do Corpo de Bombeiros do Paraná foram enviadas ao local do desastre para reforçar o trabalho de buscas por vítimas desaparecidas. Foram militares do Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST) e quatro cães farejadores em uma missão exaustiva, repleta de dor e sofrimento. A missão oficial deve terminar neste final de semana.
Nesse momento, o Governo do Rio de Janeiro começou o processo de construção de casas para abrigar as famílias impactadas e do cadastro para o pagamento do aluguel social. Nos bairros e morros mais destruídos, toneladas de terra ainda são retiradas todos os dias.
À Agência Estadual de Notícias, Lorenzetto contou detalhes dessa operação. Confira a entrevista:
Como foi esse chamado para atuar em Petrópolis? O senhor já esperava ser convocado para trabalhar na região?
Como era o militar mais antigo, o chefe da divisão de desastres, e até 2020 o comandante do GOST, passou a ser natural que isso acontecesse, compor a força-tarefa do Paraná, apoiar no resgate das vítimas e também na parte técnica, na gestão do desastre.
Um trabalho de assessoramento, então.
Sim. Montaram um gabinete integrado de gestão de desastres, que envolvia todas as áreas. Esse órgão reunia todas as corporações que estavam em Petrópolis. A ideia era organizar as ações para que a cidade voltasse o mais rapidamente possível para a quase normalidade. Acompanhamos os resgates, as necessidades geológicas, as ajudas humanitárias, os abrigos, a limpeza da cidade… Enfim, um processo longo já que o município ficou muito prejudicado.
Imagino que também tenha atuado como psicólogo em algum momento, ajudando as vítimas, parentes…
Com certeza. O pessoal vinha conversar, pedir ou só agradecer por estarmos lá ajudando. A população local agradeceu muito. Havia muita gente em estado de choque, seja por ter perdido algum familiar ou por ter perdido tudo. Ter deixado para trás a casa e ter de passar a viver em um abrigo. Não é fácil. O impacto do desastre foi muito grande e servíamos como um ponto de conforto.
O senhor já participou de outras missões semelhantes?
Sim, em 2009 no Piauí, na barragem de Algodões, e em Brumadinho. Fora as ocorrências pelo Estado do Paraná. É sempre muito difícil.
Que tipo de ensinamento uma operação como essa deixa?
Uma gestão de uma ocorrência dessa magnitude gera conhecimento, um aprendizado. Convivendo com outras corporações, de outros estados e a Força Nacional, trazemos expertise para o Estado. Vale ressaltar que o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro e a Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro são corporações muito bem estruturadas e com bastante experiência nas ações de gestão. A resposta para desastres desta natureza é sempre muito ágil e eficiente, face às constantes ocorrências nos últimos anos.