O novo Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná (Cisop), em Cascavel, é um gigante de 126 salas de atendimento construído em uma área de 4,6 mil metros quadrados na Avenida Brasil, a principal da cidade. Ele será fundamental para garantir atendimento moderno em saúde para toda a região no curto, médio e longo prazos, dentro de dois princípios que são base da saúde pública paranaense: cuidado especializado e perto da casa das pessoas.
As obras da nova sede contam com investimento de R$ 3.171.626,41 do Governo do Estado, conveniados pela Secretaria da Saúde, o que corresponde a 50% do total de R$ 6.343.252,82 utilizados para finalmente concluir a obra – a outra metade é do Ministério da Saúde. Cerca de R$ 1,7 milhão, já disponível em caixa, será destinado para equipamentos e mobiliário.
A estrutura de dois andares, em formato de H, é uma mistura de concreto armado, alvenaria, drywall e vigas de metal. Além das salas dedicadas aos pacientes, há, ainda, um anfiteatro de 200 lugares, um centro de distribuição de medicamentos e consultórios equipados com tecnologia de ponta para realização de pequenos procedimentos ortopédicos e dermatológicos, além de cirurgias plásticas, intervenções odontológicas e o chamado ambulatório de feridos.
Os trabalhos alcançaram 85% no começo de setembro e a entrega está prevista para dezembro deste ano. O Cisop é a principal estrutura de atendimento secundário para uma população de quase 550 mil pessoas de 25 municípios.
“O novo Cisop vai revolucionar a atenção de especialidades médicas na região Oeste. Ele aposentará estruturas muito defasadas e antigas e será um centro de ambientação das novidades tecnológicas da saúde, como a telemedicina”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “Essa estratégia de atendimento consorciada, com gestão unificada e despesas divididas, evidencia que estamos aplicando recursos para a criação de um novo ciclo de sucesso”.
O Cisop realiza de 15 a 18 mil consultada por mês, além de fazer a indicação para 100 mil exames/mês. A ideia é de evoluir para, pelo menos, 20 mil consultas/mês a partir da abertura definitiva do novo espaço. Cerca de 90% dos recursos de manutenção do Cisop são dos municípios e 60% do público são de Cascavel. Serão 155 funcionários e 122 médicos atuando diariamente na nova estrutura.
“Os investimentos nos consórcios são fundamentais porque eles são estratégicos para o Paraná, exemplos de organização em saúde pública no País”, afirma o secretário estadual de Saúde, Beto Preto. “Com um consórcio bem estruturado ganhamos em escala de atendimento e na possibilidade de contratações mais baratas. É um investimento que une boas soluções na gestão pública”.
MUDANÇAS – O atual Cisop ocupa quatro espaços alugados com área total de 1,46 mil metros quadrados: a sede administrativa (três apartamentos de um prédio comercial), na Rua Erechim; o Ambulatório de Especialidades e a Psiquiatria, na Dom Pedro II; e o Ambulatório Materno Infantil, na Rua Souza Naves. A estrutura será triplicada, chegando a 4,6 mil metros quadrados, e vai encerrar uma trajetória de R$ 20 mil mensais de despesas fixas com a utilização de espaço alheio, gerando gastos extras de R$ 240 mil por ano.
A curiosa transformação dos banheiros ajuda a explicar o salto. Atualmente são dois masculinos e dois femininos no principal prédio de atendimento do Cisop, que é o Ambulatório de Especialidades. O novo imóvel terá oito banheiros com estrutura em mármore e várias cabines em cada, como em shoppings centers, além dos fraldários, que não existem na antiga unidade e impossibilitam atendimento pediátrico adequado.
Outra grande mudança será no almoxarifado, que atualmente fica num espaço a cinco quilômetros de distância do Centro de Cascavel, cedido pelo Sim Paraná (Serviço Integrado de Saúde Mental), o que gera deslocamentos para qualquer tipo de serviço, mesmo um muito simples como pegar panos novos para um grande faxina. Essa estrutura também será realocada para o prédio novo, que terá, ainda, um novo local adequado para armazenar os medicamentos adquiridos pelo Paraná Saúde.
Esse Ambulatório de Especialidades que será fechado é uma estrutura com cara de passado, de muita espera, datado pelos bancos em concreto do lado de fora e corredores acanhados (1,2 metro de largura) e apinhados de outros bancos e cadeiras. Os espaços de atendimento são aqueles que vêm à mente quando se pensa em precariedade de equipamentos, dos móveis às cortinas, passando pelas divisórias e grades de ferro.
O prédio tem cerca de 40 anos e a estrutura não suporta sequer uma instalação de ar-condicionado. O raio-x, por exemplo, não tem nem sala de espera. Quando chove, alaga. Quando o sol beira o insuportável, os pacientes não têm a quem recorrer. Em tempos normais, há várias complexidades, mas nesses bicudos tempos de pandemia essa rotina teve que ser rearranjada com as exigências de distanciamento social, problema que a nova unidade também não terá.
A cascavelense Ivone Cavalheiro Alves, 53, trata uma artrite reumatoide e uma fibromialgia no Cisop e é testemunha ocular das dificuldades impostas pela infraestrutura acanhada. “A cada três meses eu venho, mas às vezes passa de um mês pela quantidade de agendamentos e eu entro na fila. E como eu uso frequentemente o Cisop, percebo que muitas pessoas reclamam do prédio. São só dois banheiros, é tudo apertadinho”, afirma. “A expectativa é a melhor possível com a mudança, vai melhorar”.
NOVO CISOP – Internamente o novo Cisop é dividido em 126 salas. O primeiro andar é dedicado a consultórios, atendimento materno-infantil, almoxarifado e o setor administrativo (recursos humanos, contabilidades, compras), além de sala de reuniões e da diretoria. No segundo será o raio-x, a ortopedia e a sala de esterilização.
Os pacientes dos ônibus e vans que chegam dos municípios da região serão atendidos no térreo, que concentrará os procedimentos agendados. São dois elevadores ligando os três pisos, mas também há uma rampa de acesso para as macas.
O novo Cisop fica perto de um parque (Ecopark Oeste) remodelado, com pista de caminhada e ciclovia, e em uma região universitária. O projeto tem mais de dez anos e atualmente está na fase de paisagismo, instalações na fachada, pintura, retoques finais internos e compra de equipamentos.
A obra foi iniciada em 28 de fevereiro de 2014 e em 25 de agosto de 2015 foi interrompida, ainda na fase de fundação, porque a empresa que venceu a licitação faliu. Foram investidos cerca de R$ 3,5 milhões nesse primeiro contrato. Ela foi reiniciada em junho de 2018 com a atual gestão do Cisop, que conseguiu restabelecer o contrato e manter a programação do investimento.
As principais mudanças em relação ao projeto original são a caixa d’água instalada do lado de fora e as divisões em drywall. As mudanças foram necessárias por conta do peso do imóvel. Também foram feitas cinco estruturas metálicas internas e reforçados mais de 25 pilares e 80 vigas. Os projetos também não tinham sido compatibilizados, ou seja, havia falhas estruturais. Ainda ocorreram adaptações elétricas.
A programação completa prevê um refeitório ou uma cantina, nos fundos, para atender funcionários e visitantes. O estacionamento interno tem 45 vagas e o externo ainda não teve local definido.
TESTEMUNHA – “Teremos conforto, um espaço para as crianças. Isso é fundamental para quem vem de ônibus, de carro, de outra cidade. O que não temos hoje é infraestrutura de atendimento. Temos equipes, mas não o atendimento que queríamos”, afirma o diretor-geral do Cisop, Airton Simonetti.
Ele é testemunha das transformações do consórcio porque acompanha essa história desde o nascimento do Cisop, em 1995. “É um sonho realizado para toda a região. Foi um processo longo que contou com a confiança do Estado e dos prefeitos. Daqui vamos operacionalizar os atendimentos (odontologia, ortopedia, pequenos procedimentos) e as transformações que queremos implementar, como a disponibilidade de cirurgias nas microrregiões”, completa Simonetti.
O Cisop começou com 14 médicos e há quatro anos eram 6 mil consultas/mês, ou seja, em pouco tempo o número vai triplicar. As transformações mal cabem nas mãos ansiosas de Airton. “Vamos dar um salto a partir de janeiro. Seremos o consórcio mais organizado do País”, diz. “É a maior obra de saúde do Oeste nos últimos anos”. Ele chegou a “cancelar” as suas férias de fim de ano para fazer a transição para o novo espaço.
“Temos o Programa de Atendimento do Hipertenso, Diabético, Idoso e Paciente Psiquiátrico, por exemplo, mas quase não realizamos atendimentos pela falta de espaço. A gestante de alto risco também é atendida em um lugar improvisado, alugado, irregular para esse perfil. Tudo isso estará no novo espaço”, completa o diretor-geral.
É como se a transformação para o novo século imitasse a simbólica mudança da Rua Dom Pedro para a Avenida Brasil. “Se com 1.460 metros tocamos 25 anos, a nova estrutura vai deixar um legado para pelo menos 30 anos”, arremata Simonetti.
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Projeto de medicina virtual do Cisop promete agilizar atendimentos
O Cisop também será inaugurado com um projeto pioneiro de comunicação online entre os médicos. A novidade promete evitar a consulta presencial “errada” com integração completa do atendimento na unidade de saúde do município de origem com a segunda consulta, do Cisop, evitando deslocamentos desnecessários.
A plataforma, que ainda está sendo testada, é importante porque os pacientes dos consórcios são sempre referenciados. O objetivo é eliminar os erros. O projeto também promete acelerar as filas de atendimento, que chegam a cinco anos em algumas especialidades.
Pelo sistema, há uma plataforma de comunicação virtual entre o médico do município e o médico do Cisop, modelo um pouco diferente da telemedicina, que é entre paciente e médico. Ele foi desenvolvido e testado em Cascavel, uma vez que o Cisop abriu seu sistema para ajudar a implantação. O menor município da região, que é Iguatu, pagará menos de R$ 1 mil por mês para o sistema, que também prevê armazenamento de dados na nuvem.
“Atualmente 30% das nossas consultas são, de alguma maneira, indevidas. O paciente vem para o especialista errado. O Cisop é uma referência para avaliação, por isso precisamos de precisão. Esse canal em que o médico entra em contato conosco diminui esse problema”, afirma o diretor-geral do Cisop, Airton Simonetti. “E esse prontuário médico estará disponível para os dois médicos, o da base e o secundário. Inclusive com histórico de medicamentos. Estamos entrando no século 21”.
O projeto teria início em março no Cisop, mas a pandemia atrasou a instalação. Esse tempo ajudou a aprimorar a plataforma. “Com a pandemia teve isso de alguns pacientes não poderem vir. Ou seja, testamos tudo durante esse período com todos os municípios”, completa o diretor-geral. “E até hoje não gastamos um centavo. Abrimos as portas e deixamos a empresa responsável operacionalizá-lo. É hora de começar a implementação”.
CIRURGIAS – Outro projeto complementar do Cisop é a descentralização das cirurgias eletivas de média e baixa complexidades, que serão disponibilizadas em seis municípios de microrregião: Nova Aurora, Corbélia, Guaraniaçu, Quedas do Iguaçu, Capitão Leônidas Marques e Céu Azul. A ideia, também nesse contexto, é baixar em 30% os deslocamentos até Cascavel.
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Entenda o que são os consórcios de saúde
Os consórcios de atendimento têm como meta ampliar a oferta secundária para o Sistema Único de Saúde (SUS) nos municípios. Os pacientes costumam chegar a esses ambulatórios oriundos da atenção primária ou direcionados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), geralmente localizadas nos bairros.
O Governo do Estado auxilia os consórcios com R$ 30 milhões em custeio ao longo do ano. A partir de 2021 a expectativa é dobrar o repasse para R$ 60 milhões. Desde 2019 também foram repassados mais de R$ 5 milhões em equipamentos
Os consórcios são iniciativas autônomas das prefeituras, que passaram a se associar para gerir e prover melhores serviços à população. Eles somam os recursos dos municípios integrantes ao montante estadual e conseguem agilizar os atendimentos especializados. Essa estratégia ocupa papel de destaque na política de saúde pública do Paraná.
Os consórcios intermunicipais paranaenses são muito antigos, mais do que a média brasileira, fruto, inclusive, de uma legislação anterior. A lei federal (11.107) é de 2005, enquanto a lei complementar estadual (82) é de 1998. No Paraná são 25 consórcios para atendimentos eletivos, além dos consórcios de Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Paraná Saúde, especializado em aquisição de medicamentos.