O adolescente de 16 anos, para, volta os olhos para baixo, respira fundo por alguns segundos e solta com convicção: “Quando sair daqui quero entrar no Jovem Aprendiz, arrumar um emprego e ajudar a minha família. Vou mudar de vida, buscar um futuro novo. Tenho muita coisa pela frente”, diz, sem tropeçar nas palavras.
PA é um dos quatro meninos reclusos no Centro de Socioeducação (Cense) de Toledo, na Região Oeste, para cumprir medidas socioeducativas em privação de liberdade. Com capacidade para 60 internos, o espaço começou a funcionar no fim de maio. O investimento na unidade foi de R$ 14 milhões, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dentro de um programa da Secretaria da Segurança Pública, e do Tesouro do Estado.
“O cuidado com a criança e o adolescente é prioridade absoluta no Paraná. Estamos provendo a efetivação da garantia dos direitos dos adolescentes que cumprem medidas protetivas, fortalecendo, assim, o compromisso do Governo do Estado em qualificar a rede de atendimento juvenil”, destaca o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “O Sistema de Socioeducação do Paraná é referência nacional”, acrescenta.
Enquanto aguarda para começar a reescrever a própria história em Palotina, sua cidade natal, PA aproveita os dias dentro do Cense para se aperfeiçoar. Participa das diversas oficinas de qualificação oferecidas, que passam pelas artes, música e esportes, entre outras iniciativas. Com apoio psicológico, pedagógico e social, voltou a estudar. E se agarrou à leitura de diferentes clássicos da literatura.
“A estrutura oferecida é bem boa, podemos estudar, aprender… E ter lazer, jogar pingue-pongue, videogame, assistir televisão. Não dá para reclamar”, contou o adolescente.
ESPORTE – Já a diversão de PB é outra. Ele conta as horas para ter acesso ao ginásio e correr atrás da bola de futebol de salão. “Gosto de jogar um futebol. Se puder, é de manhã e à tarde”, diz o torcedor fanático do Santos, capaz de enumerar os ídolos do clube praiano desde Pelé, passando por Robinho até chegar em Neymar.
O complexo oferece, ainda, um posto médico com atenção integral aos adolescentes. “Essa obra era muito esperada pela comunidade de Toledo. Estrutura com a finalidade de cumprir a determinação judicial proporcionando direito à escolarização, à convivência saudável, atividades pedagógicas e esportivas”, explica o diretor do Cense, Sandro de Moraes.
CAMPANHAS EDUCATIVAS – Os Centros de Socioeducação desenvolvem também ações internas para intensificar a discussão e a reflexão sobre a prevenção ao uso de drogas. A iniciativa abrange os problemas causados pelas substâncias, o acesso a tratamentos e informações sobre as leis.
Para isso, são promovidas atividades culturais, como a apresentação de vídeos e filmes, rodas de conversa, teatro, palestras, atividades religiosas, oficinas e dinâmicas de grupo, de acordo com as recomendações e diretrizes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). A medida atende ao Estatuto da Criança e do Adolescente e Plano Decenal da Socioeducação. “São espaços humanizados, com pedagoga, psicóloga e assistente social voltadas para a melhoria das condições dos jovens”, destaca Moraes.
REDE DE APOIO – O Paraná conta atualmente com 19 Centros de Socioeducação espalhados em 16 municípios. A capacidade instalada é para 1.038 vagas, entre internação permanente e provisória. Do total, 30 são destinadas para o sexo feminino.
“Com os Censes, colocamos efetivamente em ação no Paraná o que preconiza o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Podemos transformar nossos adolescentes em conflito com a lei em verdadeiros cidadãos, com capacitação e formação”, ressalta David Antônio Pancotti, chefe do Departamento de Atendimento Socioeducativo do Paraná, da Secretaria de Estado da Família, Justiça e Trabalho.