Foi uma viagem de escola no fim da década de 1990 que fez com que Ana Rocha, os 12 anos, tivesse o clique que a levou a estudar Artes Visuais, virar produtora artística e ser, aos 31 anos, a diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR). Naquele ano, ela saiu de Telêmaco Borba, cidade onde passou parte da infância e adolescência, para conhecer o planetário do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, com a turma da escola.
Entretanto, algo a interessou mais no passeio do que as explicações sobre fenômenos celestes: o artista norueguês Alfredo Andersen. Também estava na rota uma visita ao museu homônimo, seguida de uma oficina de desenho. “Lembro muito dessa experiência de estar no museu”, lembra Ana.
Depois da visita, Ana estudou teatro, fez aulas de dança, mas nunca teve o ímpeto de ser artista. Um ano antes de fazer vestibular para o curso de Artes Visuais na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), onde se graduou em 2009, outra ida ao museu, acredita ela, pode ter influenciado na sua escolha: visitou a premiada exposição “Sonhando de olhos abertos”, no Museu Oscar Niemeyer (MON), em 2004, com obras icônicas do surrealismo e do dadaísmo.
A experiência a marcou, mas Ana havia decidido que queria fazer a faculdade para trabalhar com cinema. Na universidade, ela teve aulas de História da Arte com pesquisadoras como Cristina Mendes e Simone Landal. Nunca mais quis saber de cinema.
Fascinada pelo tema, estagiou na graduação em áreas como o setor educativo de museus e em projetos de restauro (participou da restauração do Paço da Liberdade). Viu que o ambiente asséptico não combinava com ela. Em outro estágio, na Galeria Casa da Imagem, Ana participou dos processos de organização de exposições e encantou-se. “Falei: tá aí, é isso que eu quero fazer. Gosto de estar aqui, no museu, conversando com artistas, pensando exposições e a mediação da arte com o público.”
PENSAR O ESPECTADOR - Graduada, Ana Rocha trabalhou por mais alguns anos na galeria e abriu sua produtora (a Anarocha art projects), em 2013. Produziu exposições na Bienal de Curitiba em 2011 e 2013, além de ter sido responsável pela logística internacional do evento em 2015.
Das mostras mais recentes, Ana realizou a individual de Rafael Silveira, no MON, e Loucuras Anunciadas, de Francisco Goya, na Caixa Cultural. “Esse lugar da curadoria e produção é muito legal porque você está no meio do caminho. Você conversa muito com o artista, mas tem que se preocupar o tempo todo com o público”, destaca Ana.
Essa preocupação é uma marca em projetos desenvolvidos por ela, como Extensões em 16XA4 (uma exposição/publicação fruto de uma convivência entre ela e oito artistas) e Cada vez mais perto, uma provocação de Ana para que quatro artistas criassem trabalhos fora de um museu ou galeria — uma casa abandonada, a galeria de um antigo cinema de rua e um apartamento residencial foram alguns dos locais escolhidos pelos artistas.
A única limitação da produtora e curadora era que os espaços fossem no Centro de Curitiba, uma maneira de incentivar uma relação mais ampla com a cidade. “Dessa forma, as pessoas não têm uma experiência só com a obra, mas com a arquitetura, com as pessoas que moram na rua. É pensar como a arte pode mudar a percepção do mundo”, diz a diretora, também pós-graduada em Artes Visuais (Universidade Positivo, 2014). Ela estudou justamente exposições que quebraram paradigmas na forma tradicional de expografia: Quando a atitude se torna forma", de 1969, e Xerox Book, de 1968.
HISTÓRIAS COM O ACERVO - Além de dialogar com diferentes públicos – algo plural, como Ana faz questão de salientar –, outro desejo da nova diretora do MAC-PR é repensar histórias com o acervo, a exemplo do que fazem hoje a Pinacoteca e o Museu de Arte de São Paulo.
“Que histórias são possíveis de contar com o acervo que as instituições têm. Esse é um modelo que me interessa muito trazer para o MAC-PR, envolvendo também historiadores, antropólogos, sociólogos. Minha ideia é fazer essas releituras”, diz Ana, que quer, ainda, estimular a produção contemporânea e estabelecer diálogos entre artistas do acervo com novos profissionais.
Se ela já tinha pensado em dirigir um museu? Sim, mas não que isso pudesse acontecer tão cedo. “Tenho uma carreira bem ativa, são dez anos trabalhando. Pensar uma instituição tem uma outra dinâmica. Mas é uma evolução do trabalho, uma lógica diferente e um desafio. Estou feliz da vida, mesmo”.