Cristiane Senn é uma mulher de cinema. Desde adolescente, quando era estudante do ensino médio no Colégio Estadual do Paraná, se divertia em casa, diante da televisão, assistindo, na Sessão Tarde, a “Curtindo a Vida Adoidado” (1986), clássico teen de John Hughes. Algo lhe dizia que havia algo a mais naquela divertida comédia a ser lido nas imagens, nas entrelinhas do roteiro. Essa inquietação, que aos poucos se estendeu às obras de grandes mestres como Alfred Hitchcock e Federico Fellini, a levou a se aproximar mais e mais do audiovisual, até transformá-lo em seu ofício. “Cinema é uma coisa só. Todos os filmes merecem atenção.”
A nova diretora do Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR) formou-se, há 12 anos, em Publicidade e Propaganda na UniCuritiba. Lá, graças às aulas da professora Anuschka Lemos, descobriu o gosto pela fotografia, enquanto que nas do jornalista Victor Folquening (morto em 2012, vítima de um atropelamento) a fizeram chegar ainda mais perto da sétima arte. Foi um passo para que decidisse não ficar na primeira graduação: mal recebeu o diploma e já engatou um segundo curso, Cinema e Vídeo, na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), antiga Faculdade de Artes do Paraná (FAP), concluído em 2012.
Cristiane não se tornou, contudo, uma cineasta – pelo menos não por enquanto. Sua experiência como aluna de uma escola de artes e o convívio estreito com o “povo do cinema” a conduziram a outros territórios. Já no ano de sua formatura na Unespar tornou-se produtora cultural, vindo a desenvolver diversos projetos junto à Tambor Multiartes, ao lado do cineasta e professor universitário Marcelo Munhoz. Lá, desenvolveu e participou de projetos importantes, como o “Ficção Viva”, que entre 2013 e 2017 trouxe a Curitiba, para oficinas de roteiro, realizadores consagrados, cujas obras singulares vêm transformando o cenário cinematográfico mundial.
Entre esses diretores estão o brasileiro Kléber Mendonça Filho (de “Aquarius”), a argentina Lucrecia Martel (“O Pântano”), o mexicano Carlos Reygadas (“Luz Silenciosa”) e o português Miguel Gomes (“Tabu”). Também na empresa, produziu oficinas de cinema e criou o Núcleo de Crítica de Cinema, do qual foi coordenadora. “Tenho enorme interesse por fomentar essa área da cinefilia e da crítica também aqui no MIS-PR”, diz a diretora do museu. “Vejo os cineclubes como espaços de conhecimento, na medida em que trazem o público para falar dos filmes, o que coloca as obras em constante movimento”.
Para Cristiane, o MIS-PR tem como uma de suas principais atribuições, além da manutenção e exposição de seu amplo acervo, que hoje chega a cerca de um milhão de itens, entre fotos, películas, discos, livros e documentos, atuar como agente de difusão, formação e multiplicação de conhecimentos. “Enxergo o MIS-PR com um potencial muito grande de difusão. Possui muito a colocar a serviço da comunidade”.
Para pôr essa missão em prática, ela vem acumulando, ao longo dos últimos anos, experiências profissionais valiosas.
Entre 2017 e 2018, por exemplo, Cristiane atuou como ministrante e diretora de produção do “Lá Longe, Aqui Perto: Cinema nos Faxinais”, projeto de cinema e educação, que promoveu cineclubes – sessões de cinema seguidas de conversas e debates – nos Faxinais da Água Quente dos Meiras, Lageado dos Mellos (Rio Azul), Lageado de Baixo (Mallet), Emboque (São Mateus do Sul), Rio do Couro (Irati), Marmeleiros e Salto (Rebouças), todos na região central do Estado do Paraná. Além dos cineclubes, o projeto ofereceu capacitações para multiplicadores e oficinas de cinema nessas comunidades.
Em sua gestão à frente do museu, Cristiane já tem dado passos importantes nesse sentido. Ao longo de todo mês de abril, o CineMIS, projeto de exibição de filmes da instituição, está dedicando toda a sua programação à produção audiovisual do Estado na Mostra de Cinema Paranaense Contemporâneo, com a exibição de longas e curtas-metragens, de ficção e documentários, em sessões que acontecem às terças e quintas-feiras, às 15 horas.
Também foi aberta no fim de março a exposição “Revisitando Curitiba”, que reúne 28 imagens do acervo fotográfico do museu que retratam a cidade em diferentes momentos de sua história. Nesta sexta-sexta-feira (12), têm início tours guiados pela mostra, que em seguida também vão percorrer os locais do centro da cidade. As visitas serão feitas em grupos de cinco a 15 pessoas com idade acima de 18 anos. O percurso terá duração de aproximadamente uma hora para que os visitantes possam observar e registrar “uma viagem ao longo do tempo”, prestando atenção nas ruas, praças, edifícios históricos, paisagismo, entre outras transformações vivenciadas na Capital.