Museu Paranaense terá exposição colaborativa que reinterpreta seu acervo histórico

“Objeto sujeito” é uma mostra de longa duração que reúne doze artistas brasileiros contemporâneos dialogando, através de suas obras, com o acervo histórico do MUPA. Museu abraça novamente o movimento contemporâneo de expansão do pensamento crítico.
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28/11/2023 - 08:30
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O Museu Paranaense celebra no fim de ano mais um marco na reorientação de suas ações para uma revisão crítica de sua própria história e consolidação de novas perspectivas na criação de narrativas expositivas. No dia 14 de dezembro será inaugurada “Objeto sujeito”, mostra de longa duração que reúne doze artistas brasileiros contemporâneos dialogando, através de suas obras, com o acervo histórico do MUPA. A exposição é realizada por um coletivo curatorial, composto por Felipe Vilas Bôas e Richard Romanini, do MUPA, e Pollyana Quintella, curadora convidada.

Na mesma data, abre ao público uma segunda mostra, “mau da língua”, exposição de curta duração individual e inédita do artista mineiro Davi de Jesus do Nascimento.

Essas exposições manifestam o movimento atual do Museu Paranaense na execução de pesquisas e ações transdisciplinares que põe em relação os núcleos tradicionais de pesquisa do museu – Arqueologia, Antropologia e História – com práticas artísticas e dinâmicas sociais contemporâneas, possibilitando diferentes ativações sobre os acervos. A abertura de um museu centenário às práticas reafirma o interesse da instituição para uma reflexão de descolonizar o pensamento, construir novos saberes e olhar para o futuro por meio das artes e de seu acervo.

“Objeto sujeito” é uma profunda incursão na trajetória do MUPA e sua relação com eventos históricos locais e nacionais, que ganham novas camadas de interpretação e sentido no presente. São mais de 140 obras e itens do acervo postos em diálogo com obras – em sua maioria inéditas – de Arthur Palhano, Clara Moreira, C. L. Salvaro, Érica Storer, Frederico Filippi, Gustavo Magalhães, Gustavo Caboco, Isis Gasparini, Josi, Laryssa Machada, Pedro França, e Willian Santos.

Para a diretora do museu, Gabriela Bettega, a mostra convida a uma atenção “contratual” das peças, a entender um objeto não apenas pela atenção a ele mesmo, individualmente, mas a todo um contexto no qual aparece inserido. “As obras dos artistas contemporâneos que entrarão para o acervo da instituição a partir deste momento, acostadas entre as demais peças e objetos, estimulam a compreender o presente a partir do passado criando uma plataforma única, conjuntural, para entendimentos futuros”, afirma.

As diferentes linguagens, como fotografia, pintura, escultura e vídeo, mobilizam, a partir do acervo, temas como a instituição museal, a transformação da paisagem, a literatura simbolista, a exploração ambiental, o esporte e a política. De acordo com o texto curatorial da exposição, “historicizar o acervo histórico existente com formas contemporâneas de linguagem permite a emergência de novos olhares, sentimentos e afetos constituidores de histórias”.

A criação de narrativas não lineares sobre a história é materializada também na expografia da mostra. Em vez de obras expostas lado a lado na parede, com um fluxo de fruição induzido, os visitantes de “Objeto sujeito” vão se deparar com ilhas expositivas em estruturas de alumínio e blocos de concreto, que possibilitam diferentes entradas e conexões na exposição.

SOBRE OS ARTISTAS

Arthur Palhano (Rio de Janeiro,1996) – Investiga a intrincada relação entre ação e gesto no âmbito da pintura. Com um olhar atento às múltiplas sobreposições presentes em seu fazer, ele examina meticulosamente os procedimentos envolvidos, desvelando as múltiplas camadas históricas constituintes do suporte canônico da pintura. Tanto o gesto quanto as ferramentas escolhidas para figurar as múltiplas paisagens ou imagens de seu imaginário poético exigem uma disputa entre o que é apresentado como frente e fundo de sua pintura, de modo que eles sejam negociados à medida que suas profundezas são reveladas.

Clara Moreira (Recife, 1984) – É artista, nasceu e vive no Recife. Em sua prática, utiliza o desenho como escrita poética e artesania de corpo. “Venho andando com o desenho, lentamente, sobre este corpo que sou e que carrego e noutras vezes o arrasto (definitivamente o arrasto), e ele me escapa pelos dedos, vindo da escápula exausta, desenho-me em bichos, desenho o fio do espelho, desfio de dentro as fitas de cetim, amarro-me no fio de cabelo”, afirma. Sua formação artística foi na infância, em convívio familiar com artistas populares no subúrbio do Recife, onde aprendeu habilidades de desenho e pintura.

C. L. Salvaro (Curitiba, 1980) – Atualmente vive em São Paulo. Sua poética parte da reação aos estímulos externos, o ambiente físico e social no qual está inserido, a partir dos quais desenvolve projetos in loco, muitas vezes situados na confluência entre esculturas, objetos e instalações. Sempre considerando os diferentes contextos dos espaços e as transformações a que estão submetidos, seus trabalhos adotam estratégias variadas que incorporam o vocabulário da ruína urbana para abordar temas como impermanência, instabilidade e resíduo.

Érica Storer (Curitiba, 1992) – Vive e trabalha em Curitiba, Brasil. Seu trabalho e pesquisa transitam entre a tradição da performance de longa duração, vídeo e instalação, como uma estratégia de criar ficções e constranger os acordos entre a ética neoliberal e o trabalho cognitivo contemporâneo.

Gustavo Magalhães (Goioerê, 1998) – É artista visual, vive e trabalha em Curitiba e produz no campo da pintura desde 2013. Em seu trabalho o artista se utiliza da coleta e da descontextualização de imagens oriundas de fontes diversas, como redes sociais, revistas e produções audiovisuais. A materialidade e uso diversificado de suportes precários também marcam seu trabalho, como madeiras, tecidos e papéis. Suas pinturas abordam temas que tangenciam questões sociais como violência, raça e identidade, assim como questões próprias da arte e da linguagem da pintura.

Gustavo Caboco (Curitiba, 1989) – É artista visual, escritor e diretor Wapichana, trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra. Sua produção com desenho-documento, pintura, texto, bordado, animação e performance propõe maneiras de refletir sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e sobre a produção e as retomadas da memória. Dedica-se também à pesquisa autônoma em acervos museológicos para contribuir na luta dos povos indígenas.

Isis Gasparini (São Paulo, 1989) – É artista, pesquisadora nas áreas da Dança e Artes Visuais, mestra em Artes pela ECA-USP. Seus trabalhos compreendem os campos da coreografia, audiovisual e instalação, e investigam os potenciais de movimento do corpo dentro do espaço expositivo, em sua relação com uma obra de arte ou instituição.

Josi (Itamarandiba, 1983) – Saberes vão se acumulando nas mãos pelo lavar, desenho, cozinha, cerâmica, tecer, pintura, fiar, escrita. Com esses treinamentos, ela desfia e tece receitas de ocupar tempos e espaços no mover de suas subjetividades. Foi contemplada com os prêmios Pipa 2022 e 8° Prêmio Artes do Instituto Tomie Ohtake 2022.

Laryssa Machada (Porto Alegre, 1993) – É artista visual, fotógrafa e filmmaker. Atualmente vive no Rio de Janeiro. Constrói imagens enquanto rituais de descolonização (e expansões de liberdade) e novas narrativas de presente / futuro. Seus trabalhos discutem a construção de imagem sobre LGBTQIA+'s, indígenas e culturas marrons.

Pedro França (Rio de Janeiro, 1984) – É artista e membro da Cia Teatral Ueinzz. Sua prática atravessa mídias como pintura, cerâmica, vídeo, performance e tecnologias digitais. Seus interesses gravitam em torno da virtualidade como forma de costurar pesados remotos e futuros longínquos, do universo onírico e dos traumas individuais e coletivos elaborados como proposições políticas.

Willian Santos (Curitiba, 1985) – Há mais de 16 anos trabalhando com arte contemporânea, a obra e a pesquisa de Willian Santos se constituem do acolhimento dos conhecimentos da natureza para a sua expressão em exercícios da linguagem, criando pinturas, desenhos, objetos e instalações site-specific que convocam a um exame interno.

CURADORA CONVIDADA

Pollyana Quintella é escritora, pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, além de doutoranda pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Possui mestrado em História da Arte pela UERJ, ocasião em que pesquisou a obra de Mário Pedrosa, e graduação em História da Arte pela UFRJ. No Museu de Arte do Rio (MAR), atuou como curadora assistente entre 2018 e 2021. Como curadora, realizou, entre outras, as mostras "FARSA – Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal" (SESC Pompeia), "Flávio de Carvalho Experimental" (SESC Pompeia), "Lenora de Barros: Minha Língua" (Pinacoteca) e "Cao Fei: o futuro não é um sonho" (Pinacoteca).

Nos últimos anos, escreveu para diversos periódicos como a Folha de S.Paulo, O Globo, Revista ZUM, Revista Select, Revista Continente, Revista ArteBrasileiros!, entre outras, com ênfase nas relações entre arte contemporânea, cultura visual e política. Dá aulas sobre arte brasileira e teoria da imagem em cursos livres. Em 2023 foi contemplada com uma bolsa da Getty Foundation para integrar o Art and Power School, realizado na Bibliotheca Hertziana – Max Planck Institute for Art History, em Roma.

UMA NOITE, DUAS ABERTURAS – Na mesma noite da inauguração de "Objeto sujeito", o MUPA estreia também "mau na língua", mostra individual, inédita e de curta duração do artista mineiro Davi de Jesus do Nascimento. Nascido em Pirapora (MG), às margens do Rio São Francisco, o artista tem se dedicado a criações que versam sobre a passagem do tempo, a memória, o humano e o orgânico. Surgem em suas obras temas como a afetividade e pertencimento em relação à vida ribeirinha, em toda a sua pluralidade de águas, gentes e terras.

A mostra é inédita em Curitiba e vai ocupar a sala Lange de Morretes do MUPA entre dezembro de 2023 e março de 2024. O público poderá conferir de perto trabalhos criados especialmente para a exposição, com aquarelas, fotografias, vídeo, escultura e instalação, além das águas guardadas, aguamentos barranqueiros e desenhos que marcam a identidade singular do artista e da mostra.

Serviço

Exposições “Objeto sujeito” e “mau da língua”

Abertura: 14 de dezembro, 19h

Museu Paranaense – Rua Kellers, 285 – Curitiba/PR

Entrada gratuita

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