No Paraná, o café tem um aroma a mais: é uma história feminina e do grupo Mulheres do Café. Com foco nos cafés especiais, o projeto, nascido no Norte Pioneiro, reúne cafeicultoras para transferência de tecnologias e informações com a intenção de aumentar a qualidade, agregar valor à produção e valorizar o trabalho feminino na agricultura. Além do Norte Pioneiro, o projeto, criado em 2013, já está presente no Vale do Ivaí e prevê mais expansões.
Para a produtora Elielce Monteiro, que acompanhou seus avós e seus pais na produção de café, a oportunidade de participar do projeto fez ela ganhar forças para continuar com o trabalho da família. Ela adquiriu, além de conhecimento técnico, mais autoconfiança.
“Participar deste grupo foi transformador. Agora tenho a certeza de que devo e posso seguir na produção de cafés, mesmo com tantos desafios enfrentados, principalmente, por ser mulher”, afirma Elielce. “O projeto trouxe para mim o autoconhecimento. Hoje sei que eu atuo melhor nos bastidores, mas também sei que os bastidores são tão importantes quanto o palco”.
O projeto tem a intenção de valorizar o trabalho feminino na agricultora através de uma equipe multisciplinar que oferece cursos para o desenvolvimento pessoal das agricultoras. De acordo com o último Censo Agropecuário divulgado pelo IBGE, em 2017, 19% de todos os estabelecimentos agropecuários no Brasil são comandados por mulheres. O número aumentou desde o Censo anterior, em 2016, quando as mulheres comandavam 13% das propriedades rurais do País.
Elas também estão ao lado dos maridos fazendo a gestão compartilhada e tomando as decisões nas propriedades. Em 20% dos mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários, o casal decide unido, isto representa 1.029.640 locais do Brasil.
Elielce reforça o quanto é necessária esta valorização da mulher agricultora. “Sempre trabalhamos na roça, mas antes achávamos que estávamos ajudando o marido. O que não é verdade. Trabalhamos juntos, respeitando a capacidade e limitação de cada um”, completa.
PROJETO – Criado pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater), o projeto atua em 11 municípios do Norte Pioneiro e mais 4 municípios do Vale do Ivaí e conta com mais de 250 mulheres, divididas em 13 grupos.
De acordo com a coordenadora do programa e extensionista do IDR-Paraná, Cíntia Mara Lopes de Souza, o projeto nasceu pela percepção dos extensionistas ao acompanharem as produções de café da região. “Ao visitarmos as propriedades verificávamos uma participação ativa das mulheres no trabalho, mas nas capacitações técnicas eram os homens que participavam e então resolvemos agregar, de alguma forma, a mulher produtora. Criamos capacitações técnicas voltadas para o público feminino e deu super certo”, afirma.
Assistência técnica na propriedade e reuniões periódicas para transferência de tecnologias fazem parte das ações do IDR-Paraná no projeto. O resto fica por conta do empenho e força de vontade das produtoras que não decepcionam.
Os cafés produzidos já receberam diversos prêmios, inclusive no concurso Café Qualidade Paraná, que avalia, anualmente, cafés gourmet do Paraná. Há seis anos os cafés especiais produzidos pelas Mulheres do Café se mantêm no pódio, com destaque para o ano de 2015, nos quais as produções femininas ganharam as três modalidades do concurso.
Em expansão no Paraná principalmente a partir de 2010, foi nos cafés especiais que o Instituto viu a oportunidade de desenvolver esse potencial entre os pequenos produtores de agricultura familiar ao mesmo tempo em que empodera as mulheres.
Cíntia lembra que antes do projeto não havia produção de cafés especiais na região do Norte Pioneiro e no início a preocupação das mulheres era se haveria mercado para o segmento. Mas já no começo conseguiram um valor agregado três vezes maior do que nos cafés comuns.
Para alavancar ainda mais as vendas o IDR-Paraná criou ferramentas de avaliação dos cafés para selecionar os melhores entre elas e colocar à venda em forma de leilão. Este evento de avaliação era chamado de Cup das Mulheres do Café e já na sua primeira edição o café vencedor foi arrematado por um valor acima de mercado e ficou conhecido com o café mais caro do Paraná. Foram 28 quilos vendidos por R$ 3.800.
“Já virou tradição. As cafeterias esperam pelo leilão e, além do lucro para a vencedora, é uma maneira de divulgar a marca, já que a embalagem conta com a foto da produtora e as cafeterias fazem questão de expor de alguma forma”, conta Cíntia.
FUTURO – E elas não param por aqui. A expectativa do projeto é fortalecer o turismo rural para quem se interessar em participar da produção e aprender sobre a cafeicultura. Para isso devem investir no Caminho das Mulheres do Café, uma rota de propriedades que abrem suas produções para compartilhar conhecimento. A rota passa por três cidades: Pinhalão, Tomazina e Carlópolis, todas no Norte Pioneiro.
Além do Turismo Rural, o projeto prevê a criação de uma frente de trabalho com o foco nos jovens. A intenção é evitar o êxodo rural. “O mundo dos cafés especiais é jovem e precisamos fazer com que estes jovens, que lá no início do projeto eram crianças, se identifiquem e se interessem em manter o trabalho da família”, reforça a coordenadora.
PRODUÇÃO PARANAENSE – Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o 5º no ranking nacional de produção do café arábica. No estado como um todo a safra de café commodity, em 2020, atingiu 58 mil toneladas, produzidos em uma área total de 34 mil hectares. O Valor Bruto da Produção (VBP) do café em 2020 (último dado disponível) foi de R$ 481 milhões.
Os cafés paranaenses são exportados para 97 países, o que gera um lucro de, em média, US$ 342 milhões ao ano. Os principais destinos são Estados Unidos, Rússia, Japão, Ucrânia e Reino Unido.