Dos 94 servidores que trabalham nas áreas sob responsabilidade da Controladoria-Geral do Estado, 55 são mulheres. Entre elas, três se destacam por ter mais de 30 anos de serviço público e testemunharam a evolução da relação entre homens e mulheres no ambiente de trabalho.
Todas acreditam que o Dia Internacional da Mulher deve ser comemorado, pelas suas histórias para conquistar espaço e se manter trabalhando.
O controlador-geral do Estado, Raul Siqueira, disse que é uma honra estar à frente de uma equipe com cerca de 60% de servidoras e perceber o quanto o mundo do trabalho perdeu, anos atrás, em dificultar a entrada de mulheres. “As mulheres têm sensibilidade e percepção de ética e integridade que vem de sua essência de protetora e muitas vezes provedora. A mulher sempre é referência quando falamos em ética e dedicação”, disse Siqueira.
ÚNICA – A engenheira civil Georgina Carbonero entrou no Estado em 1990 e escolheu atuar em fiscalização de obras. Era a única mulher entre os cerca de 15 fiscais da então Regional de Curitiba e dos outros 14 escritórios regionais do estado.
“Foi difícil, não tinha espaço. Não viam como alguém igual fazendo a mesma coisa. Quando entrei, meu chefe falou para eu ir para outro setor, porque fiscalização não era coisa de mulher. Eu tinha que fazer o trabalho muito melhor que meus colegas para ser respeitada”, contou.
Também não era respeitada naquele ambiente predominantemente masculino, em que os outros funcionários faziam piadas, brincadeiras de mau gosto ou com palavras de baixo calão. “Vem trabalhar no meio de homens, tem que aguentar”, ouvia frequentemente. Mas isso não a abalou, pelo menos não a ponto de fazê-la desistir. “Eu gosto de desafio”, resumiu.
“Hoje, jamais fariam o que faziam antigamente”. No concurso para engenheiros em 2014, mais da metade era mulheres. Hoje Georgina integra a equipe da Coordenação de Corregedoria.
BATALHA – Diferente de Georgina, Leia Castellar teve outra história. Com 34 anos de serviço público, boa parte no Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) e alguns anos na Casa Civil, afirmou nunca ter sido discriminada no ambiente de trabalho mas acompanhou a conquista de espaço pela mulher. “A mulher acordou daquela situação de mulher dona de casa, submissa”, avaliou.
Apesar de os ambientes de trabalho terem sido amistosos, ela lamenta, por conta do casamento, ter sido cerceada do direito de estudar. “Só me formei depois de 2002 e isso fez toda a diferença na minha carreira, o que poderia ter ocorrido antes”, relatou. “Hoje, vemos uma mulher como procuradora-geral do Estado (Letícia Ferreira da Silva), vemos mulheres no alto escalão”, comparou Leia.
Ela criou o filho sozinha, fazendo dupla jornada, e acredita que a necessidade de se manter sem ajuda de um homem (seu pai morreu quando ela era criança e sua mãe tinha 28 anos) fez com que tivesse força para superar os desafios e enfrentasse situações de forma a não permitir preconceito ou ser menosprezada pelo seu gênero. Na CGE, Leia trabalha na Coordenadoria de Desenvolvimento Profissional.
CONQUISTA - Luci Netska, coordenadora de Controle Interno, na CGE, trabalhou a maior parte de seus 31 anos de serviço público na Casa Civil, no setor de recursos humanos. “Nunca tive problema com discriminação. No RH, quando entrei, havia somente dois homens, e a gente não ‘deixava barato’”, comentou.
Luci acompanhou o processo de conquista de espaço pelo gênero feminino. “A mulher hoje tem mais visibilidade. Ela estudou, ela correu atrás e hoje está em todas as áreas”, disse, afirmativamente.
Naquela década de 90, ocorreu um caso que Luci não esquece: uma conhecida passou na prova escrita de auditor um concurso público. “No serviço, ela tinha ido de salto alto e pediram para que subisse em um caminhão. Não teve dúvida, tirou o sapato e subiu, apesar da torcida contra e dos risos às suas costas, que apostavam na sua desistência”, relatou.