As batidas incessantes do martelo e o ir e vir dos carrinhos de mão carregados de madeiras desgastadas pelo tempo agora fazem companhia ao canto dos pássaros e à sinfonia calma das ondas na Ilha das Cobras, na baía de Paranaguá.
A mudança repentina na rotina de sossego absoluto do local indica que o paraíso ecológico do Litoral paranaense começou a mudar de cara. O primeiro ato da força-tarefa que vai transformar a antiga residência oficial de veraneio do governador do Estado em escola de gastronomia, turismo e educação ambiental começou oficialmente na segunda-feira (14).
O investimento do Governo, feito pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e Turismo no projeto é de R$ 2,2 milhões – R$ 1,8 milhão na reforma estrutural das cinco edificações existentes no local e mais R$ 400 mil na elaboração do plano de manejo do parque.
“O que era usado para o lazer da família do governante passará a ser um instrumento de educação para milhares de pessoas no Paraná. O mundo moderno não admite mais essas mordomias. É um compromisso meu acabar com tudo o que for supérfluo no Estado”, destaca o governador Carlos Massa Ratinho Junior.
O primeiro grupo de operários já firmou acampamento no Parque Estadual da Ilha das Cobras. A ordem é botar ordem na casa. Primeiro um inventário geral, finalizado ainda na segunda-feira, seguido por uma grande limpeza que marcou a terça-feira (15). E aí sim avança para a obra estrutural, começando pela troca do telhado (ou o que sobrou dele) da imensa casa cor de tijolo que por anos atendeu ao chefe do Poder Executivo do Paraná. O prazo de conclusão é de 360 dias.
“Essa primeira fase vai demorar de dois a três meses. O abandono acabou com o detalhado e foi responsável pela infiltração de água no imóvel. Conforme formos avançando, vamos ampliar o número de trabalhadores para entregar tudo a tempo”, explica o engenheiro responsável pela obra, Leonardo Patrício Valério.
É justamente a residência oficial, uma casa de plano baixo cercada de conforto como piscina e churrasqueiras, que vai abrigar a futura escola. Madeiras descompensadas, corrimões enferrujados e ventiladores desmontados indicam que por ali não passava ninguém oficialmente há muito tempo. E também que a empreitada vai dar trabalho. “Sabe como é reforma, não é. É só começar a mexer para encontrar surpresas inesperadas”, afirma o engenheiro.
Reformulação que precisará de um grande amparo logístico para avançar. Os materiais para a construção só podem chegar à ilha por meio de balsas, com saídas de Paranaguá ou Pontal do Paraná. Após o desembarque, são mais cerca de 300 metros de caminhada para levar os insumos até o ponto da reforma.
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Adaptações, porém, que não tiram o contentamento do grupo. Eles sabem que estão ajudando a dar uma utilidade pública a um imóvel tão representativo, capaz de fazer inveja a grandes resorts espalhados pelo País. “Esse lugar é lindo, encantador”, diz Valério, com a experiência de quem mora na vizinhança e costumava pescar na infância com o pai na região, tendo o belo cenário da Ilha das Cobras como pano de fundo.
PRIORIDADE – Reorganizar a ilha e dar vida útil ao imóvel por anos abandonado consta no plano de governo de Ratinho Junior e é tratado como prioridade dentro do Estado. “Queremos qualificar as pessoas que vão atender nossos turistas no futuro, movimentar e desenvolver o Litoral. A Ilha das Cobras vai se transformar em uma ilha sustentável, com foco na educação ambiental e no ensino profissionalizante”, ressalta o governador.
Além da reformulação da sede principal, o programa contempla a reforma de duas edificações à beira do mar. Uma delas será transformada em laboratório para pesquisas e a outra em alojamento para os próprios pesquisadores. Haverá ainda um ponto de segurança e outro para guardar o gerador de energia elétrica.
A Copel também confirmou o investimento de pouco mais de R$ 4 milhões na implantação de um sistema de geração solar-fotovoltaica associado a baterias de última geração para fornecer a eletricidade necessária à ilha. A Sanepar, por sua vez, vai construir no local uma estação de tratamento e distribuição de água.
“A Ilha das Cobras é um local de uma riqueza ambiental imensa. Pretendemos com esse projeto aliar turismo, gastronomia, hotelaria, capacitação, pesquisa e educação ambiental. Um programa de meio ambiente, seguindo os moldes do que o Projeto Tamar faz em outros pontos do País”, afirma o diretor de políticas ambientais da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Rafael Andreguetto.
O Projeto Tamar a que se refere Andreguetto busca promover a recuperação das tartarugas marinhas, desenvolvendo ações de pesquisa, conservação e inclusão social. Com o tempo, contudo, o trabalho se expandiu, com o apoio ao desenvolvimento das comunidades costeiras, de forma a oferecer alternativas econômicas que amenizem a questão social, reduzindo assim a pressão humana sobre as tartarugas marinhas.
As atividades do Tamar são organizadas a partir de três linhas de ação: conservação e pesquisa aplicada, educação ambiental e desenvolvimento local sustentável. Desde o início, o projeto cria técnicas pioneiras de conservação e desenvolvimento comunitário, adequadas às realidades de cada uma das regiões onde tem bases de pesquisa.
AULAS – Além das capacitações voltadas para a gastronomia regional, turismo e hotelaria, o Governo do Estado planeja oferecer outros cursos no local, como de aquicultura (produção de ostras, mariscos e camarão) e de educação ambiental. A ideia não é ter uma escola focada em um único tema, mas diversificar as atividades de acordo com as necessidades da região, incluindo aulas de idioma e educação ambiental.
O local também tem potencial para se transformar em um centro de apoio ao artesanato caiçara regional. Há possibilidade, ainda, de abrigar um restaurante-escola aberto para a visitação de turistas, e locais para conferências e apresentações.
ESTRUTURA – Localizada na Baía de Paranaguá, a Ilha das Cobras tem 52 hectares de área remanescente de Mata Atlântica e é parada de descanso e alimentação de tartarugas marinhas jovens. A estrutura do local – que conta com trapiche, casa de força, espaço de apoio, alojamento de pesquisadores, residências do guarda e a casa principal – será toda adaptada para receber a escola profissionalizante.
A casa principal é dividida em três. Na primeira ala ficará o alojamento, que conta com um espaço de 202 metros quadrados, dividido em oito suítes com dois leitos cada. O espaço vai atender os participantes do curso e usuários da ilha.
A segunda ala tem 220 metros quadrados e será reservada para o apoio e capacitação. Além de quatro suítes que atenderão professores e equipe, vai contar com biblioteca e uma sala multiuso, que será utilizada para aulas e reuniões. A ala central vai abrigar a cozinha industrial, com uma bancada para atender até 16 alunos, e um restaurante com cerca de 60 lugares.
Com a reforma concluída, o Governo do Estado vai abrir processo de chamamento para definir o modelo e a formato do convênio que será estabelecido com a instituição que administrará a Escola do Mar.