Produtores de Carlópolis, no Norte Pioneiro, começam a exportar goiaba para a Europa. A exportação da fruta está na fase experimental, mas o volume disponível ainda é insuficiente para atender a demanda prospectada no continente europeu.
Mas essa possibilidade de abertura de novos mercados, concreta, é o suficiente para estimular os produtores a superarem os desafios de oferecer estabilidade na quantidade e qualidade da produção, conforme exigência dos países compradores.
Até agora, a goiaba de Carlópolis foi enviada, experimentalmente, para Portugal e Suíça, e há negociação com a Espanha para envio de mais um lote experimental. Foram enviados 600 quilos da fruta para Portugal, a título de amostra e divulgação, e mais 300 quilos da fruta para a Suíça. A aceitação foi boa e o desafio agora é a organização dos produtores para produzir volume suficiente de fruta para atender a demanda já manifestada por esses países.
A expectativa é que o mercado externo ajude a sustentar o preço da goiaba no mercado interno, evitando quedas drásticas de preço como ocorrem quando há superprodução no mercado, disse o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis (Coal),Noriak Akanatsu.
A goiaba de Carlópolis está se inserindo na Europa graças à certificação de Indicação Geográfica e ao selo GlobalG.A.P, duas conquistas importantes alcançadas com a ajuda do Sebrae, que abrem mercados, disse Akanatsu. A GlobalG.A.P. é um conjunto de regras de Boas Práticas Agrícolas (BPA), que envolve a segurança do alimento, a proteção do meio ambiente e bem-estar dos trabalhadores, através da adoção de técnicas de produção integrada, redução do uso de defensivos agrícolas, rastreabilidade desde a origem e um sistema de gestão da qualidade.
A certificação de Indicação Geográfica foi conquistada em 2016, o G.A.P é um atestado de boa produção que abre as exportações para os países da União Europeia. Como responsabilidade social, os produtores não podem empregar menores de idade e nem manter trabalho escravo, mas isso tem que estar documentado e comprovado, explicou o produtor.
A goiaba começou a ser plantada em Carlópolis em 1973. O clima ameno da região e o solo são características que proporcionam um fruto graúdo, paladar agradável ao consumidor, bem resistente a um período prolongado na prateleira e com um visual atraente. Além disso, os produtores adotaram tecnologias como o controle biológico e a técnica do ensacamento da fruta, entre 70 a 80 dias antes da colheita, que reduz os níveis de resíduos químicos a zero, porque depois do procedimento cessam a aplicação de defensivos e inseticidas nas plantas, disse o produtor.
“Esse tem sido o diferencial na produção de goiaba em nosso município”, disse Akamatsu. Segundo ele, os produtores plantam a variedade Tailandesa, de cor vermelha, desenvolvida em Valinhos (SP), cujas primeiras mudas foram trazidas ao Paraná em 2006 e se adaptaram bem à região.
De quatro anos para cá, a produção de goiaba vem se consolidando e está atraindo cada vez mais produtores interessados em fazer consórcio com o plantio de café, cultura que também se destaca pela qualidade na produção. Segundo Noriaki, o casamento é perfeito tendo o café como cultura anual e a goiaba que garante uma produção o ano inteiro, dependendo das podas feitas nas plantas. Outra vantagem é que a goiaba se adapta a pequenos espaços.
A comercialização da fruta no mercado interno vai muito bem e a fruta é enviada para as regiões de Londrina, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Nordeste, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Os produtores estão satisfeitos com a rentabilidade alcançada, acima dos custos de produção. Atualmente o custo de produção da goiaba em Carlópolis está avaliada em R$ 1,70 o quilo e os produtores estão vendendo a fruta entre R$ 2,00 e R$ 3,00 o quilo, o que permite uma boa margem.
A preocupação dos produtores é manter o equilíbrio na produção, para garantir a renda acima dos custos de produção. Eles pretendem exportar cerca de 30% da produção e manter 70% no mercado interno.
PRODUÇÃO - A produção de goiaba no município de Carlópolis é impulsionada pela dedicação de técnicos do Instituto Emater especializados no manejo com a fruta. Em 2015, quando o interesse pelo plantio de goiaba vinha se consolidando, o município contava com 415 hectares plantados, informou Franc Oliveira, do Departamento de Economia Rural (Deral), do Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, em Jacarezinho. Já neste ano, a área plantada praticamente dobrou e soma 850 hectares, com uma produtividade média de 30 a 40 toneladas por hectare.
De acordo com o gerente regional da Emater, de Santo Antonio da Platina, Maurício Castro Alves, a entidade trabalha com a organização dos produtores em associação e cooperativas e também presta assistência técnica e orientação aos produtores.
Atualmente, o município conta com uma associação de produtores de goiaba, com cerca de 60 membros e uma cooperativa de produtores, com 20 membros. A Emater colabora na organização e gestão dessas instituições para que prestem bons serviços aos produtores.
São essas instituições que estão orientando o agricultor a produzir volumes com qualidade para atender a demanda dos mercados internacionais, disse Alves.
Ele destacou também a entrada da iniciativa privada na atividade. Ele destacou a participação de empresários que compram a goiaba em Carlópolis e vendem para o Brasil inteiro, o que está atraindo cada vez mais produtores para a atividade.
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), Carlópolis é responsável por 78% da produção de goiaba no Paraná. A produção estadual em 2018 foi de 33 mil toneladas, com um Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$ 58 milhões.
Só o município de Carlópolis produziu 25,6 mil toneladas, que proporcionou um faturamento bruto de R$ 45,6 milhões aos produtores. O VBP da goiaba corresponde a 20% do VBP do município que somou R$ 230 milhões no ano. Segundo o Deral, a goiaba é o segundo produto na pauta de faturamento dos produtores locais, superado apenas pelo café que é a primeira produção de Carlópolis.