O suporte financeiro emergencial para a população e paras as empresas, o controle orçamentário público, com corte de despesas, e o reforço em investimentos que gerem emprego e renda foram alguns dos temas tratados na manhã desta quarta-feira (29) durante conversa entre o economista Paulo Rabello de Castro, o secretário do Planejamento de Estado e Projetos Estruturantes, Valdemar Bernardo Jorge, e o diretor de Operações do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Wilson Bley Lipski. Os três participaram de evento promovido pela Escola de Liderança do Paraná para discutir os desafios trazidos pela pandemia da Covid-19.
O Paraná foi citado algumas vezes como modelo por Rabello de Castro, que é ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (IBGE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A começar pelo investimento para ter 100% de cobertura digital, o que facilita o novo modelo de trabalho, em home office, e a educação à distância.
O economista também elogiou a situação fiscal do Estado. “Vejo a grande posição diferencial do Paraná. O Estado reúne uma difusão de riquezas no seu território e uma distribuição e diversificação nos mais diversos segmentos, de modo que pode dar resposta muito mais rápida e demonstrar como sair da crise”, comentou.
MAIS CARENTES - Durante a conversa, Valdemar Jorge defendeu a necessidade de a distribuição de renda passar pelo trabalho. “Estamos preocupados com os mais carentes, em irrigar a economia e ajudar o comércio local”, disse ele. “Mas entendemos que a ideia de fazer uma política distributiva de recursos precisa mudar em algum momento, passando pelo trabalho, para não criar anomalia, em que as pessoas ficam em casa esperando receber”, afirmou.
“Num primeiro momento isso é válido, porque as famílias estão em isolamento social, mas o próximo passo é fazer os investimentos chegarem a um maior número de pessoas, pela força do seu trabalho.”
FOMENTO - Bley Lipski, do BRDE, comentou que o momento vai ajudar a fortalecer o sistema nacional de fomento, para fazer a diferença e gerar empregos. “O desafio é encontrar a medida do remédio que precisamos dar para as pessoas passarem por esse momento agudo da Covid, mas precisamos de remédio para a economia ser retomada”, disse.
Ele também citou os legados que serão deixados pela crise atual, como a agilidade na tomada de decisões e mudanças no modelo de produção. “A economia vai se transformar, a industrialização vai se transformar.”
IMPACTO - Rabello de Castro fez uma análise do momento e do empobrecimento que haverá no mundo. “Voltamos 4 ou 5 casas no nosso jogo de Banco Imobiliário”, comparou, citando o tradicional jogo de tabuleiro.
Segundo ele, a visão de futuro para 2020 e 2021 foi alterada profundamente. “Estamos em uma anemia de demanda e uma desorganização da produção”, explicou, acrescentando que o cenário atual não está nos manuais de economistas, por ser completamente novo. “Nem em uma guerra vemos isso”, comparou, citando que em guerras há destruição, mas não há imobilização da sociedade, de sua força de trabalho.
O economista também falou da fragilização vivida pelas empresas e sugeriu um refinanciamento geral de dívidas, com novas taxas de juros e alongamento de prazos. “Vai haver um tremendo obituário econômico, ao lado de pessoas atingidas pela Covid”, previu.
ORÇAMENTO - Sobre a necessidade de cortes no orçamento, ele defende que seria uma maneira de obter os recursos necessários para combater a pandemia e ajudar os estados e municípios. Rabello de Castro elogiou a decisão tomada recentemente pelo governador Carlos Ratinho Júnior de reduzir em 30% o próprio salário e também do primeiro escalão.
Outros assuntos debatidos foram a necessidade de melhor utilização de ativos ociosos, como imóveis, além de atrair investimentos que gerem emprego e realizar gastos com responsabilidade. “É preciso combater a visão de fim de mundo que está sendo constantemente vendida”, afirmou o economista. O incentivo a startups também foi um dos temas.
FORMAR LÍDERES - O Programa Diálogo é voltado para a formação e o aperfeiçoamento de lideranças do Estado. Por causa da pandemia da Covid-19, pela primeira vez o evento foi on-line, aberto ao público.
A coordenadora da Escola de Liderança, Mira Graçano, conta que estão sendo programados outros eventos para as próximas semanas, que contarão com a participação de economistas, representantes da União e de outras personalidades do setor produtivo e de universidades que vão ajudar o Paraná a retomar atividades econômicas, sociais, educacionais ou de outra natureza.