Antecipar possíveis doenças que possam causar uma pandemia é uma das propostas contempladas no edital de Saúde Única do Governo do Paraná. Iniciativa inédita no País, desenvolvida pela Secretaria estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e pela Superintendência Geral de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (Seti), e viabilizado pela Fundação Araucária, o edital destina cerca de R$ 1 milhão para sete projetos de pesquisa dentro do conceito de saúde animal, humana e ambiental.
A pesquisa propõe o estudo do material genético (DNA e RNA) de novos agentes causadores de doenças (etiológicos) pela técnica de metagenômica em amostras de sangue de animais de produção e selvagens. Ele foi proposto pelo professor da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), Walfrido Kühl Svoboda, que recebeu mais de R$ 246 mil para desenvolver a pesquisa. De acordo com ele, a linha de frente dos estudos é a prevenção para tentar antecipar o diagnóstico de futuros e novos agentes etiológicos.
“As grandes pandemias que ocorreram a nível mundial foram de origem zoonótica, derivadas de doenças oriundas de animais, como a gripe suína, a aviária, a febre amarela e o Ébola, por exemplo”, disse. “Alguns estudos apontam também que a Covid-19 teve origem na relação do homem com o animal. O que vivemos atualmente nos levou a querer ainda mais pesquisar sobre essas zoonoses, antes que aconteça uma próxima pandemia”.
De acordo com ele, um edital específico para a saúde única foi a chance de tentar recursos para colocar em prática o estudo de anos. “Eu achei fantástico um edital como esse. Saúde única é uma tendência atual e um edital amplo, com várias questões, não nos daria a oportunidade de competir. Conseguimos colocar nosso projeto para frente porque esse edital foi específico para o diagnóstico de saúde única”, afirmou.
- Pesquisa selecionada em edital busca identificar acumuladores de animais
- UEM é 2ª instituição de ensino superior com mais artigos publicados
- Banco de Leite Humano da UEL participará de campanha mundial
TÉCNICA – Na prática, será feita a análise metagenômica (biologia molecular) de uma coletânea de amostras de animais de produção e selvagens para tentar descobrir novas sequências genéticas (DNA e RNA) de agentes etiológicos, ou seja, causadores de doenças.
O material a ser analisado foi coletado pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). São aproximadamente 11.574 amostras de sangue de bovinos de 1.758 propriedades rurais, de 20 municípios, e 1.943 amostras de sangue de suínos de 320 criatórios, de 221 municípios. Caso o resultado para uma possível zoonose dê positivo, serão feitas capturas de animais selvagens que vivem próximos a estas criações de animais de produção (bovinos e suínos) para estudos mais completos, em uma segunda fase do projeto.
“É uma técnica fantástica. Não temos 100% de chances de encontrar algo, mas temos a possibilidade e, com isso, conseguimos contribuir tanto para a questão da saúde pública quanto para a questão ambiental e humana, porque podemos evitar um problema sério de saúde, e precisamos tentar”, disse Svoboda.
Além da Adapar e da Unila, que foi a proponente, outras oito instituições estão envolvidas no processo, como o Instituto Evandro Chagas, de Belém do Pará (IEC-PA), que auxilia com tecnologia de ponta; a Universidade do Norte do Paraná (UENP), com profissionais veterinários; a Universidade Federal do Paraná (UFPR) câmpus Curitiba e Palotina; a 9ª Regional de Saúde; o Centro de Medicina Tropical da Tríplice Fronteira (CMT-TF); o Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu-PR (CCZ-FOZ), que possui referência nacional; o Instituto de Pesquisa em Vida Selvagem e Meio Ambiente do Paraná (IPEVS); e a Secretaria de Agropecuária e Meio Ambiente de Santa Terezinha de Itaipu.
CHAMADA PÚBLICA – As linhas temáticas da Chamada Pública do Programa de Pesquisa aplicada à Saúde Única foram elaboradas pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e envolvem diagnóstico de ações voltadas à gestão populacional de cães e gatos no Paraná, análise de risco de doenças para vida selvagem, manejo populacional de cães e gatos em ilhas, castrações química e pediátrica de animais, maus-tratos de animais e violência doméstica, e medicina de abrigos e acumuladores.
O secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Márcio Nunes, lembrou que boa parte das doenças e zoonoses que acontecem no mundo estão relacionadas ao estreito relacionamento entre o homem e o animal, não só domésticos, mas também silvestres e de criação.
“Nosso objetivo é apoiar projetos de pesquisas que contribuam para a resolução de problemas prioritários da população no âmbito da saúde única para o fortalecimento da gestão das políticas públicas ambientais, visando o desenvolvimento científico na área do meio ambiente do Estado. Por isso, é fundamental nosso apoio para que as soluções dos problemas venham das universidades”, afirmou.
- Pesquisadores de Londrina participam de festival de divulgação científica
- Governo do Estado libera quase R$ 1 milhão para projetos da UEL
Aldo Nelson Bona, superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, destacou a importância da realização conjunta de ações entre diferentes órgãos da gestão pública na busca de solução para os problemas. “Os ativos tecnológicos do Estado presentes nas universidades estaduais estão a serviço da população. Trata-se de um edital construído em conjunto, com a perspectiva de conquistarmos importantes resultados, tendo como foco o tema da saúde única”, ressaltou.
A Chamada Pública vem ao encontro da implantação do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) da Saúde. “O Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do Paraná, com os nossos ativos, está a serviço da sociedade. E esta parceria é mais uma ação que coloca estes pesquisadores como bem comum da população, na busca por soluções para as demandas e necessidades do Estado, e em específico, aos desafios da saúde”, disse o diretor Científico, Tecnológico e de Inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Spinosa.