Manejo da fertilidade do solo, certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose, caracterização dos estabelecimentos leiteiros no Paraná e crédito rural foram temas do Encontro de Produtores de Leite realizado nesta quinta-feira (16), durante a Expoingá, em Maringá. O evento, que reuniu especialistas no assunto, produtores e lideranças do setor, foi promovido pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), Sociedade Rural de Maringá, Sistema Estadual de Agricultura (Seagri) e Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Natalino Avance de Souza, afirmou que o produtor deve trabalhar para aumentar a renda da atividade leiteira. “Os custos de produção estão em alta e a renda tem diminuído, mas isso é temporário. Nós queremos ajudar o produtor a rever o sistema de produção”, disse.
“Acreditamos na transformação do leite e agregação de valor. O Paraná pode ser não só o segundo maior produtor de leite do País, mas também pode ter os melhores produtores de leite e queijo do Brasil. As instituições estão à disposição de pequeno produtor”, ressaltou Souza.
Simony Lugão, pesquisadora do IDR-Paraná, destacou que a produção de leite é a quarta atividade do agronegócio paranaense em valor bruto de produção, segundo os dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab. “Além disso, é uma atividade que gera renda todo mês e movimenta o comércio local”, lembrou. Ela destacou, ainda, que a alimentação do rebanho responde por 40% a 60% dos custos de produção, daí a importância de o produtor investir nas pastagens.
Segundo Simony, mais de 80% das áreas de pastagem do Noroeste do Paraná estão degradadas. “O primeiro fator dessa degradação é a falta de um planejamento forrageiro ao longo do ano. É preciso tratar o pasto como uma lavoura”, explicou.
Ela mostrou aos participantes algumas alternativas de pastagens perenes que oferecem alimento em quantidade e qualidade para o gado, além de terem uma boa resposta à adubação. São pastos como o mombaça, o tifton 85, o capim pioneiro, o marandu e o piatã, entre outros. Simony lembrou, ainda, que um pasto bem manejado retém carbono, diminuindo as cargas de emissão de gases do efeito estufa, tema que vem ganhando as atenções ultimamente. “O animal tem que comer folhas verdes e não talos e folhas mortas”, explicou.
Para tanto, o produtor deve saber exatamente o que o solo da área com pastagem precisa, o que é possível com a análise de solo e o momento certo para colocar os animais na área de pastagem. “O leite é pasto, reprodução e sanidade, o que exige uma assistência técnica de equipes multidisciplinares”, concluiu Simony.
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CERTIFICAÇÃO – Romerson Dognani, da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) explicou como o controle da brucelose e tuberculose pode trazer benefícios para o produtor. Ele ressaltou que a brucelose causa abortos, infecções uterinas e infertilidade das fêmeas. Já a tuberculose diminui a produção e provoca o emagrecimento do rebanho.
Além de evitar esses prejuízos, o produtor que controla essas doenças e opta pela certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose pode aumentar seus ganhos. Segundo Dognani, alguns laticínios podem pagar um diferencial pelo leite de propriedades certificadas. “Os produtos derivados do leite dessas propriedades são mais valorizados no mercado, bem como os animais”, ressaltou.
Atualmente o Paraná conta com 109 propriedades certificadas pela Adapar como livres da brucelose e tuberculose. Para aderir à certificação o produtor deve cumprir as medidas de controle das duas doenças, manter a vacinação dos animais em dia, identificar o rebanho, custear o controle de erradicação das doenças, bem como ter a assistência técnica de um veterinário.
Os profissionais da Adapar fazem a vistoria da propriedade e o acompanhamento na realização dos exames. Além da condição sanitária dos animais, também são analisadas as condições gerais da propriedade e das fontes de água. A certificação tem validade de um ano.
PERFIL – No ano passado 1.500 produtores de leite do Estado foram ouvidos numa pesquisa feita pelo IDR-Paraná. O objetivo foi ter uma amostra do perfil das propriedades, conhecer as práticas implementadas nos empreendimentos rurais, gestão, comercialização, estrutura da propriedade e interesses dos produtores. A pesquisa foi solicitada pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento e pode orientar decisões direcionadas a este segmento produtivo.
Tiago Pellini, do IDR-Paraná, conduziu o trabalho e mostrou alguns dados a respeito das propriedades da pecuária leiteira da região. No Noroeste a maioria do rebanho leiteiro (43%) é composta por gado girolanda, superando os cruzamentos de holandês e Jersey (23%), cruzamentos de gado leiteiro com zebuínos (18%) e outras raças e cruzamentos (7%).
Apesar das dificuldades, a pesquisa revelou que 54% dos produtores têm a expectativa de aumentar a produção diária de leite nos próximos cinco anos. A melhoria genética do rebanho é o desejo de 43% do público pesquisado. O aumento do rebanho é a meta de 35% dos produtores e 20% estão querendo investir em automação. A pesquisa mostra também que apenas 15% do público pretende deixar a atividade leiteira.
Para Bruna Bono, assessora de negócios do Sicredi-Dexis de Maringá, a pecuária leiteira enfrenta o desafio da volatilidade dos preços, alta nos custos de produção, acesso limitado a tecnologia e à assistência técnica. Para ela, o crédito rural pode melhorar a produtividade e lucratividade do produtor com investimentos e modernização do trabalho nas propriedades.