O general João Francisco Ferreira, diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, destacou nesta terça-feira (26) que os investimentos em obras, infraestrutura, meio ambiente e proteção das bacias hidrográficas que alimentam o reservatório de água de 1.350 quilômetros quadrados seguirão na pauta de prioridades da empresa nos próximos anos. Ele também ressaltou a maior parceria da história com o Governo do Estado e investimentos que ultrapassam R$ 1,5 bilhão em ações com o Executivo e a Sanepar no Oeste e Noroeste do Paraná.
“O planejamento de investimento na nossa área de influência chega a R$ 2,5 bilhões (R$ 1 bilhão nas obras de modernização do sistema de Corrente Contínua de Alta Tensão de Furnas e R$ 1,5 bilhão em infraestrutura). O general Joaquim Silva e Luna firmou vários convênios de obras há muito aguardadas e estamos prosseguindo do ponto que estava quando cheguei, olhando para a execução desses contratos. São ações importantes para o Estado e para Itaipu Binacional em diversas áreas, uma parceria institucional que fortalece o Paraná”, disse Ferreira.
Segundo ele, esse pacote é parte da missão institucional da empresa na área de influência dos rios que desaguam no Lago de Itaipu e tem como meta o desenvolvimento regional, mas também é dirigida à preservação da vida útil do reservatório e contenção do assoreamento com uso inadequado do solo, o que prejudica a produtividade da transformação de uma queda de 100 metros de altura de água em energia elétrica para o Brasil e o Paraguai.
As afirmações foram feitas em um bate-papo do diretor-geral brasileiro com jornalistas de diversos sites especializados do setor elétrico e grandes veículos nacionais. A conversa teve como mote a renovação do Anexo C do Tratado de Itaipu, espécie de constituição que rege o acordo diplomático entre os dois países, o que pode indicar novos parâmetros para a geração e comercialização de energia, além dos reflexos da crise hídrica sobre Sul e Sudeste, o que vai limitar a produção da empresa a 68 milhões de megawatts/hora em 2021, uma vez que o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem buscado mais das termelétricas.
INVESTIMENTOS – Os investimentos em andamento no Paraná, disse Ferreira, envolvem obras em Foz do Iguaçu, onde fica a usina hidrelétrica, e em outras áreas da região, compreendida por 55 municípios paranaenses e um sul-mato-grossense. Os aportes financeiros têm como foco o desenvolvimento econômico e social da região, realidade espelhada na margem paraguaia, e os esforços para a criação de um corredor bioceânico multimodal conectando o Atlântico ao Pacífico, facilitando a integração da América do Sul.
Ele citou quatro intervenções em Foz do Iguaçu, todas com apoio do Estado: a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Cataratas, transformando-a na maior do Sul; a Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que já alcançou 71% de execução e deve ficar pronta em setembro de 2022; a perimetral leste, nova rodovia que vai da cabeceira da ponte até a BR-277; e a duplicação da Rodovia das Cataratas, que deve ter obras iniciadas em 2023.
Também apresentou detalhes das obras em execução nas demais regiões do Estado, como a duplicação da BR-277 e do Contorno Oeste, em Cascavel, a pavimentação da Estrada Boiadeira, entre Icaraíma e Umuarama, a nova sede do Batalhão de Fronteira em Guaíra, a Delegacia da Mulher e do Instituto de Identificação em Foz do Iguaçu e investimentos de mais de R$ 84 milhões em saneamento ambiental em 12 municípios.
“A relação com o Governo do Estado é muito profissional e transparente. A ideia é construir em parceria. Além disso, temos uma proximidade direta com os municípios para além dos royalties de exploração. Nossa área de influência é medida nas bacias hidrográficas que levam água ao reservatório. Fazemos a gestão de evitar qualquer agressão ao meio ambiente que produza resíduos. Água limpa é essencial para a produtividade da empresa ser preservada. Ou seja, esse trabalho no entorno está ligado com a produção de energia”, disse o diretor-geral brasileiro.
O general Luiz Felipe Carbonell, diretor de Coordenação de Itaipu Binacional, reforçou que os investimentos no Paraná constam no escopo do Tratado, que disciplina as relações da empresa nos dois países. “A Itaipu tem a missão de investir na sua região, na chamada bacia de contribuição. Temos duas grandes áreas complementares: a de engenharia civil, ampliando as possibilidades de crescimento do País, e o cuidado ambiental. Ambas têm a diretriz de apoiar a vitalidade do nosso lago e nosso relacionamento com a sociedade”, disse.
Segundo Carbonell, a verve ambiental envolve um trabalho estimado em US$ 30 milhões por ano. Ele citou entre as ações a consolidação da faixa de proteção do lago com 250 metros de largura (média), o plantio de 24 milhões de mudas de árvores, o sequestro de três mil toneladas de carbono por ano (30 vezes mais do que a emissão), a implementação orgânica dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), trabalho reconhecido internacionalmente pela ONU, além de educação ambiental com pescadores, indígenas e agricultores, análise de sedimentos, monitoramento da qualidade água, e incentivo ao saneamento.
OUTROS PONTOS – Também foram abordados diversos outros aspectos do planejamento da Itaipu Binacional para os próximos anos, como a programação de redução da tarifa de energia elétrica, as negociações do Anexo C do Tratado a partir de 2023, investimentos em novas fontes de energia, o plano de atualização tecnológica, reflexos da crise hídrica sobre a produção diária e o fim da dívida da construção da barragem.
Sobre Anexo, o diretor-geral brasileiro disse que a empresa está preparada para qualquer cenário, inclusive o de livre comércio de energia (hoje inviável), que é um dos avanços do setor nos últimos anos, e a produção a partir de fontes alternativas, como solar (o atual acordo também limita a geração a partir de recursos hídricos). A Itaipu produz cerca de 11% da energia brasileira e quase 90% da paraguaia.
“A revisão será feita a partir de 2023. Evidentemente os dois países já estão debruçados nesse assunto, mas existem muitas questões em aberto. E há interesses divergentes. Os negociadores são o Ministério de Relações Exteriores e o Ministério de Minas e Energia. A Itaipu Binacional integra um grupo de trabalho para dar suporte nas questões técnicas. Estamos construindo cenários para várias possibilidades, estaremos preparados para um novo ciclo”, disse Ferreira.
Ele também comemorou o fim da dívida da construção da usina, iniciada em 1975 e concluída efetivamente em 2007 com as duas últimas das 20 unidades geradores. “Neste ano estamos realizando um pagamento de US$ 600 milhões da dívida de Itaipu e ao longo de 2022 ela será praticamente zerada, com aporte de mais US$ 1,4 bilhão. A tarifa vai baixar em 2022 e em 2023 a tendência natural é baixar ainda mais”, complementou.
Hoje a tarifa-base é US$ 22,6 por quilowatt. Esse é o preço de venda para a Eletrobras e a Ande (estatal de energia paraguaia). Segundo projeções apresentadas, a expectativa é de cair US$ 4 no ano que vem e chegar a US$ 10 em 2023, menos da metade da atual.
Ferreira ainda apresentou detalhes do plano de atualização tecnológica de Itaipu Binacional, que está em fase de homologação, restando a finalização do processo do consórcio entre as empresas brasileiras e paraguaias vencedoras da licitação. O investimento para a troca de dispositivos de controle e comando vai ultrapassar US$ 500 milhões até 2034. “Será a modernização mais abrangente da nossa história. Permitirá que os controles sejam todos digitalizados, permitindo mais rapidez, eficiência e economia”, disse.
O diretor-geral brasileiro também fez um balanço da produtividade, que é referência em uma usina hidrelétrica no mundo. Esse componente mede a relação entre volume de água que passa na turbina e a quantidade de energia elétrica gerada. O parâmetro é da passagem de um metro cúbico de água por um segundo. "A usina que consegue fazer 1 por 1, 1 megawatt por 1 metro cúbico de água, tem um bom resultado. Itaipu gera 1,1 por 1”, disse Ferreira. "Temos dois fatores para isso: a equipe técnica e a qualidade do controle de água. Por isso os investimento no Lago de Itaipu e nos municípios”.
Ele também disse que a crise hídrica e a formatação atual da produção de energia (preservação das hidrelétricas, que estão com nível médio de 24% de água nos reservatórios, e uso de termoelétricas) resultam em menos produção. Diante desse quadro, a estimativa é produzir 68 milhões de megawatts/hora em 2021, 65% ao melhor ano da história (2016), com mais de 100 milhões megawatts/hora. No ano passado foram 75 milhões megawatts/hora. No mundo só Itaipu Binacional e Três Gargantas (China) ultrapassam 50 milhões megawatts/hora ao ano.
REFÚGIO AMBIENTAL – Os diretores da Itaipu também apresentaram o conceito de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, área de mais de 100 mil hectares na região da usina que ganhou o maior status de proteção ambiental global, reconhecido pela Unesco. Atualmente, existem 12 reservas transnacionais no mundo. É o espaço que conjuga o Refúgio Bela Vista e o controle de fauna e flora da área de influência da empresa.
Esse é um dos programas que serão apresentados pela empresa na COP 26, em novembro, como referência em sustentabilidade para o mundo. Itaipu também é parceira do Governo do Estado no comitê publico-privado ESG, lançado oficialmente na segunda-feira (25), que pretende ampliar ações de sustentabilidade para outras empresas e acelerar a implementação de uma agenda mais verde no Paraná.