Projetos inovadores que envolvem cascas de pinhão na adsorção de resíduos lançados no meio ambiente, passando por inteligência artificial na produção de hortaliças e legumes, até nanotecnologia para controlar superbactérias. Essas são soluções propostas por alguns dos 39 pesquisadores inscritos no Programa de Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime) – Edição 2022, que iniciou nessa segunda-feira (16) com um painel online sobre pesquisa aplicada, maturidade tecnológica e transferência de tecnologia.
Programa do Governo do Estado, idealizado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), a iniciativa consiste em uma pré-aceleração de negócios, voltada para estudantes e professores de universidades e centros universitários, públicos e privados, e empreendedores assistidos por agências de inovação e núcleos de inovação tecnológica (NITs).
O superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Nelson Bona, explica que ele foi pensado para transformar as pesquisas acadêmicas e científicas em produtos com potencial de mercado. “O intuito é oferecer apoio para os pesquisadores com ideias protegidas ou em processo de proteção, auxiliando as instituições para que possam obter resultados daquilo que é produzido em termos de conhecimento científico e de ideias protegidas”, afirma.
A Fundação Araucária, a Superintendência Geral de Inovação (SGI) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Paraná (Sebrae/PR) atuam como parceiros estratégicos do programa. Na etapa final, cinco finalistas participarão do Programa Acelera Impulse do Sebrae/PR, custeado pela instituição parceira.
Neste ano, os projetos contemplam aplicações em áreas como agricultura e agronegócios; biotecnologia e saúde; energias sustentáveis e renováveis, e sociedade, educação e economia. Entre as ideias, 22 dispõem de patentes depositadas ou concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), requisito que habilita os participantes para seguirem até a etapa final da pré-aceleração.
A jornada empreendedora será realizada totalmente em formato remoto, o que possibilita o alcance de pessoas em diferentes cidades e regiões paranaenses. Os pesquisadores do Prime 2022 residem em Campo Mourão, Cascavel, Curitiba, Cornélio Procópio, Guarapuava, Jacarezinho, Londrina, Maringá, Medianeira, Pato Branco, Rolândia, Santa Helena e, excepcionalmente, também Salvador, na Bahia, com uma participante. Além da distribuição geográfica, a presença feminina chama a atenção, com quase metade da turma composta por mulheres.
INOVAÇÃO E CIÊNCIA – O consultor do Sebrae/PR Wellinton Oliveira destaca a importância de impulsionar a inovação, associada à ciência. “A conexão entre universidade e indústria tem impacto na geração de receitas, inclusive para os pesquisadores. Por isso, a finalidade do Prime é gerar valor, proporcionando royalties de transferências de tecnologia em um processo contínuo de desenvolvimento de novas pesquisas nas instituições de ensino superior”, salienta.
O Prime aborda conteúdos como validação de ideias, desenvolvimento de produtos e processos, modelagem financeira e captação de recursos, entre outros. Nesta edição, o programa de pré-aceleração terá um módulo extra de qualificação, exclusivo para as 18 mulheres participantes, refletindo sobre liderança e empreendedorismo feminino.
ACADEMIA – Durante o painel de abertura, o professor Admilton Gonçalves de Oliveira Júnior, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), finalista na edição anterior do Prime, falou sobre os desafios da academia e o processo de maturidade tecnológica. Ele também compartilhou sobre a experiência pessoal e profissional ao longo do programa, em 2021.
Para o docente investir em ciência é a forma mais assertiva para assegurar a soberania nacional e, consequentemente, a melhoria de vida da população. “A produção de conhecimento, muito discutida na pesquisa aplicada, tem sido uma questão cada vez mais debatida na academia. E as literaturas especializadas que tratam desse assunto têm concluído que há uma necessidade urgente de aproximação entre a comunidade acadêmica e a iniciativa privada”, explica.
Além de ampliar os conhecimentos para transformar as pesquisas em produtos, identificando potenciais mercadológicos, os participantes do Prime 2022 buscam criar startups para comercialização e produção de tecnologia, licenciamento de tecnologia e networking com potenciais parceiros (sócios e investidores). O principal objetivo é superar os obstáculos iniciais comuns na trajetória empreendedora.
Veterano no programa, o estudante de graduação Rogerio Maniezzo, do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Noroeste do Paraná, está empolgado com o novo ciclo de aprendizagem. “Acredito que o Prime abre um leque de oportunidades para sair da bancada do laboratório, transpassar os portões da academia e entregar para a sociedade soluções inovadoras”, afirma.
O professor Glauco Vieira Miranda, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Santa Helena, na região Oeste, considera que o programa pode auxiliar na identificação de públicos para o projeto de negócio. “O Prime pode auxiliar na comercialização e acesso ao mercado brasileiro e talvez global, uma vez que a tecnologia permite o uso em qualquer lugar do mundo”, sinaliza.
Médico e pesquisador, Eduardo Aimore Bonin, do Instituto Bioengenharia Hospital Erasto Gaertner (Ibeg), pretende desenvolver novos métodos para facilitar procedimentos gastrointestinais nos pacientes e aprimorar técnicas já existentes na Medicina. “Iniciativas como o Prime são fundamentais para quem atua com inovação médica e desenvolve dispositivos nessa área, possibilitando estabelecer estratégias de proteção intelectual desses produtos”, enfatiza o cirurgião.