Pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) acabam de publicar um estudo sobre aves raras e meio ambiente no Journal for Nature Conservation, relatando o resultado de mais de 10 anos de estudos desenvolvidos no Parque Nacional do Iguaçu, unidade de conservação Federal, com mais de 185 mil hectares, considerada a maior reserva de Mata Atlântica do interior do País.
Internacional e interdisciplinar o periódio incentiva a colaboração entre cientistas e profissionais, incluindo a integração de questões de biodiversidade com questões sociais e econômicas.
O estudo da UEL intitulado “A importância funcional de espécies raras e dominantes em uma região Neotropical – comunidade de pássaros da floresta” reuniu pesquisadores do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica (Lobio), do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (CCB), e dos departamentos de Estatística e de Matemática (CCE) da UEL.
A pesquisa representa o maior levantamento quantitativo sobre populações de espécies de aves típicas paranaenses, realizada exatamente em um dos locais símbolos da flora e fauna do Estado – considerado, inclusive, patrimônio natural da humanidade pela Unesco.
O resultado quantifica aves raras, intermediárias e dominantes e conclui que as espécies consideradas raras desenvolvem funções ecológicas fundamentais para a biodiversidade, como a dispersão de sementes e o controle das populações de insetos e de roedores, daí a importância em preservá-las.
O estudo é assinado pelo professor Luiz dos Anjos, coordenador do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica; pelo doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas, Helon Oliveira; e pelos professores Mariana Urbano e Paulo Natti, dos departamentos de Estatística e de Matemática, respectivamente.
Segundo o professor, o levantamento teve início em 2011 com as primeiras gravações e observações de aves realizadas ao longo de uma trilha (amostragem) localizada no interior do parque. O monitoramento foi realizado sempre entre os meses de outubro e novembro, na mesma trilha, de aproximadamente cinco quilômetros, entre 4h30 e 9h30, horário em que as aves estão mais ativas.
Em 10 anos, foram realizadas nada menos do que 50 observações. Segundo o pesquisador, o procedimento inclui a gravação do canto das aves com o objetivo de identificar as espécies presentes. Os dados dos pontos fixos da trilha foram anotados e comparados.
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O objetivo foi verificar a quantidade, localização e ocupação das espécies. A pesquisa demonstrou que existem 138 espécies de aves na área de estudo, limitada em cinco quilômetros. A grande maioria - 107, ou seja, 78%, é rara. Outras 26 espécies (19%) são chamadas de intermediárias e apenas cinco, 3%, dominantes.
Entre as espécies consideradas raras e encontradas na área do Parque Iguaçu estão Saí Andorinha, Macuco, Pavó, Saíra Viúva, Macuru, Olho Falso e Tovacuçu. Entre as espécies intermediárias conhecidas estão o Tiê da Mata, Pica-pau-Benedito, Piolhinho e Alma de Gato. As consideradas dominantes são Arapaçu verde, Sabiá de Barranco e Pula pula.
De acordo com o pesquisador, a observação é feita a partir do canto e registrada em um gravador digital. Ele também utiliza um binóculo para tentar avistar as aves, o que nem sempre é possível.
O pesquisador explica que a participação de professores de Matemática e de Estatística foi necessária para desenvolver uma classificação adequada da quantidade de espécies raras, intermediárias e dominantes. Para fazer essa comparação, foi necessário o emprego da Análise de Cluster, técnica usada para classificar elementos muito parecidos em grupos distintos entre si. Para definir a semelhança – ou diferença – entre os elementos é usada uma função de distância, que precisa ser definida considerando o contexto do problema.
RISCO DE EXTINÇÃO – A partir dos resultados da pesquisa, o professor planeja ampliar a área de estudo, considerando outros 30 fragmentos de florestas existentes nas regiões Norte e Oeste do Paraná, áreas menores que o Parque Iguaçu, com dimensões entre 2 e 10 mil hectares.
Esse novo estudo pretende detectar o volume de espécies raras de aves, apontando para possíveis causas de redução destas populações, que podem correr inclusive risco de extinção. “Queremos entender quais destes fragmentos têm resiliência ecológica. Perder espécies significa perder funções ambientais importantes”, relata o professor, acrescentando que conservar fragmentos de florestas com potencial resiliência ecológica é importante para a biodiversidade.
O professor conta que, desde o início da coleta no parque, as populações de aves se mantiveram estáveis, um bom sinal de que a área tem cumprido seu papel como unidade de conservação. Os dados do monitoramento encontraram em média cerca de 80 espécies distintas por quilômetro, uma pequena amostra do total de aves e da rica biodiversidade do parque.
APOIO – A pesquisa foi desenvolvida com permissão do ICMBio e integrou o projeto Diversidade e Conservação de Aves na Porção Sul da Mata Atlântica, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).