Juliana de Fátima Braz é paranaense da cidade de Siqueira Campos, no Norte Pioneiro. Aos 14 anos, sofreu uma grande perda na família, a da avó, que cuidava da então adolescente. Para não ficar sozinha, ela foi acolhida em uma Casa Lar do município em que morava, onde permaneceu até os 18 anos. Diagnostica com déficit intelectual, além de questões psicossociais, Juliana passou por outros acolhimentos até chegar, em 2016, nas Residências Inclusivas de Irati, onde está até hoje, aos 30 anos.
Desde que foi acolhida, Juliana sempre se mostrou interessada e participativa nas atividades propostas pela equipe, em especial, no que diz respeito à sua educação. Ela concluiu o Ensino Médio em 2021 no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – Ceebja – e agora procura cursos profissionalizantes que sejam de seu interesse.
Além de atividades escolares, Juliana faz aulas de zumba, academia e psicoterapia individual, participa de forma ativa de atividades em grupos propostas por alunas de Psicologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), do Campus de Irati, e atividades propostas pela equipe técnica.
Durante o período de acolhimento foram trabalhados com ela temáticas envolvendo relacionamentos, educação e trabalho, autonomia e educação financeira, o que possibilita que tenha sua independência – na medida em que um acolhimento institucional permite – para criar vínculos positivos com a comunidade e assim, planejar e projetar escolhas para o seu futuro.
Ela afirma que é muito bom estar ali, receber carinho e amor das cuidadoras. “Eu tenho meu celular, meus cremes de cabelo, eu gosto muito daqui, da comida e também das cuidadoras”, relata.
O Governo do Paraná, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Social e Família, apoia com recursos a manutenção de duas Residências Inclusivas em Irati, no Sul do Estado, que atendem pessoas de todas as regiões. As residências são mantidas de forma compartilhada pelo Estado e o município e ofertam o serviço de acolhimento institucional de jovens e adultos com deficiência e têm, juntas, capacidade de atendimento de até 20 pessoas. Atualmente são 16 mulheres tuteladas.
As Residências Inclusivas de Irati já foram diversas vezes mencionadas em congressos e encontros do setor de assistências social como um bom exemplo para o Brasil. Além de possuir estrutura compatível com o que prevê as normativas e orientações técnicas do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), possuem uma metodologia de trabalho que valoriza ao máximo as potencialidades das usuárias, com respeito à individualidade.
As unidades recebem pessoas sem vínculos familiares, em situação de dependência ocasionada pela deficiência, com perspectivas limitadas de desenvolvimento de vida autônoma ou resgate de vínculos familiares.
Segundo a coordenadora das Casas Inclusivas, Kelly Marques da Silva Wasilewski, o principal objetivo é fazer com que essas mulheres sejam integradas à sociedade e possam conviver de forma harmoniosa. “Aqui temos muitas histórias, e elas têm nosso respeito, cada pessoa merece nossa atenção e cuidado. Queremos contribuir com o tratamento delas em liberdade e fazer com que possam ter sua vida normal”, diz.
Ela explica que muitas mulheres estão acolhidas desde a infância, outras passaram por situações de violência. “A atenção e o cuidado dados nas Residências Inclusivas permitem que elas possam ter suas vidas restabelecidas e, principalmente, recuperem a autoestima”, ressalta.
“A execução do Serviço de Acolhimento Institucional para Jovens e Adultos com Deficiência em Residência Inclusiva é desafiadora, pois atende casos de alta complexidade e acolhe a diversidade de características e necessidades de cada pessoa, se pautando na individualidade”, completa.
O trabalho visa a reabilitação psicossocial de pessoas que vivenciaram situações de extrema de negligência e violação de direitos e agora frequentam escola, trabalham. Também há casos recentes de reintegração familiar de pessoas, graças ao trabalho de resgate de vínculos da equipe da residência.
Para o secretário do Desenvolvimento Social e Família, Rogério Carboni, este desempenho se deve ao trabalho de excelência ofertado pela equipe tanto do município quanto do Governo do Estado. “O que vemos aqui é a demonstração de amor, de carinho, cuidados que essas pessoas ofertam para as acolhidas. Irati é exemplo para o Brasil nesta área e isso se deve muito aos profissionais que realizam esse atendimento”, destacou.
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VÍNCULOS AFETIVOS – Um dos quesitos que colocam as residências de Irati como exemplo para o Brasil é a busca pelo restabelecimento das relações familiares, como a história de Geyzicélia Gomes Macedo, que está na residência há 7 anos. Seu acolhimento se deu por motivo de falecimento de sua mãe e que ela não apresentava condições de autossustentabilidade.
Geyzicélia vive em instituições há 22 anos. Seu primeiro acolhimento foi 1997, em entidade onde permaneceu por 15 anos. Depois, em 2013, foi encaminhada para Associação Padre João Ceconello, sendo transferida em 2014 para a Mallet, até chegar nas residências Inclusivas.
A partir do trabalho das assistentes sociais do município, Geyzi, como é tratada dentro da casa, restabeleceu o contato afetivo com o irmão, Marlos Ravy, no Mato Grosso do Sul. Geyzicélia também frequenta o comércio da cidade, restaurante, panificadoras, entre outros, sempre acompanhada, e realiza passeios com todas as demais pessoas acolhidas, com a escola e o Centro de Atenção Psicossocial de Irati.