Com Indicação Geográfica, morango do Norte Pioneiro impulsiona renda de produtores

Região, que colhe 6,5 mil toneladas anuais, conquistou o selo de Indicação Geográfica em 2022. Para conseguir o certificado, produtores adotaram técnicas com uso mínimo de defensivos e conseguiram dobrar valor de comercialização do produto.
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27/11/2023 - 09:30

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Práticas sustentáveis, técnicas que aumentam a produtividade e muito cuidado com o produto final. Esta foi a receita encontrada pelos pequenos produtores rurais de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina, no Norte Pioneiro do Paraná, para produzir morangos reconhecidos pelo sabor e a qualidade.

A boa fama, aliada a método de trabalho que garante rastreabilidade do produto, rendeu ao morango do Norte Pioneiro o selo de Indicação Geográfica (IG) concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O certificado foi emitido em 2022, após um trabalho de orientação aos agricultores locais feito pelo Sebrae/PR, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e a Associação Norte Velho dos Produtores Rurais de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina (ANV).

O Morango do Norte Pioneiro é tema da nova reportagem da série da Agência Estadual de Notícias sobre os 12 produtos com Indicação Geográfica no Paraná.

Para poder comercializar o morango com o selo, os agricultores da região precisam se comprometer a registrar todos os passos produtivos em um caderno de campo, separando a produção em lotes controlados, e a adotar práticas sustentáveis, como o uso reduzido de agrotóxicos, dando preferência a métodos biológicos e mecânicos de desinfecção.

“Com a IG, nós garantimos maior qualidade do morango ao cliente, usando somente produtos biológicos, respeitando o caderno de campo e obedecendo aos procedimentos pós-colheita”, afirma a produtora Lucélia Costa.

Uma destas práticas usadas pelos produtores é o plantio suspenso dentro de estufas. Em vez de plantar as mudas no solo, os produtores instalam calhas em estruturas que ficam a cerca de um metro do chão.

Além de evitar o uso de defensivos contra pragas do solo, a técnica possibilita um acompanhamento mais de perto dos morangueiros. A estufa também controla melhor o ambiente, reduzindo em até 5ºC a temperatura na área da lavoura. Isso permite que a fruta mature mais tempo ainda no pé, a deixando maior, mais saborosa e mais resistente.

“O plantio suspenso nas estufas beneficia o trabalho de modo geral. Reduz o uso de agrotóxicos, melhora a ergonomia para quem trabalha na colheita e também aumenta a produtividade, já que cabem mais mudas em um mesmo espaço de lavoura”, diz o agricultor Claudemir Silva.

No chão, são plantados cerca de cinco pés de morango por metro quadrado. Nas calhas, é possível distribuir de 7 a 12 mudas no mesmo espaço. No plantio suspenso, as mudas também duram mais tempo, chegando a cinco colheitas seguidas com o mesmo pé, cada um produzindo até dois quilos de morango por ano, enquanto no chão as mudas duram cerca de duas colheitas seguidas.

De acordo com o presidente da ANV, Marcelo Siqueira, as técnicas associadas ao trabalho da IG favorecem os agricultores familiares, que conseguem colher um volume maior de frutas em pequenas propriedades a um valor de mercado mais alto. “Além de ter uma tecnologia melhor e um melhor aproveitamento de área, estes produtores conseguem um maior valor agregado ao produto. A gente conseguiu praticamente aumentar em 100% o valor de venda do produto”, afirma.

OPORTUNIDADE – A boa rentabilidade para pequenos produtores é um dos motivos pelos quais a cultura do morango de maneira sustentável, com diferenciais de mercado, se desenvolveu na região, de acordo com Siqueira. “É possível dar uma renda melhor a um produtor familiar, que tem uma propriedade pequena. Ao mesmo tempo, sendo uma cultura familiar, é possível trabalhar com a fruta com mais cuidado e atenção nos processos pós-colheita. Isso também valoriza o produto”, disse.

Em todo o Estado, o morango foi a fruta que teve maior acréscimo da produção nos últimos dez anos, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), saltando de 18 milhões de toneladas anuais para 34 milhões de toneladas. Segundo o relatório anual do órgão, o motivo é a alta rentabilidade oferecida aos produtores.

Em Jaboti, por exemplo, cidade que mais produz a fruta na região, com 4 mil toneladas por ano, a proporção de pequenas propriedades rurais na cidade está acima das médias brasileira e estadual, de acordo com o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017, o último divulgado. 72% das propriedades rurais no município têm até 10 hectares. No Brasil, elas representam 50% e no Paraná são 46% com esta dimensão.

Além disso, a região tem características climáticas e geográficas propícias para o cultivo da fruta. As cidades que possuem o selo da Indicação Geográfica estão a 500 metros de altitude, em uma área em que o inverno tem dias quentes e noites frias, o que favorece o desenvolvimento do morango. “Acabamos tendo um morango mais doce por causa destas características climáticas”, explicou a produtora Lucélia Costa.

De acordo com o consultor do Sebrae/PR no Norte Pioneiro Odemir Capello, a adoção das boas práticas associadas à Indicação Geográfica surgiu a partir de uma pesquisa de mercado local por parte do Sebrae, que identificou o potencial de comercialização para um produto de maior valor agregado.

“O que nós vimos é que a região tinha clientes em potencial que não estavam buscando preço, mas um produto de qualidade. Com o trabalho da Indicação Geográfica, nós pudemos ter condição de trabalhar coletivamente isso com os pequenos produtores da região”, afirma.

Além das práticas sustentáveis que valorizam o morango, os produtores associados à IG também têm melhores condições de comercializar a fruta coletivamente, uma forma de amenizar a variação de preço condicionada à sazonalidade do produto.

“Conseguimos criar uma dinâmica para fornecer morango o ano todo aos nossos clientes. No período de entressafra do Rio Grande do Sul, nós vendemos morango a eles, mesmo eles sendo um dos maiores produtores do País”, explica o presidente da ANV, Marcelo Siqueira.

MORANGO
Morango está sendo industrializado pelos empresários do Norte Pioneiro para ganhar o mundo. Foto: Gabriel Rosa/AEN


IMPACTO ECONÔMICO – Ao todo, são cerca de 300 produtores envolvidos na produção de morango na região nos municípios de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina. Em torno de 10% deles são credenciados a produzir a fruta com IG.

Levando em conta toda a produção da fruta nas quatro cidades, são colhidas 6,5 mil toneladas de morango por ano, o que representa 20% da produção estadual.

Em todo o Paraná, o Valor Bruto da Produção (VBP) do morango foi de R$ 398 milhões em 2022, de acordo com o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral). Em Jaboti, é a maior fonte de renda agropecuária do município, com VBP de R$ 47 milhões. O valor representa o dobro da segunda atividade mais rentável da cidade, o frango de corte, com R$ 21 milhões.

Em Pinhalão, a produção da fruta movimentou R$ 19 milhões em 2022, em Japira, R$ 5,4 milhões no mesmo ano, e em Tomazina, R$ 2,3 milhões.

CADEIA PRODUTIVA – A fama da região impacta toda a cadeia produtiva do morango, mesmo para agricultores ou empresários que não trabalham com os produtos com o selo de Indicação Geográfica. Os morangos produzidos no Norte Pioneiro chegam a outros estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

É o caso do empresário Osni Baum, proprietário da Baum Fruit, empresa de Jaboti que comercializa frutas in natura, congeladas e em polpa. A família dele foi uma das pioneiras no plantio de morango na região na década de 1990. Três décadas depois, a empresa desfruta da notoriedade que o morango deu para a região.

“É importante, porque acaba tendo mais compradores interessados nas frutas. Ter a região como referência acaba facilitando a comercialização tanto para os produtores em geral, como para nós como empresa”, afirma.

Para dar mais longevidade às frutas comercializadas pela família e chegar a compradores mais distantes, ele decidiu congelar os morangos. “A gente sofria muito com o morango que ficava muito maduro, que acabava não tendo mercado e que a gente tinha que vender muito barato. Por causa disso, eu comecei a vender o produto já congelado para dar mais valor ao produto”, contou o empresário.

O processo industrial deu escala ao negócio, que atualmente comercializa cerca de 300 toneladas de morangos congelados anualmente. “Além disso, agregamos mais produtos ao portfólio, comercializando outras frutas e entregando no Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul”, completou.

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA – Os 12 produtos paranaenses que obtiveram a IG até o momento são a goiaba de Carlópolis; as uvas de Marialva; o barreado do Litoral; a bala de banana de Antonina; o melado de Capanema; o queijo de Witmarsum; o café do Norte Pioneiro; o mel da região Oeste; o mel de Ortigueira; a erva-mate de São Mateus do Sul; o morango do Norte Pioneiro e os vinhos de Bituruna.

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