A comunidade de indígenas da Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, recebeu nesta semana a visita de 18 estudantes brasileiros e canadenses para uma experiência de intercâmbio cultural. A iniciativa faz parte da segunda edição do programa Collaborative Field Experience, da Uninter, feito em parceria com as instituições canadenses First Nations University (FNUniv) e University of Regina.
Durante a visita, os universitários conheceram os costumes e tradições das etnias que moram na Unidade de Conservação (UC), assim como os métodos de preservação da natureza praticados pelas comunidades. A gestão do complexo ambiental é compartilhada entre o Instituto Água e Terra (IAT), órgão vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), e as comunidades indígenas locais.
“Esse intercâmbio de informações é muito importante, já que os visitantes vieram de um local com uma biodiversidade completamente diferente da nossa e puderam entender como funciona a gestão compartilhada da Floresta, que é vital para garantir a conservação da região. Com a experiência, eles poderão levar um pouco da cultura dos povos originários do Sul do Brasil para o Canadá”, destacou a bióloga do IAT e gerente da Floresta Estadual Metropolitana, Ana Letícia Lowen.
No grupo de 18 universitários estavam oito estudantes da FNUniv, todos de comunidades indígenas do Canadá, e 10 estudantes da Uninter, dos quais cinco também são indígenas.
A canadense da comunidade Nehiyawek e estudante de serviços sociais indígenas na FNUniv, Nancy Greyeyes, foi uma das participantes. Ela reforçou os benefícios do intercâmbio para a área de atuação. “Foi uma experiência que fortaleceu meu coração. Eu acredito que o contato com a natureza é algo que beneficia muito a vida dos povos indígenas, e aprender como essa interação é feita no Brasil vai permitir que eu possa aplicar esses métodos para melhorar as condições das comunidades canadenses”, afirmou.
Professora de relações étnico-raciais da Uninter e uma das coordenadoras do projeto, Karina Santos lembrou que a comunhão dos povos por meio da Floresta Metropolitana pode ser um marco na relação indígena pelo mundo. “A ideia do programa é proporcionar uma integração entre indígenas de diferentes países por meio de uma imersão cultural conduzida pelas próprias comunidades. Assim, com esta troca de histórias e vivências, é possível demonstrar a diversidade das culturas indígenas do mundo, torná-la cada vez mais viva”, afirmou.
“Conversar com os indígenas brasileiros foi uma oportunidade única. Fiquei tocado com as semelhanças entre as nossas comunidades, principalmente no que envolve o cuidado com a floresta”, acrescentou o professor de Negócios Indígenas e Administração Pública da FNUniv e membro da Nação Buffalo Dakota, Tim Isnana.
GESTÃO – Entre as UCs paranaenses, a Floresta Estadual Metropolitana se destaca pela gestão compartilhada entre o Governo do Estado e as comunidades indígenas locais. Por meio de um Termo de Cooperação formalizado em 2022, a unidade passou a ser administrada pelo IAT junto com indígenas locais, das etnias Caingangue, Guarani Ñandeva, Guarani Mbya, Avá-Guarani e Tukano, representados pelo Instituto e Centro de Formação Etno Bio Diverso Ângelo Kretã.
A estrutura chegou a ser case global da Organização das Nações Unidas em 2023. Dessa forma, o compartilhamento das práticas aplicadas na UC configura uma experiência única para os visitantes.
“No nosso território, praticamos um modo de vida chamado nhandereko, que é baseado na interação harmônica com a natureza. Esse encontro foi algo importante, já que nós entendemos que o nhandereko precisa chegar em outros lugares”, disse Eloy Nhandewa, indígena da etnia Guarani Ñandeva e um dos responsáveis por guiar os visitantes.
CAPACITAÇÃO – Além do intercâmbio, o IAT deu início a um curso de manejo das abelhas sem ferrão, dentro do programa Poliniza Paraná. Oito indígenas de diferentes famílias que moram na UC se inscreveram para as aulas, que vão até esta sexta-feira (10). O curso é ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
A intenção é que, após a conclusão dos estudos, cada uma das famílias receba um dos meliponários do programa. “Além de ajudar na preservação da biodiversidade, as colmeias trarão benefícios para a economia da região. Os moradores poderão usar os subprodutos das colmeias, como o mel, o própolis e a cera para fazer artesanato, cosméticos e produtos medicinais como uma forma alternativa de renda”, explicou Ana Letícia Lowen.
O Poliniza Paraná é um programa que consiste na construção de jardins para criação de abelhas sem ferrão em diversas cidades. Desde janeiro de 2022, foram implementadas mais de 200 estruturas com as colmeias, um investimento de cerca de R$ 300 mil. A iniciativa busca a preservação da biodiversidade local, pois as abelhas são responsáveis pela polinização de aproximadamente 90% das espécies vegetais da Mata Atlântica, principal bioma do Paraná.
O projeto está inserido atualmente em 25 parques urbanos, com 135 meliponários, e em dez Unidades de Conservação (UCs) do Estado, com 70, além de pontos específicos como o Palácio Iguaçu, em Curitiba. As colmeias contam com seis diferentes espécies nativas do Estado, todas sem ferrão: Mandaçaia, Mirim, Manduri, Guaraipo (que corre risco de extinção), Tubuna e Jataí.
Em 2022, o sucesso do projeto garantiu o 2º lugar no 9º Prêmio A3P, na categoria “Destaque da Rede A3P”, concedido pelo Programa Agenda Ambiental na Administração Pública, do Ministério do Meio Ambiente. O prêmio reconhece o mérito de iniciativas de organizações pública na promoção e realização de melhores práticas de sustentabilidade.