A Operação Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, entra em nova fase neste domingo (24). Nesta data, voltam para casa os 22 bombeiros militares paranaenses e três cães que participaram das atividades de buscas nas cidades gaúchas atingidas pelo ciclone extratropical que provocou a morte de 49 pessoas. Em substituição, chegam à região dois binômios (nome dado ao par composto por um cão e um condutor) e um bombeiro de apoio.
Assim, o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) vai permanecer na força-tarefa com três bombeiros militares e dois cães. A intenção é, a cada semana, enquanto não forem encontradas as nove pessoas ainda desaparecidas, substituir o quinteto em ação no estado vizinho. Por esse motivo, não há prazo para o encerramento da operação.
Devido ao cenário atual na região do Vale do Taquari, a utilização dos cães é a principal aposta para a sequência das atividades de busca. Isso porque as vítimas que estavam em locais visíveis, como barrancos ou na água, já foram localizadas pelas forças de segurança.
“Neste momento, a gente considera que as vítimas desaparecidas estão sob algum tipo de escombro. Para localizá-las, somente revirando esses escombros ou por indicação dos cães”, explicou o major Ícaro Gabriel Greinert, comandante do Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST) e que coordena os trabalhos do Corpo de Bombeiros do Paraná na operação.
A equipe paranaense encontrou duas vítimas nessa fase da operação em que se estima que os moradores ainda desaparecidos estejam de algum modo soterrados. Um desses corpos foi achado justamente com apoio canino, da cachorrinha Mali. “Eles são fundamentais nesse tipo de operação”, reforçou o major, que esteve à frente de trabalho até a última terça-feira (19).
Desde a passagem do ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul, no dia 4 de setembro, causando muitos estragos devido aos ventos fortes e enchentes, o Paraná vem mantendo equipe de apoio às forças de segurança locais. Foram executadas ações de busca, salvamento e ajuda humanitária, especialmente em localidades de difícil acesso, com a ajuda de um helicóptero. Um esforço que já mobilizou 85 bombeiros e seis cães da Corporação, além de 15 viaturas e uma aeronave.
Presente desde os primeiros movimentos da Operação Vale do Taquari, o major testemunhou de perto o drama gaúcho. “Na nossa chegada, o Rio Taquari estava muito alto ainda. Uma área muito grande, de mais ou menos 60 quilômetros, de enchente. Era muita destruição, as ruas estavam sujas, as casas destruídas, um quadro bem complicado”, contou.
Esse ambiente caótico foi, de longe, a principal dificuldade enfrentada na região. “Conseguimos mobilizar uma logística muito boa. Operamos de maneira autônoma, então o desafio mesmo foi o cenário em si. Por onde o rio passou, levou destruição, houve dificuldade de estabelecer áreas prioritárias para tentar realmente localizar essas vítimas desaparecidas”, relatou.
Nesta segunda semana, os trabalhos se concentraram em verificar as áreas que mais acumularam entulhos e destroços carregados pelas enxurradas, detectando e sinalizando pontos de atenção para uma busca mais minuciosa. Segundo o major, por causa da extensão dos danos, tanto em área quanto em quantidade de detritos, paciência será a palavra-chave nos próximos dias. “A operação continua. É difícil, lenta, minuciosa e pode se arrastar por muito tempo”, disse o comandante do GOST.
Embora não se sinta confortável em usar a palavra positivo para fazer um balanço da participação do CBMPR no Vale do Taquari, em meio a tanta dor e destruição, com famílias ainda procurando entes queridos desaparecidos, o major Gabriel diz entender que a atuação da equipe foi importante para o estado vizinho.
“Todo feedback que tive da nossa participação, tanto da parte de comando, logística e operações, foi muito favorável por parte do Corpo de Bombeiros gaúcho, das prefeituras e dos moradores”, resumiu. O reconhecimento da população pelo esforço da equipe foi tão grande que os bombeiros paranaenses eram tratados como se fossem “locais”.
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TRAGÉDIA – A passagem do ciclone extratropical é a pior tragédia natural da história do Rio Grande do Sul. Mais de 100 cidades registraram estragos causados pelo temporal – a maioria chegou a declarar situação de emergência ou calamidade pública. Além disso, o número de feridos passou de 900 e o de mortes chegou a 49; seguem desaparecidas nove pessoas.
Relatório preliminar do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aponta que mais de 10 mil edificações foram atingidas pelas enchentes – 67% delas “gravemente submersas”. O temporal afetou quase 400 mil pessoas, deixou 22 mil desalojados e 5 mil desabrigados.