O feriado da Páscoa é, tradicionalmente, um dos melhores momentos para o turismo no Paraná. Neste ano, em que são poucos os feriados prolongados (no ano passado foram onze, neste serão apenas quatro), a data fica ainda mais importante. Foz do Iguaçu, por exemplo, prevê que a movimentação turística cresça novamente no período como já aconteceu no ano passado, quando o número de visitantes registrou 23% de aumento sobre 2017.
Apenas no Parque Nacional do Iguaçu, o único a manter registros da entrada de turistas, foram 26,1 mil visitantes em 2017 e 32,2 mil no ano passado. No parque estão as Cataratas do Iguaçu, o principal atrativo turístico paranaense. Além disso, o que mais emplaca por aqui são os destinos culturais e religiosos, cada um com uma fatia de 22% da movimentação do setor.
Embora as viagens no período da Páscoa não tenham, necessariamente, motivação religiosa, diversos destinos no Paraná oferecem atrações relacionadas com a celebração, como algumas comunidades de imigrantes instaladas em Curitiba. Tanto ucranianos como poloneses, majoritariamente católicos, têm uma relação especial com a data, quando realizam a bênção dos alimentos, entre muitos rituais.
Está na imigração também a fonte de outros roteiros, como o município de Prudentópolis (207 km de Curitiba), onde as mais de 100 igrejas, quase todas ao estilo bizantino, disputam com as inúmeras cachoeiras e cânions a atração de turistas. Ali, um museu e os bordados coloridos remetem à história da chegada dos imigrantes ucranianos a partir do final do século 19. Na ricamente decorada Igreja de São Josafat, tombada pelo Estado, a celebração litúrgica ainda segue o Rito Oriental Ucraíno-Católico.
HERMANOS – Para Foz do Iguaçu, a Páscoa tem significado especial porque os países vizinhos, principalmente o Uruguai, têm por tradição fazer da nossa Semana Santa um período de folga nacional. Para alegria do setor, os hermanos inflam as estatísticas locais. E neste ano, de acordo com o diretor executivo do Visit Iguassu (antigo Convention Bureau), Basileu Tavares, a expectativa é ainda maior, porque as notícias são boas desde janeiro. No Carnaval, por exemplo, a previsão era de 35 mil turistas e o número chegou a 40 mil.
Mesmo em Foz, com tantas atrações turísticas, quem faz questão do sentido religioso neste período tem passeios que contemplam algumas crenças. Entre eles, uma das principais mesquitas da América Latina, a Omar Ibn Al-Khatab, aberta
à visitação pública, que oferece inclusive serviços de guias e outras orientações sobre a fé muçulmana.
Outro passeio que atrai muitos turistas é o Templo Budista Chen Tien, de beleza impressionante. Num jardim com 120 estátuas e muito silêncio, destaca-se a réplica de concreto do Buda sentado Mi La Pu-San, de 7 metros de altura. Ali não há explicações ou panfletos, por determinação do governo chinês, que não permite proselitismo religioso.
Seguindo esta linha, o mosteiro dos monges beneditinos Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa (a 115 km de Curitiba), oferece até hospedagem, desde que agendada – são 12 vagas, também disponíveis para retiros e atendimento espiritual – e uma loja com produtos religiosos e alimentícios, produzidos pelos monges. De quebra, o visitante pode se deleitar com apresentações de Canto Gregoriano em português em sete horários diários.
Se o turista não entendeu a missa de Prudentópolis rezada em ucraniano, dá para tentar o culto menonita feito em alemão, na pequena Colônica Witmarsum, em Palmeira (60 quilômetros de Curitiba). Com 1,5 mil habitantes, o local preserva todas as referências à cultura alemã, desde a religião até o idioma, sem contar com a culinária típica das tortas e salsichas; dos eisbein (joelho de porco) e chucrute ao marreco recheado.
São muitas as atrações ao paladar, com confeitarias coloniais, restaurantes típicos, lojas de roupa e decoração, cervejarias, pousadas, ecoturismo e uma feirinha do produtor aos sábados pela manhã.
VIAJE PARANÁ – No Estado, o turismo é uma prioridade da atual gestão, por ser um importante pilar de desenvolvimento econômico. O levantamento mais recente da Paraná Turismo mostra que cerca de 16 milhões de pessoas se deslocam pelo Estado por ano.
Para aumentar esse número, o governo do Estado criou uma campanha publicitária divulgando os destinos mais tradicionais do Paraná, com opções para todos os gostos. Os atrativos e informações turísticas de municípios paranaenses estão disponíveis em um portal exclusivo (www.viajeparana.com). As ações incluem também a divulgação de atrativos em painéis fixados no mobiliário urbano.
A ideia é ampliar o trânsito interno de turistas, fazendo com que os paranaenses conheçam as atrações do Estado, e também atrair visitantes de estados e países vizinhos, como São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Argentina e Paraguai.
“A cadeia do turismo é ampla, capaz de gerar muita riqueza para o Estado, fomentando a economia local”, avalia o governador Carlos Massa Ratinho Junior. Ele lembra que os empregos gerados se espalham pelas áreas da alimentação, hospedagem, transporte, comércio e serviços. “Queremos fazer com que o Paraná seja um grande protagonista do turismo brasileiro”, destaca.
DADOS – De acordo com o diretor de Planejamento e Gestão da Fecomércio, Rodrigo Rosalem, o setor de turismo não dispõe de muitos indicadores precisos, porque é bastante transversal e inclui setores não exclusivos, como alimentação e transporte. É difícil separar, mas é o que o chamado G5 está se dedicando a obter.
O grupo, formado em novembro de 2018, reúne o Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação (Seha), a Associação Brasileira dos Agentes de Viagem seção Paraná (Abav-PR), Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Paraná (Abih), além da Fecomércio. Essas entidades pretendem criar um conjunto de indicadores capazes de traduzir com alguma precisão a amplitude do setor turístico no Paraná, calculado em algo entre 6% a 7% do PIB.
EM CURITIBA – Para quem faz questão do sentido religioso na época da Páscoa, o Paraná oferece uma série de roteiros que permitem passeios por igrejas, grutas e outros locais sagrados a partir de algumas das principais cidades do Paraná.
Em Curitiba, a tradição já incorporou a celebração da Páscoa dos poloneses e dos ucranianos, que levam a sério a preservação da cultura da pátria-mãe. A Swieconka, ou Páscoa Polonesa, é realizada todos os anos no Memorial da Imigração Polonesa, que fica no Bosque do Papa, dedicado a João Paulo II em 1980, quando de sua visita à cidade.
A coordenadora do espaço, Danuta Lisicki de Abreu, conta que a festa acontece no Sábado de Aleluia, com abertura às 14 horas pela Banda Lira. As apresentações de grupos folclóricos se sucedem por toda a tarde, acompanhadas de barracas de artesanato e comidas típicas. O ponto alto é a cerimônia da bênção dos alimentos, tradição dividida com a comunidade ucraniana. No Bosque, será realizada às 16 horas.
O costume é que as pessoas levem uma cesta com alguns alimentos especiais, como pães, broa, sal, pimenta e mel, cada qual com seu significado; um bolo chamado bábka, com ervas e frutas; carne defumada e um carneirinho de manteiga. Não podem faltar um ramo de murta e as pêssankas, os ovos cozidos que serão comidos no dia seguinte, ricamente decorados nos sete dias anteriores à Páscoa com texturas naturais, feitas de beterraba e cebola, por exemplo, fixadas com cera de abelha.
A tradição dos ovos e das cestas é compartilhada com os ucranianos, que fazem sua Páscoa no Parque Tingui. Quando pintados com outras tintas e mais elaboração, cheia de significados, entre eles de proteção e longevidade, os ovos são vendidos como artesanato e se tornam um belo presente para amigos e familiares.
A cesta dos ucranianos é igual, mas eles colocam mais itens dentro dela. Um deles é essencial: a Paská, um pão especial, preparado com levedura doce, rico em ovos e manteiga, decorado com uma trança de massa e uma cruz no centro para lembrar a Paixão de Cristo. A cesta abençoada será degustada no café da manhã do domingo de Páscoa.
GRUTAS E MONGES – Na Lapa, cidade histórica a 80 quilômetros de Curitiba, a Gruta do Monge é local de peregrinação durante todo o ano. A figura do monge aparece várias vezes na história local, a partir de 1844, e os caboclos acreditavam tratar-se de uma só pessoa, que chegaria então a 180 anos de idade. Entre os três mais famosos, está o que liderou a rebelião do Contestado já no início do século 20.
Mas a gruta é dedicada a João Maria Agostini, um dos monges que perambulou pela região. Segundo a crença popular, ele curava doentes e abençoava fontes de água, que se tornavam milagrosas. A gruta atrai até mil pessoas num único fim de semana, em busca da água dita milagrosa. O local foi transformado em Parque Estadual em 1960, e hoje oferece estrutura básicapara a visitação, como banheiros, restaurantes e churrasqueiras.
Para os católicos, várias cidades do interior têm suas próprias grutas e outros monumentos religiosos, visitados especialmente nesta época. Um exemplo é o Morro do Calvário em Francisco Beltrão (470 km de Curitiba), onde fiéis percorrem a via sacra até a imagem do Cristo Redentor para pagar promessas ou agradecer milagres.
A 500 quilômetros da Capital, na cidade de Barracão, na fronteira com a Argentina, é centro de peregrinação a Gruta de Santa Emília de Rodat, também considerada milagrosa. O passeio inclui um caminho agradável com cascatas e riachos, que atraem cerca de 5 mil visitantes por ano. Em Jaguariaíva (232 km de Curitiba), existe a Serra Velha ou Santa do Paredão, onde peregrinos acreditam ver a imagem de uma santa.
Em Antonio Olinto (142 km de Curitiba), o ícone de Nossa Senhora trazido da Ucrânia, bordado com pedras preciosas, é motivo de romarias entre os descendentes de ucranianos. Entre as pedras usadas está o coral, o que provocou a mudança do nome da santa para Nossa Senhora dos Corais, padroeira dessa etnia no Brasil. O ícone está numa igreja de arquitetura bizantina erguida em madeira de imbuia, toda decorada com desenhos que narram a história do povo ucraniano.
Sobre a cidade de União da Vitória (242 km de Curitiba) paira a estátua do Sagrado Coração de Jesus, num morro a 928 metros acima do nível do mar. Uma escadaria de 219 degraus leva à estátua de 27 metros de altura, fixada sobre um pedestal de 6 metros, que abriga uma capela. Depois de rezar é impossível não se maravilhar com a vista das chamadas cidades-gêmeas do Iguaçu – União da Vitória, no Paraná, e Porto União, em Santa Catarina, separadas e unidas pelo Rio Iguaçu, que deságua no Rio Paraná para formar as cataratas em Foz do Iguaçu.