Arrastões contra
dengue revertem
epidemia em municípios

No Paraná, um trabalho articulado pela Secretaria de Estado da Saúde para a detecção e remoção dos criadouros principais do mosquito está ajudando a reverter o número de casos em municípios em que a doença já era epidêmica.
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09/03/2020 - 09:10
Editoria

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Eliminar os focos do Aedes aegypti é a melhor alternativa para diminuir os casos de dengue. No Paraná, um trabalho articulado pela Secretaria de Estado da Saúde para a detecção e remoção dos criadouros principais do mosquito está ajudando a reverter o número de casos em municípios em que a doença já era epidêmica.

A pedido das prefeituras, técnicos da secretaria estão prestando orientações e fazendo a remoção mecânica dos criadouros, que muitas vezes são difíceis de serem identificados pelas equipes sanitárias dos municípios. De acordo com o boletim divulgado na terça-feira (03), 106 municípios do Paraná estão em epidemia de dengue. Com 44.441 casos confirmados – uma incidência de 336,21 por 100 mil habitantes – a situação no Estado também passou para o patamar de epidemia.

“Faço um apelo a todos os secretários e prefeitos a combater a dengue de forma incisiva. O mosquito está evoluindo, se tornou resistente aos pesticidas. O combate é questão de higiene, de manter nossos quintais livres do acúmulo de água”, afirmou o governador Carlos Massa Ratinho Junior.

FORÇA-TAREFA – Entre dezembro e fevereiro, uma força-tarefa foi feita simultaneamente em Nova Cantu, Quinta do Sol (Centro-Oeste) e Florestópolis, na região Norte, reunindo técnicos do Estado e dos municípios, agentes de endemias e comunitários de saúde. Nesta semana e na próxima, os profissionais promovem uma força-tarefa em Barbosa Ferraz, no Noroeste.

“O trabalho de campo, para identificar os criadouros dos mosquitos, é feito pela gestão municipal. A secretaria intervém quando o município pede apoio porque não consegue encontrar uma solução”, explica Ivana Belmonte, coordenadora de Vigilância Ambiental da Saúde. “Não existe milagre, é necessário remover tudo que possa se tornar um foco de dengue”, diz.

Poços antigos para retirada de água, fossas sépticas, lixo acumulado no quintal, lages, calhas, piscinas e qualquer objeto que acumule água devem ser levados em conta. “O mosquito se adaptou e já não se cria apenas em água limpa. Identificamos mais 70 fossas que eram criadouros do Aedes”, diz Ivana. “As fossas precisam ser fechadas corretamente e feito um respiradouro, que precisa ser telado para o mosquito não entrar. Nos poços antigos, a solução é vedar, aterrar ou aplicar larvicida”.

VARREDURA – Os profissionais fizeram uma varredura nas cidades para identificar os possíveis focos do mosquito. Em Nova Cantu, os novos casos de dengue não paravam de subir, apesar de a cidade ter o índice de infestação sobre controle. O município chegou a ter 589 pessoas infectadas, cerca de 11% da população de Nova Cantu, que tem 5.550 habitantes.

Após uma vistoria em todas as casas e edificações públicas, a Secretaria da Saúde percebeu um grande número de residências antigas, que poderiam abrigar poços para a retirada de água. “Foram encontrados 12 poços domésticos, que não tinham chamado a atenção das equipes que fazem o monitoramento. Cada poço pode criar mosquitos suficientes para infestar um quarteirão inteiro”, explica Ivana.

Com a eliminação desses focos, vedando, aterrando ou aplicando larvicida, a epidemia foi revertida. Desde o final de janeiro, nenhum novo caso de dengue foi notificado pelo município.

BARBOSA FERRAZ – Em Barbosa Ferraz, profissionais do Estado, do município e da 11a Regional de Saúde, de Campo Mourão, estão percorrendo a cidade toda atrás de criadouros. Foram encontrados cerca de 20 poços e fossas com focos do mosquito. Os poços estão sendo aterrados e as fossas recebem uma tela para evitar a entrada e, consequentemente, a procriação do Aedes.

De acordo com o secretário municipal da Saúde, José Diogo Coneglian, mais de 2 mil casos foram notificados e 1,6 mil confirmados na cidade, de cerca de 12 mil habitantes. “Nossa situação é peculiar porque temos os dois tipos da doença circulando e pelo menos 10% da população foi infectada”, conta.

“Procuramos o auxílio direto da Secretaria Estadual para reverter essa situação e já conseguimos eliminar alguns focos. Mas ainda faremos um arrastão investigando todas as residências. Espero que já na semana que vem os casos da doença diminuam”, afirma.

O município também aposta no controle biológico do mosquito. A Secretaria Municipal de Agricultura, Turismo e Meio Ambiente, com o apoio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater e outros parceiros, está capturando alevinos de lambari no Lago do Parque Verde Vida e soltando em locais de proliferação do mosquito identificados pela Secretaria Municipal da Saúde. Os alevinos se alimentam das larvas, evitando que elas cheguem à fase adulta.

QUINTA DO SOL – Em Quinta do Sol, a prefeitura aliou o trabalho de conscientização da população com um pente-fino nos quintais de todas as residências, também em parceria com a Secretaria estadual da Saúde. “Contratamos um pessoal especializado para fazer esse corpo a corpo todos os dias da semana”, afirma o secretário municipal de Saúde, Lucas Florêncio de Almeida.

“Cerca de 90% dos problemas estavam nos quintais, que em uma primeira vista pareciam tranquilos, mas uma investigação mais profunda apontava pequenos vacilos, como uma vasilha, um pratinho do bicho de estimação”, diz Almeida.

Com isso, o número de pessoas doentes caiu significativamente. “Esse trabalho fez uma grande diferença. Chegamos a notificar até 50 casos por dia e, na última semana, foram apenas dois”, afirma. “Destaque também para o trabalho interno das equipes de médicos e de enfermagem das unidades de saúde. Quinta do Sol chegou a liderar os casos de dengue do Paraná, mas não tivemos nenhum óbito”.

ORIENTAÇÃO – O apoio técnico da Secretaria de Estado da Saúde passa pela orientação e capacitação dos agentes de endemias municipais e comunitários. Em abril, a Escola de Saúde Pública do Paraná vai lançar um curso de educação a distância para formar os profissionais que vão atuar nessa área.

Além disso, a orientação da secretaria é que a vigilância aos criadouros do mosquito continue mesmo com a reversão da epidemia. “Não pode relaxar depois. As epidemias estouram quando o mosquito está adulto, mas os ovos do Aedes duram um ano no ambiente. Por isso, é preciso eliminar constantemente os criadouros, mesmo no inverno, para que o mosquito não se desenvolva até a fase adulta”, explica o médico Enéias Cordeiro de Souza Filho, da Divisão de Doenças Transmitida por Vetor da Secretaria da Saúde.

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