Com quatro meses de implantação, o Programa Escola Segura coleciona sucessos no Paraná. Alunos, pais, professores e diretores, além dos próprios policiais que atuam no projeto, comemoram os bons resultados da iniciativa, lançada em maio pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior.
Espalhado por nove cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), Londrina e Foz do Iguaçu, o programa reúne ações da Secretaria de Educação e Esporte e Secretaria da Segurança Pública para garantir um ambiente escolar mais saudável e seguro.
O programa mudou consideravelmente a rotina no colégio Lindaura R. Lucas, em São José dos Pinhais. Professora de história, Roseli Batista Luiz destaca o efeito dentro da sala de aula. “Os alunos respeitam porque sabem que tem uma pessoa a mais para nos ajudar a orientar”, afirma. “Tem alguém colocando respeito, mostrando segurança para pais, professores e funcionários”, complementa Silvestre Costa, professor de matemática.
Responsável pela vigilância da escola no turno da manhã e início da tarde, o Cabo Garcia ganhou uma espécie de fã clube no colégio. É comum ver o policial cercado por alunos em busca de orientação ou mesmo de uma conversa amiga antes de o sinal chamar para a sala de aula.
“Ele é bem legal, um amigo que nos traz uma sensação de segurança bem maior”, diz Natália Vernek, 13 anos, que cursa o 6º ano. “Conversa, orienta e cuida para que os alunos não saiam para fora da escola”, completa Matheus Felipe da Silva Veloso, 12 anos, também do 6º ano. Foz a primeira cidade a receber o Escola Segura. Nos colégios contemplados pelo programa já foi possível verificar uma drástica redução nos índices de violência.
Velcir Junior Vonz, diretor do colégio Flávio Warken, explica que o programa trouxe benefícios internos e externos. “Os policiais têm nos ajudado bastante. Dentro da escola, percebemos uma maior organização e disciplina. Fora, a diminuição de ocorrências, inibindo o acesso de pessoas estranhas”, afirma.
Sensação de bem-estar e segurança repartida com os pais dos alunos. Marcio Teixeira, pai de um estudante do 7° ano do Flávio Warken, costuma deixar o filho todos os dias em frente à escola. Ele confirma as mudanças verificadas nos últimos meses nos arredores do centro educacional que atende 1.530 alunos. “Volto para casa com a sensação de segurança, de que nenhum estranho estará por ali”, afirma.
LONDRINA – Selecionada por ser a segunda maior cidade do Estado, Londrina tem 18 escolas contempladas pelo programa, com o apoio de 39 militares. Uma delas é o Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera. Aluno do 8º ano vespertino, Paulo César Boleto conta que o primeiro impacto sentido foi o fim das confusões nos horários de saída e entrada para as aulas. “Acabaram as brigas. Agora vivemos um clima de verdadeira paz”, diz. O diretor do mesmo colégio, Norberto Giacomini, revela que esse clima de tranquilidade atinge também o corpo docente. “Todos se sentem mais seguros, protegidos dentro do local de trabalho”, afirma.
REGIÃO METROPOLITANA – O Escola Segura foi implantado oficialmente nos arredores de Curitiba no começo deste mês. Quarenta colégios estaduais de Pinhais, São José dos Pinhais, Piraquara, Almirante Tamandaré, Colombo, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Campina Grande do Sul e Araucária contam atualmente com o suporte de 78 policiais militares.
Piraquara tem cinco escolas no projeto. Entre elas, o Colégio Ivanete Martins de Souza, que viu os benefícios do programa se estender para a vizinhança. Proprietário de um pequeno comércio em frente a unidade e morador do bairro há 42, Jorli Lima da Silva diz que finalmente encontrou a paz. “Acabou com o costume daquele pessoal que ficava na rua aprontando. Todos nos sentimos mais seguros e confortáveis”.
Sensação compartilhada pela ambulante Vanilda Cândida Cordeiro, que há seis anos ganha a vida vendendo doces e salgadinhos na saída do colégio. “Antes vivíamos amedrontados com a presença de drogados, que chegavam a usar aqui em frente à minha banca. Prejudicava o comércio e gerava medo. Somente a presença do policial acabou com isso”, revela.
Calmaria que se reflete também do portão para dentro do centro de educação, conta a estudante Silvia Fernandes de Oliveira, de 13 anos, aluna da 8ª série. “Qualquer um pulava o muro e ficava apavorando lá dentro. Agora isso nunca mais aconteceu”, diz. “Eles pensam antes de fazer. Veem o policial e ficam inibidos”, completa Adriana Cristina Marques, que há 13 anos atua como inspetora no Ivanete Martins de Souza.
ARAUCÁRIA – Motorista de um aplicativo de transporte, Edmilson Afonso Borges conta que ficou espantado quando conheceu o programa e a estrutura oferecida pelo Colégio Estadual Marilze da Luz Brand. “Estou há um ano em Araucária. Lá em São Paulo, onde eu morava, não tinha visto algo semelhante, uma escola extremamente segura”, afirma. Opinião compartilhada pela filha, Rafaella Borges, aluna do 2º ano do ensino médio. “Me sinto segura. Sei que se acontecer alguma coisa, tenho a quem recorrer.”
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Cabo tinha o sonho de ajudar a juventude
O cabo Marcelo José Fagundes de Oliveira trocou a aposentadoria que já durava cinco anos para voltar a usar a farda de policial militar e cuidar da segurança do Colégio Estadual Arnaldo F. Busato, em Pinhais, dentro do Programa Escola Segura.
Ele conta que ajudar a comunidade era um desejo antigo. “Sonhei um dia que estava dando uma palestra, mas não era uma igreja, era em uma sala de aula. Agora o sonho virou realidade”, diz. “O policial é cercado estigmas, que aqui conseguimos quebrar com a convivência, colaborando com a juventude”, completa.
A escola de Pinhais atende 800 alunos por turno. “Achei bacana a iniciativa. Temos menos gente lá fora, menos brigas e mais segurança”, afirma Maria Eduarda de Melo, do 9º ano.
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Trabalho integrado melhora ambiente escolar
O programa Escola Segura prevê a integração entre o corpo pedagógico das escolas e os policiais. “É um compromisso que tiramos do papel. Nossos policiais ficam nas portas das escolas para cuidar dos alunos, dos professores e dar tranquilidade para os pais”, destacou Ratinho Junior.
O programa é executado por policiais que estavam na reserva e se inscreveram em um edital, passaram por uma seleção para confirmar se atendiam os critérios, além de testes físicos e psicológicos. Eles também participaram de um curso de aperfeiçoamento de 20 horas.
Com o programa, o Estado mantém policiais militares da reserva nos colégios estaduais em dois turnos: das 7h às 15h e das 15h às 23h. Cada escola conta com a presença de dois policiais voluntários. O programa já está implantado em 71 colégios estaduais e conta com a atuação de 126 PMs.
O trabalho é um complemento às atividades preventivas desempenhadas pelo Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária (BPEC), unidade responsável pelo treinamento dos policiais militares voluntários e que coordena o trabalho do projeto nos colégios estaduais. “Os policiais são selecionados e treinados para trabalharem integrados com os diretores e o time pedagógico da escola”, disse o secretário de Estado da Educação e do Esporte, Renato Feder.