Superação marca a trajetória de professora de adultos privados de liberdade no Paraná

09/09/2019
Sempre que começa uma empreitada, a professora Jane Cleide Alves Hir, de 64 anos, agradece à avó paterna, que foi a responsável pelo gosto pela leitura e pelo ensinar de Jane. Filha de nordestinos que migraram para a periferia do Rio de Janeiro, a mais velha de 14 irmãos se casou aos 16 anos, letrada e leitora, mas sem nenhuma escolaridade formal. Até os 30 anos de idade, Jane nunca tinha pisado em uma sala de aula. Hoje, é mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná e professora de adultos privados de liberdade, no Ceebja, o Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, Doutor Mário Faraco, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. É o maior e mais antigo Ceebja do sistema prisional paranaense. Na infância e adolescência, a professora lia grandes clássicos da literatura brasileira, em especial os de José de Alencar, e tinha como hobbies ler revistas como Manchete e O Cruzeiro. Jane conta que foi alfabetizada e aprendeu as operações matemáticas em casa, com a avó, que só estudou até o segundo ano do primário. De acordo com a professora, a avó dela alfabetizou o bairro inteiro onde moravam.// SONORA JANE CLEIDE ALVES HIR//Como muitos alunos da Educação de Jovens e Adultos, ela tentou estudar, mas por questões familiares, horários que não batiam, distância e falta de transporte, acabou abandonando. Após fazer vários testes de reclassificação, sem ter noção do tanto que já sabia por conta das aulas da avó e como autodidata, ela precisou cursar apenas um ano do ensino básico e decidiu se inscrever no curso de Magistério. Hoje professora de adultos privados de liberdade, Jane elege a acolhida como princípio básico da educação. Ela relaciona a prática com uma história que gosta de contar.// SONORA JANE CLEIDE ALVES HIR//Na capital paranaense, Jane cursou Letras, trabalhou na Educação municipal e passou em concurso da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte, atuando com o Ensino Médio. Antes, também deu aula para turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, em escolas particulares. No Ceebja Doutor Mário Faraco, no Complexo Prisional de Piraquara, ela trabalha com a chamada Fase I da Educação de Jovens e Adultos. Junto com as aulas, a professora desenvolve projetos de escrita com os alunos e no ano passado, idealizou o projeto “A Escrita que Mora em Mim”, um conjunto de poemas e pequenas histórias autorais de alunas do presídio feminino. A professora destacam ainda, a diferença entre trabalhar na educação prisional e no ensino regular.// SONORA JANE CLEIDE ALVES HIR//O Paraná garante acesso à alfabetização, à escolarização básica e à formação superior a cerca de 36% dos presos que cumprem pena nas 33 unidades prisionais do estado. Na Unidade de Progressão da Penitenciária Central do Estado, os 288 presos estudam e trabalham. A unidade já foi considerada pela Organização dos Estados Americanos um modelo em tratamento penal. Eles têm a oportunidade de se alfabetizar, concluir o Ensino Fundamental e Médio, e ingressar no Ensino Superior. A cada 12 horas de estudos, os presos têm um dia a menos de pena para cumprir, e a cada livro lido, são quatro dias a menos de pena. É preciso fazer um resumo e uma análise crítica da obra, avaliada pelo professor. (Repórter: Priscila Paganotto)