Estudo feito pelo Iapar e pela UEL analisa três décadas de mudanças na cafeicultura brasileira

16/08/2019
A cadeia produtiva de café passou por uma grave crise no final do século passado, com reflexos que são percebidos até hoje. O colapso do Acordo Internacional do Café, em 1989, e a extinção do Instituto Brasileiro do Café, em 1990, deram fim ao modelo de políticas regulatórias que vigorava desde o Século 19. Para entender os impactos dessas mudanças, pesquisadores do Iapar, o Instituto Agronômico do Paraná, e da UEL, a Universidade Estadual de Londrina, estudaram a evolução da cafeicultura ao longo de 30 anos, até 2015. O resultado do trabalho foi divulgado em um artigo no periódico PlosOne, uma revista científica on-line de acesso livre. Os autores tiveram como base o levantamento Produção Agrícola Municipal, feito todo ano pelo IBGE, e aplicaram ferramentas estatísticas para analisar dados sobre produção, produtividade, área ocupada pela cultura, espécie cultivada, preço internacional, valor bruto de produção e uso de crédito. Segundo o estudo, não houve grande alteração no número de microrregiões especializadas em café, mas sim na distribuição do produto. Paraná e São Paulo perderam a liderança na produção, posição que passou a ser ocupada por Minas Gerais e Espírito Santo. Já Rondônia, Bahia e Ceará passaram a figurar como produtores. O economista e pesquisador do Iapar, Tiago Santos Telles, explica que o principal objetivo do estudo foi conhecer a dinâmica das microrregiões produtoras de café após a desregulamentação do comércio.// SONORA TIAGO SANTOS TELLES//Em 1962, foi assinado o Acordo Internacional do Café, que definia mecanismos de cooperação técnica e critérios econômicos para o comércio do produto, com base em cotas. Um ano depois foi criada a Organização Internacional do Café. Esse acordo foi renovado diversas vezes, mas em 89 os países não se entenderam. O sistema de cotas de exportação entrou em colapso e, pela primeira vez na história, o comércio do grão foi desregulamentado. Em meados do Século 19, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de café e também começaram as políticas de governo para regular a oferta do produto. Ao longo dos anos, em diferentes momentos, foram adotadas medidas como a proibição de novos plantios, compra para formação de estoques reguladores, erradicação de cafezais e até destruição de parte das safras. Das 102 microrregiões especializadas na produção de café constatadas em 1984, restaram 90, em 2015. O estudo identificou o cultivo de arábica em 66 delas, conilon em 13 e de ambas as espécies nas 11 microrregiões. O pesquisador e economista Tiago Telles aponta que esses resultados revelam como a produção brasileira se reorganizou, diante da reacomodação dos agentes internacionais na formação dos preços e na estratégia adotada pelo Brasil para o setor.// SONORA TIAGO SANTOS TELLES//Ao todo, 4 pesquisadores assinaram o artigo publicado sobre o tema. O texto completo, em inglês, pode ser acessado no site journals.plos.org. (Repórter: Priscila Paganotto)