Com plantio que atravessa gerações, produção de poncã é a marca de Cerro Azul

23/08/2021
A geografia e o clima do Vale do Ribeira, com um horizonte cheio de morros e a amplitude térmica que intercala o calor do dia com o friozinho da noite, trouxeram um sabor único e marcante à poncã de Cerro Azul. Tanto que a fruta se tornou uma das grandes marcas do município, maior produtor nacional do cítrico, responsável por 10% das tangerinas produzidas no País. As várias plantações, com árvores cheias de frutos amarelos, dão inclusive um charme a mais à bela paisagem da cidade. A vocação do Vale do Ribeira para a citricultura, de Cerro Azul em especial, foi identificada muito cedo, ainda na época do Império, e atravessou gerações. No início, a predominância era da laranja, mas já faz cerca de 50 anos que a poncã ganhou as graças no cultivo. A rusticidade da planta, que não exige um manejo muito refinado ou o uso intensivo de agrotóxicos para o controle de pragas, pesou bastante nesse processo. O prefeito Patrik Magari salientou a tradição da região nessa cultura, e afirmou que o município já trabalha para conquistar a Indicação Geográfica, que determina que certo tipo de produto é encontrado somente naquele local.// SONORA PATRIK MAGARI.//

Segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, 80% da tangerina paranaense é colhida no Vale do Ribeira. O Estado é o segundo maior produtor do cítrico no Brasil, atrás apenas de São Paulo. As frutas são comercializadas principalmente na região de Curitiba, mas são destinadas também a outras regiões do Paraná e em estados vizinhos como Santa Catarina. Em Cerro Azul, a área plantada chegou a 3.280 hectares em 2019, quase a metade do cultivado no Estado, que contou com 7.210 hectares plantados. O município respondeu por 43% da produção, com uma colheita de 50.740 toneladas, e um Valor Bruto da Produção que atingiu 55 milhões e 900 mil reais. Muitas das propriedades do município revelam a tradição familiar da cultura das tangerinas. Agilson França, de 27 anos, faz parte da terceira geração de uma família de agricultores que tem a poncã como carro-chefe da produção, como ele mesmo explicou.// SONORA AGILSON FRANÇA.//

A propriedade de França, com cerca de 5 mil hectares, tem cerca de três mil e 600 pés de tangerinas e produz também mandioca, que é plantada junto com as árvores jovens da fruta cítrica enquanto elas ainda não estão produzindo. Assim como na família França, a produção de poncã está concentrada nas pequenas propriedades, conforme detalhou o secretário municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Luiz Paulus.// SONORA LUIZ PAULUS.//

As plantas de Agilson França, assim como de outros produtores de Cerro Azul, têm papel importante dentro de uma pesquisa que está sendo desenvolvida há cerca de um ano pelo IDR-Paraná, em parceria com a prefeitura e o Sebrae. O objetivo é usar o melhoramento genético para selecionar as plantas de mais qualidade e que se adaptam melhor às diferentes altitudes. Gustavo Hartmann, engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal da Agricultura, disse que as primeiras mudas desenvolvidas foram entregues no início de junho a 20 produtores, os mesmos que destinaram à pesquisa as borbulhas com o material genético de plantas já adaptadas à região.// SONORA GUSTAVO HARTMANN.//

A previsão é que o estudo se estenda por pelo menos mais cinco anos, para entender o comportamento e avaliar a estabilidade das plantas selecionadas. Além de Cerro Azul, o município vizinho de Doutor Ulysses, também no Vale do Ribeira, se destaca no cultivo de tangerina. Lá foram colhidas 32.450 toneladas em 2019, com VBP de 35 milhões e 700 mil reais. O cultivo está presente, ainda, em Rio Branco do Sul, Paranavaí, Itaperuçu, Londrina, Ângulo, Francisco Beltrão, Campo Largo, Castro, entre outros. A poncã de Cerro Azul faz parte da série de reportagens “Paraná que alimenta o mundo”, que pode ser acompanhada pelo site www.aen.pr.gov.br. (Repórter: Wyllian Soppa)