Com agricultura familiar, Tijucas do Sul lidera a produção de orgânicos no Paraná

19/07/2021
Como instrutor de auto-escola e costureira, o casal João Camilo Valter e Marineia Rosa Gaudino Valter levava uma vida sedentária em Joinville, Santa Catarina. Em busca de mais saúde, João Camilo começou a preparação para uma cirurgia bariátrica, e conversando com uma nutricionista ele percebeu que invariavelmente teria que mudar seus hábitos alimentares. Ele e a esposa passaram, então, a pensar em formas de ter uma qualidade de vida melhor, e em como fazer isso acontecer de fato. Segundo João Camilo, cada hábito da rotina dos dois, especialmente a alimentar, foi reavaliado.// SONORA JOÃO CAMILO.//

Em 2018, a família trocou sua casa por um terreno de 2,29 hectares em Tijucas do Sul, município da Região Metropolitana de Curitiba. Foi então que João Camilo e Marineia retomaram o trabalho de seus pais na roça, mas agregando valor ao cultivo através da produção de orgânicos. Tijucas do Sul é o município com mais produtores de orgânicos em todo o Paraná: são 197 agricultores certificados, cerca de 75 famílias. No Brasil, é o Paraná que detém a liderança, com 3.737 certificações. Os alimentos orgânicos são produzidos com uma metodologia que gera menos impacto ao meio ambiente, melhorando a qualidade de vida local. Para obter o selo de orgânico, o produtor precisa obter uma certificação, concedida por órgãos regulamentadores. Na prática, a produção é regida por uma série de regras, regulamentadas no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Dentre as características desse sistema de produção estão a proibição do uso de agrotóxicos e o uso responsável do solo, água e outros recursos naturais. O resultado são alimentos mais saudáveis para o consumo e para o ecossistema local. Para novos produtores, a transição da agricultura convencional para a orgânica pode levar de 12 a 18 meses, a depender da cultura. Para isso, os produtores de Tijucas do Sul contam com o auxílio técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná. Segundo Magnun Rodrigo da Silva, agrônomo e extensionista local do IDR-Paraná, a adaptação requer diversos cuidados.// SONORA MAGNUN RODRIGO.//

A produção em Tijucas do Sul é liderada por alface americana, brócolis, couve-flor e repolho. No entanto, outros cultivos também são expressivos: cenoura, beterraba, inhame, batata salsa, gengibre, ervilha, vagem, tomate, pimentão e pimenta cambuci. Em menor escala, também há produção de morango e uva. A saúde é vista como consequência tanto para o consumidor como para o produtor. Apenas com a mudança nos hábitos alimentares, em três anos João Camilo Valter perdeu mais de 20 quilos. Ele contou que a esposa também percebeu melhoria na qualidade de vida, e que isso não se restringe à questão da alimentação.// SONORA JOÃO CAMILO.//

Na propriedade familiar, de 1,6 hectares, o casal produz 25 opções de hortaliças, mas tem no brócolis e na cenoura o seu carro-chefe. A maior parte é vendida para a Região Metropolitana de Curitiba: além de atender uma cooperativa e algumas lojas de orgânicos, os produtores fazem entregas realizadas por e-commerce, mediadas por uma loja online. O casal tem planos de expansão, e pretende criar uma pequena agroindústria para comercializar temperos. O perfil dos produtores de orgânicos em Tijucas do Sul não é formado apenas pelas pequenas propriedades. Além de serem os maiores produtores da região, a marca Orgânicos do Sul é a pioneira do cultivo hoje tradicional na cidade. Flavio Henrique Setim, presidente da empresa, contou que o caso deles também começou graças a uma preocupação com a saúde. Os pais dele investiram na produção orgânica após o pai ter uma intoxicação pelo uso de defensivos agrícolas.// SONORA FLAVIO SETIM.//

Após quatro anos de produção, os pais de Flavio começaram uma industrialização da produção, passando a comercializar os produtos já embalados. Dois anos depois, criaram a marca Orgânicos do Sul. Hoje, com 23 funcionários, são mais de 60 hectares de terra que produzem uma média de cinco a oito mil bandejas de produtos por dia. O mix da marca possui 11 produtos, capitaneados por alface americana, brócolis, couve-flor e cenoura. A empresa atende diversas redes de supermercados em Curitiba, além de mercados em Santa Catarina e no Norte do Paraná. Para catapultar as vendas de pequenos produtores, desde 2017 o município também conta com uma cooperativa de orgânicos, a Coorgânicos, que conta com 69 associados. Só em 2020, a cooperativa vendeu um montante de 650 mil reais. O produtor e presidente da cooperativa, Lourival Pereira da Silva, explicou que a Coorgânicos participou, nos últimos dois anos, do Programa Nacional de Alimentação Escolar, e que o próximo passo é ampliar o alcance para o mercado em geral.// SONORA LOURIVAL PEREIRA.//

Como forma de estimular e facilitar a agricultura orgânica no Paraná, os produtores familiares do Estado podem participar do Programa Paraná Mais Orgânico. O projeto, desenvolvido pela Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, auxilia em todo o processo de conversão da agricultura convencional para a orgânica, desde o período de transição até a emissão do certificado e comercialização dos produtos. O intuito é reduzir os custos da certificação, um dos empecilhos para iniciar a atividade. Segundo o IDR-Paraná, o valor varia conforme o tipo de produção, área cultivada ou localização da propriedade, mas pode chegar a mil e 500 reais anuais. Com o programa, o processo é gratuito. A iniciativa é uma parceria da SETI com o IDR-Paraná, Tecpar, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento e as instituições estaduais de ensino superior. Para participar, o agricultor interessado deve entrar em contato com um dos núcleos do programa. (Repórter: Wyllian Soppa)