Cervos, araucárias e humanos: a pré-história do Paraná está nas paredes de Piraí do Sul

10/04/2024
Em 1956, o casal de arqueólogos franceses Annette Laming e Joseph Emperaire descreveu, em artigo publicado no Journal de la Société des américaniste, um desenho pintado com tinta vermelha que representa três animais caminhando em fila no chamado Abrigo das Cavernas, uma cavidade incrustada dentro da Escarpa Devoniana, no município de Piraí do Sul, nos Campos Gerais. A arqueóloga e pesquisadora do Museu Paranaense, Cláudia Parellada, explica que o desenho é uma espécie de certidão de nascimento da habitação humana no Paraná. // SONORA CLÁUDIA PARELLADA //

Até então, as pinturas de Piraí do Sul estavam fora do radar do casal e de toda comunidade científica. A situação começou a mudar graças a um morador local, Theófilo Pinto Ribeiro, proprietário de terras na região. Ele viu algo de familiar nas fotografias de uma reportagem da edição de janeiro de 1956 da revista Cruzeiro. As fotos de pinturas nas paredes eram tratadas como arte rupestre e lembravam muito algumas pinturas presentes em partes da fazenda do própria Theófilo. Intrigado, o produtor rural levou o assunto à prefeitura. A historiadora Cinara de Souza Gomes, sobrinha-neta de Theófilo e autora do livro “As Representações Geométricas e Zoomorfas da Tradição Planalto. A Arte nos Campos Gerais”, publicado pela Secretaria de Cultura em 2011, conta como aconteceu o contato com os arqueólogos franceses. // SONORA CINARA GOMES //

Depois do batismo dos franceses, Piraí do Sul se tornaria presença obrigatória para o estudo da arqueologia do Paraná. As missões oficiais teriam o apoio financeiro do Governo do Estado, por meio da Fundepar. Nas viagens, novas pinturas e indicativos da presença humana iam sendo encontrados. A partir da década de 90, uma nova geração de pesquisadores do Museu Paranaense e das universidades estaduais passou a trabalhar na região. Em fevereiro do ano passado, pesquisadores do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas, que reúne professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), publicaram um estudo sobre pinturas de araucárias. Foi a primeira vez que pesquisadores encontraram a representação da árvore, símbolo do Paraná, registrada como pintura rupestre. Pelo alto grau de detalhes das pinturas, o Grupo identificou que o painel pode ter sido elaborado pelos povos originários Macro-Jê, antepassados de comunidades indígenas presentes atualmente no Sul do Brasil, como os Kaingang e Xoclengues.Algumas dessas pinturas estão provavelmente relacionadas a grupos que habitavam o Estado há mais de 9 mil anos, como explica Claudia Parellada // SONORA CLAUDIA //

O trabalho dos arqueólogos ajuda a contar a história da presença humana em terras paranaenses. Segundo levantamento de Cláudia, o Paraná conta com mais de 400 sítios arqueológicas com pinturas rupestres e 50 com gravuras. Cerca de 90% delas estão na região cortada pela Escarpa Devoniana, nos Campos Gerais. (Repórter: Gabriel Ramos)